Em defesa dos nossos produtos
Os algarvios vivem hoje um clima de profunda crise, talvez a mais deprimente e angustiante da sua história. E isso obriga-nos a repensar o nosso caminho. O que se assistiu nas últimas três décadas foi à “submissão” do Algarve a uma única atividade – o turismo – que foi sem dúvida a nossa galinha dos ovos de ouro durante todos estes anos.
Mas a atual escalada galopante do desemprego, os sinais evidentes da fraqueza da nossa economia e as perspetivas de um futuro ainda mais negro e tenebroso mostram que, afinal, tem de existir “vida” para além do turismo.
E essa “vida” nunca deixou de existir, apenas foi esquecida e maltratada. O Algarve nunca foi um “deserto” e a prova disso é que aqui se produzem há muitos séculos alguns dos melhores produtos do mundo, muitos deles com selo de exclusividade regional. A batata-doce de Aljezur, as laranjas do Algarve, o mel e os enchidos de Monchique, a flor de sal, são apenas alguns dos produtos tradicionais da região, que são reconhecidos pela sua excelente qualidade, mas que, no entanto, ainda estão aquém das suas potencialidades. E é aqui que queremos chegar, pois é certo que quem mais sofre com a crise somos nós, mas também temos a nossa quota parte de responsabilidade ao não valorizarmos os nossos produtos. Isto porque, quando vamos às compras, nem sempre escolhemos produtos regionais e levamos para casa outros fabricados no estrangeiro. E não é assim que vamos comprar melhor nem mais barato, nem vamos estimular a produção dos nossos agricultores, ou ajudar a resolver a crise. Pelo contrário, vamos aumentar as importações e o resultado é… mais défice!
O exemplo dos vinhos algarvios é, porventura, o mais paradigmático: nos últimos três anos, os néctares produzidos na região “fartaram-se” de ganhar prémios em “provas cegas” aos seus rivais do Douro e Alentejo. Mas o marketing continua a falar mais alto e as vendas e a fama junto dos consumidores continuam longe do potencial. Moral da história: é fundamental que os algarvios apoiem a produção regional, pois sabem, melhor que ninguém, que da nossa terra não nascem só cogumelos de betão!