Tentou ajudar a “rapariga do sutiã azul” mas acabou por ser também espancada pelos militares – as imagens continuam a correr mundo. A CNN encontrou-a num hospital do Cairo, a tentar lutar pela vida
Durante os protestos do passado fim de semana, no Cairo, uma rapariga foi espancada pelos militares e as imagens acabaram por se tornar públicas . No mesmo vídeo, uma outra mulher tenta ajudá-la e acaba por ser também espancada. A CNN encontrou-a num hospital e exibe as consequências devastadoras da violência exercida pelos militares nos manifestantes egípcios.
“Ela era uma mulher com véu. Eles não paravam de lhe bater e eu tentei protegê-la. Começaram então a bater-nos às duas”, palavras de uma mulher brutalmente ferida, na cama de um hospital. O vídeo foi enviado à televisão norte-americana por um ativista dos Direitos Humanos, com um conjunto de fotografias que mostram as fraturas no crânio e os múltiplos ferimentos espalhados pelo corpo.
De acordo com os médicos, o estado da mulher, de 48 anos, está a piorar e ela terá de ser transferida para a unidade de cuidados intensivos. A equipa da CNN tentou conversar com ela mas sem sucesso, uma vez que está em total agonia no hospital. Da outra mulher que foi espancada pelos militares, ninguém sabe.
O jornal independente “Tahrir” publicou também recentemente uma foto de um militar que segurava uma mulher pelos cabelos enquanto um outro a ameaçava com um bastão. Na sequência das diversas imagens divulgadas, milhares de mulheres egípcias saíram à rua em protesto contra a violência.
Violência “desonra o Estado e não é digna de um grande povo”
O Exército reconheceu ter agredido uma manifestante com véu, arrastando-a sobre a calçada, ao ponto de pôr a descoberto o seu sutiã e a sua barriga e lamentou o sucedido. “O Conselho Supremo das Forças Armadas manifesta às mulheres do Egito profundo pesar pelos maus-tratos que ocorreram durante confrontos recentes em manifestações em frente ao Parlamento e à sede do Governo”, referem os militares em comunicado divulgado no Facebook.
A secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, afirmou na segunda-feira que se trata de acontecimentos “particularmente chocantes”, sendo que a forma como as mulheres são tratadas na revolução egípcia “desonra o Estado e não é digna de um grande povo”. A secretária de Estado dos EUA salientou que as mulheres egípcias, depois de se terem manifestado e assumido riscos para conseguir a saída do poder do antigo Presidente Hosni Mubarak, foram excluídas do processo político. A ONU também revelou a sua indignação.
Segundo o Conselho Supremo das Forças Armadas, serão adotadas medidas para que os autores das agressões sejam responsabilizados pelos abusos.
Paula Cosme Pinto (Rede Expresso)