EDITORIAL

25 de Abril, sempre!

Apesar de um certo desencanto com o rumo a que foi conduzido o país, pela mão dos que estiveram ao leme, nestas quatro décadas de democracia, nunca umas eleições foram tão importantes como as Europeias do próximo mês de maio. E não o dizemos por acreditarmos que esta eleição vá alterar substancialmente a política da União Europeia, relativamente aos países mais pobres e em crise, como é o caso de Portugal. Como já o temos o afirmado, a Europa solidária e amiga que nos “venderam” quando nos quiseram convencer das virtudes e vantagens da nossa adesão à CEE, primeiro e à moeda única, depois, não existe. É pura ilusão.

Do nosso ponto de vista, as eleições de maio têm mais importância pelo que podem significar internamente, do que pelas suas hipotéticas consequências nas estâncias europeias. Já sabemos que o atual governo PSD-CDS não tem cultura democrática e, por isso, não tira conclusões dos resultados eleitorais, como é exemplo a sua atitude perante a histórica derrota sofrida nas últimas autárquicas. Enquanto António Guterres se demitiu na sequência de uma derrota do seu partido nas autárquicas e, recentemente, em França, François Holande, remodelou o governo na sequência da derrota dos socialistas nas municipais, em Portugal, Passos Coelho permaneceu como se nada tivesse acontecido, após a estrondosa derrota do seu partido nas autárquicas. E irá até ao fim do seu mandato, mesmo que volte a sofrer outra pesada derrota nas europeias. A maioria dos portugueses deu-lhe um mandato para governar com base num programa eleitoral que foi esquecido e em promessas, que não foram cumpridas. Numa ótica verdadeiramente democrática, qualquer ato eleitoral entre as legislativas funciona como um referendo à governação. Mas para Passos Coelho e Portas, não é assim. Os portugueses mostraram nas urnas que estão fartos deste governo, desta política de austeridade, que vai além das propostas da Troika e que tem conduzido cada vez mais portugueses à fome e à miséria e condenado os jovens à emigração. Mas eles continuam agarrados ao poder, a cumprir a missão que lhes foi confiada pelos grandes grupos económicos e a alta finança e, aconteça o que acontecer, não se demitem.

Ora, neste contexto, o efeito de uma derrota, mais que provável, nas europeias não terá as consequências políticas que teria se o governo e o presidente da República tivessem uma leitura democrática do voto popular. Mas não tendo esta consequência última e normal em democracia, é mais uma manifestação de desagrado da maioria dos portugueses pelo rumo da governação. É mais um grito de revolta contra esta austeridade, sem limites, que nos consome.

Decorridas quatro décadas sobre o 25 de Abril que, calorosa e entusiasticamente vivemos, e nos abriu as portas da esperança num futuro melhor, somos confrontados com um regresso à mais profunda e humilhante miséria. Hoje Portugal mais parece um país do terceiro mundo, com grande parte da sua soberania alienada, onde prolifera a corrupção, sem classe média com os ricos cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres. Vivemos num regime de “ditadura democrática” e de “ditadura dos mercados”.

E se isto só por si já é uma infâmia a todos os que lutaram e realizaram o 25 de Abril, particularmente o Movimento dos Capitães, e aos valores morais e democráticos que a data consubstancia, não podemos deixar de repudiar insidiosa ideia expressa por alguns, entre eles o “sabichão” dos comentadores televisivos, Miguel Sousa Tavares, que sugeriu esta semana, a propósito das comemorações do 25 de Abril, que o país tem é que olhar para a frente e deixar de estar agarrado ao simbolismo de datas como o 5 de Outubro e o 25 de Abril.

Infelizmente, o que ele e outros da sua estirpe parecem querer, é um país sem memória e sem história! Que tristeza! A esses nós respondemos, 25 de Abril sempre!

Fernando Reis

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