Comunicando desportivamente: Orientar a agulha da bússola

Bússola que nos servirá para, ao encontro de personalidades de grande referência, quer na vida, como no desporto, produzirmos alguns breves “ensaios” que nos facultem a possibilidade de (melhor) sermos capazes de comunicar com os leitores do “Times” do Algarve.


Situemo-nos, enquanto “rampa de lançamento”, na definição de que a bússola é um antigo instrumento de localização, usada até aos dias de hoje, que serve para identificarmos a localização dos pontos cardeais e, consequentemente, localização dos pontos colaterais e subcolaterais, sendo que existem bússolas de dois tipos: as magnéticas (que se baseiam no polo norte magnético da Terra) e as solares (orientadas pelos pontos onde o sol se põe e nasce). As mais simples – porque de melhor compreensão – são as solares que fazem lembrar um relógio de sol, com uma haste vertical sobre uma superfície plana, correspondendo a que, por princípio, o sol sempre nasce no Leste e se põe no Oeste.


Contudo, face às limitações de uso das solares, como por exemplo quando não se tem a referência correta do nascer e pôr do sol, bem como as inviabilidades noturnas, as mais precisas são as bússolas magnéticas.


Queremos com esta “rampa de lançamento”, aproximarmo-nos, em termos comunicacionais, de quem esteja, enquanto grande referência, em condições de nos ajudar na orientação – agora mais no terreno real e objetivo -, para estabelecermos uma ponte de significação, com base em princípios e em valores e com convicções fortes, que nos permita obter verdadeira compreensão, a base das relações inter-pessoais.


Hoje com 84 anos, nascido na Amareleja, já condecorado com a Ordem do Infante D. Henrique, conceituado jornalista e escritor, Mário Zambujal, é o nosso “convidado” de honra para, em breves trechos nos dar a conhecer, sobretudo quem foi, é, e pelos tempos vindouros, continuará a ser.


Mário Zambujal, trabalhou na televisão e em jornais como A Bola, Diário de Lisboa e Diário de Notícias, em especial na área do desporto. Publicou vários livros de ficção, de que se destaca: “Crónica dos Bons Malandros”, em l980, que teve enorme sucesso e deu origem a uma longa-metragem de Fernando Lopes: “Histórias do Fim da Rua”, em 1983; “A Noite Logo se Vê”, em 1986, e Talismã em 2015, entre outros.


Entrevistado na última edição da revista “LUZ”, do semanário “Nascer do Sol”, Mário Zambujal, começa por nos transmitir como resolveu escrever, em 1980, a “Crónica dos Bons Malandros”: “Escrevi-o por duas razões. Primeiro porque não gosto muito de praia e estava num aldeamento turístico com a família, em Albufeira. Nas duas primeiras manhãs ainda fui para a praia mas depois… era muita areia, muito sol. Ao terceiro ou quarto dia disse: “Não. Fico em casa”. Fiquei em casa e tinha uma música no ouvido de uns amigos meus, porque eu escrevia muitas crónicas: “Pá, quando é que te resolves a escrever um livro?”.


E para ter originalidade, em vez do pensamento inicial de assaltar um banco, optou pela Gulbenkian, que nunca tinha sido assaltada nem se espera que seja, lá surgiu o estrondoso êxito que foi: “Crónica dos Bons Malandros”.


Dá-nos a saber, Mário Zambujal, que: “Não sou um tipo muito teimoso, muito menos pretensioso, mas tenho convicções fortes”.


Para ele: “um livro é uma história e tem que ter algum desembaraço no contar da história. Gosto de pormenores de natureza do trato mental das pessoas, da psicologia. Raramente defino um protagonista. Deixo que ele se defina por aquilo que vai fazer. Depois há também esta coisa: escrever livros é um ato solitário, com uma tremenda cortina negra que nos veda de quem serão os leitores e como vão reagir. “Isto que estou a fazer será só para pessoas iguais a mim?”. Interrogo-me sobre essa figura plural chamada público”.


Interrogado pela companheira Cláudia Sobral: “Do que é que tem mesmo mais saudades?”, Mário Zambujal, com uma já tão grande vivência, assume-se claramente: “Tenho saudades de mim. Tenho saudades desse tipo que eu era. Não mudei muito sob o ponto de vista de encarar a vida e as coisas, a não ser essa novidade de estar a envelhecer tudo que era novo no tempo em que eu era novo também. Não posso condenar o mundo porque evoluiu. Tenho que me culpar a mim que não acompanhei a evolução do mundo. No gosto e também na destreza e na sabedoria para o acompanhar. Eu não sei nada, em termos de online…”.


Mas, como é, continua a escrever os seus livros à mão?: “Escrevo os meus livros à mão. Depois passo-os para uma alma caridosa que mos passa a computador para entregar”.


Elucidativo! Assim como também refere que: “Tenho muitas coisas em que tenho o mesmo gosto da adolescência. Inclusivamente fumar. Comecei a fumar aos 13, para armar em homem, para as garinas. Dos 13 aos 84 é muito tabaco a arder”. Se é, de facto.
E nesta deliciosa entrevista, Cláudia Sobral, com tempo ainda para espicaçar o mestre, jornalista e escritor,: “Em que anda a trabalhar agora?” E, com aquele ar muito sui generis. que o caracteriza, dispara a resposta: “Eu ando a ver se não trabalho. Escrevo para aí uns contos, umas coisas. Aquilo que se chama trabalhar pressupõe um livro e é o tal livro que tenho mais ou menos na cabeça mas que não sei em que época instale aquela ação. Se situar uma história num passado distante não posso falar sobre as minhas opiniões e mágoas sobre este presente. O narrador tem que ser outro, tem que estar a ver outras coisas, não este trecho da vida em que estamos. Um trecho vertiginosamente inovador em muitas coisas, em que um tipo da minha idade se pode sentir perdido e ultrapassado e divertido por se sentir fora de cena. Estou fora de cena”. Remata, Mário Zambujal, com o pé mais à mão…


Não sem que, na ponta final, não nos revele que: “O meu computador não o abro há dois meses. Temos uma incompatiblidade: toco-lhe e o gajo avaria-se. Está muito desumanizada a vida”. Fechando com chave de ouro!


Convictamente ficamos com a clara ideia de que estamos na presença de um Navegador com bússola, que em muito faz consubstanciar em nós o pensamento de que não é pensando que somos, é sendo que pensamos!

Humberto Gomes
*“Embaixador para a Ética no Desporto”

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