Empresa portuguesa no desenvolvimento da primeira vacina contra a febre tifóide

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O mundo da biotecnologia constrói-se de passos muito pequenos. Em Portugal, uma empresa emanada do Instituto de Biologia Experimental e Tecnológica deu um gigante ao produzir a primeira vacina conjugada contra a febre tifóide.

A “inovação científica genuína” da GenIBET foi “construir um processo de fabrico para a vacina em larga escala”, explicou à Lusa o presidente executivo, António Duarte.

Ou seja, passar de uma “escala de dois litros”, no laboratório, para uma “escala de 50 litros”, que permita iniciar a produção industrial de um medicamento.

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“Aquilo que funciona na bancada não funciona necessariamente numa escala maior, e se não funciona numa escala maior não há vacina. Se fizéssemos só dois litros de cada vez, não havia maneira de colocar esse produto no mercado. Nem sequer é uma questão de rentabilidade, é uma questão de exequibilidade”, clarificou.

Criada em 2006, a GenIBET centra a sua actividade na produção de biofármacos – medicamentos produzidos por biotecnologia – para ensaios clínicos, permitindo que a investigação laboratorial possa ser testada em humanos no longo processo de ensaios que tem de atravessar um medicamento antes de ser comercializado.

É a única “empresa de biotecnologia farmacêutica em Portugal, com produção de biofármacos que já foram testados em seres humanos com sucesso” e esta capacidade de transformar o produto de investigação laboratorial em material suscetível de ser submetido a ensaios clínicos é, segundo António Duarte, “uma ferramenta incontornável para o desenvolvimento da biotecnologia” no país.

“As nossas empresas de biotecnologia vão ter princípios ativos e não tinham, até agora, em Portugal, qualquer unidade que lhes pudesse fazer este tipo de serviço para os ensaios clínicos. Este serviço é extremamente caro, e se for feito numa empresa no centro da Europa mais caro se torna”, explicitou.

A febre tifóide é uma doença infecciosa potencialmente mortal que prevalece nos países e regiões com mau saneamento básico, nomeadamente na Ásia, África, América Central e do Sul.

A associação da GenIBET ao desenvolvimento da primeira vacina conjugada contra esta doença que, se for bem sucedida em todos os ensaios clínicos, será única no mercado e passível de ser administrada a crianças, surgiu em 2008, devido a “uma pescadinha de rabo na boca”.

Nesse ano, a empresa estava em condições de iniciar a produção de biofármacos, mas necessitava de um certificado do Infarmed, a autoridade nacional para os medicamentos, que garantisse o cumprimento de todas as boas práticas de produção.

Porém, “para termos o certificado tínhamos de produzir, e sem termos o certificado não podíamos produzir”, relatou António Duarte.

Uma parceria com o Novartis Vaccines Institute for Global Health, um instituto sem fins lucrativos ligado à empresa farmacêutica Novartis, foi a possibilidade de avançar, pegando no antigénio já desenvolvido à escala laboratorial e produzi-lo à escala industrial.

“Para o nosso estádio, é [passar] do dia para a noite, nunca ter feito nada nesta área e passar a ter o primeiro biofármaco feito nesta área”, sublinhou o presidente executivo da GenIBET.

Porém, ressalvou, em matéria de biotecnologia Portugal está ainda na “fase embrionária”.

“É indubitável que foram feitos avanços” e “começa a haver um fermento muito maior do que havia”, mas “em termos de criarmos valor com investimento próprio na área da biotecnologia e exportarmos biotecnologia estamos a dar os primeiros passos”.

HM

*** Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico ***

JA/Lusa

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