EDITORIAL

Paco de Lucía, o deus do flamenco!

Conhecemos pessoalmente Paco de Lucía em 2005, durante um jantar íntimo, que reuniu familiares e amigos, após o extraordinário concerto que deu em Castro Marim. A sua genialidade enquanto figura maior da guitarra flamenca merecia, de há muito, a nossa mais profunda admiração. Vê-lo tocar, ao vivo, foi um momento mágico. Paco era único. Os seus dedos voavam sobre as cordas com uma técnica e velocidade tais que, como dizia Manolo Sanlúcar, outro grande nome do flamenco, encantava o público menos entendido e enlouquecia os especialistas.

Acompanhávamos a carreira de Paco de Lucía e vibrávamos com o seu sucesso. Não, apenas, pelo seu virtuosismo mas, também, porque ele tinha sangue algarvio nas veias. A sua mãe, Luzia Gomes era natural de Castro Marim e Paco sempre teve grande afeição à sua famíla portuguesa e um sentimento muito especial pela terra natal da mãe, que visitava, muitas vezes, incógnito.

Conhecíamos os êxitos e a genialidade deste grande guitarrista. Para muitos, o deus do flamenco. Mas não conhecíamos a sua dimensão humana, embora nos chegassem ecos da sua generosidade e simplicidade.

Apresentados a Paco, pelo seu primo e nosso amigo, Carlos Corriente, nesse jantar pós-concerto, como pessoas muito íntimas dos seus familiares portugueses, sentimos em Paco de Lucía um prazer autêntico nesse encontro e uma imediata familiaridade no trato, que tivemos oportunidade de confirmar noutras ocasiões, particularmente num outro jantar que, anos depois, repetimos em Lisboa, após o concerto que deu no Coliseu dos Recreios.

Paco de Lucía tinha tanto de genial como de pessoa simples, que apreciava a vida, a família, os amigos e o convívio. A morte surpreendeu-o onde tinha casa e gostava de descansar do stress das longas digressões mundiais, que enchiam teatros e estádios. Na praia del Carmén, na província de Yucatan, México, enquanto brincava com os seus dois filhos menores, Antónia e Diego.

Infelizmente, o nosso país e, muito particularmente, o Algarve não só não souberam (ou não quiseram) tirar partido desta ascendência portuguesa de Paco de Lucía, como fator promocial e de valorização cultural, como não prestaram ao grande maestro do flamenco o tributo que este merecia. Com tantos milhões de euros que a Região de Turismo do Algarve gastou em festivais de música, nunca houve a vontade e o discernimento de o contratar. Não fora a iniciativa do então presidente do Município de Castro Marim, José Estevens, de trazer Paco à terra natal de sua mãe e nunca o Algarve teria podido apreciar a genialidade do grande guitarrista hispano-português.

Certamente, se tivesse sido ao invés, Andaluzia e Espanha não teriam deixado de tirar partido de um grande artista português, de ascendência andaluza.

Infelizmente, tem sido esta mesquinhez de espírito, tão típica de muitos dos nossos dirigentes, que nos tem reduzido à nossa pequenez.

Será que Paco de Lucía que recebeu o prémio Príncipe das Astúrias em 2004, não teria merecido uma distinção, por mais pequena que fosse, do Algarve e de Portugal? Por muito menos se têm feito outras homenagens.

A sua grandeza, a universalidade da sua arte, as suas raízes algarvias e um passado histórico comum, o Al-Andaluz, que foi, ao longo dos séculos, alfobre de grandes personalidades, justificavam que se tivesse, em vida, homenageado Paco de Lucía.

Aqui fica o nosso tributo ao grande artista e homem que foi.

Descansa em paz Paco. Os génios não morrem!
Fernando Reis

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