Vai Andando Que Estou Chegando

Estou de volta!

O impulso foi dado não só porque se trata de participar na primeira edição no ano que agora começa, pelos desafios que temos de enfrentar e dos quais haveremos de continuar atentamente a seguir, mas também, fundamentalmente para partilhar o que foi comemorar o final do ano fora do País.

Com o avanço da idade a memória tende a estreitar-se. Bem sei que existem os privilegiados que a conservam, por inteiro, como se o tempo permanece-se eterno, mas não faço parte desse núcleo. Conservo a memória de factos longínquos que marcaram para sempre a minha forma de viver e observar o Mundo e os outros que nos rodeiam. Os acontecimentos diários esvaem-se de um momento a outro, ficando deles uma ténue lembrança a ocupar um espaço que de pronto se desvanece. Não guardo nenhuma lembrança de ter passado nos tempos mais próximo um final de ano fora do País, embora por diversas circunstâncias longínquas tal tenha ocorrido.

Mas este final de ano foi deveras singular produto dos caminhos diversos que a vida nos proporciona. Iniciamos as festividades com um almoço partilhado em conversa saborosa com dois amigos em torno das saborosas Tapas Minorquinas. Nada melhor para tal partilha num quarteto composto por uma “Negacionista” que não acreditava de todo nas vantagens da vacina contra o Covid prevendo que por detrás de tal descoberta estava uma conspiração mundial que nos conduziria a curto prazo a uma nova guerra.

Do lado contrário um Italiano, homem de esquerda que nos visitou poucos dias após o 25 de Abril, o que conduziu a mudar o curso da conversa que continuava amena, para lamentar a perda de força dos diversos partidos comunistas, após a segunda guerra mundial, ele que era oriundo de um País cujo Partido Comunista chegou a ser a segunda força política a pouca distância da Democracia Cristã. Opinava então que a falta de visão do Bloco de Leste, após as mudanças que se pronunciavam na sociedade e na economia mundial, e em particular da antiga URSS, no pós guerra, afirmando convictamente que tinha faltado em tal contexto um novo Lenine capaz de entender a mudança de correlação de forças que se tinha operado e nas repercussões que as mesmas viriam a ter no plano social.

Num diálogo que se manteve, nas suas diferenças, sempre animada, uma social-democrata fazia esforços para temperar a discussão que se mantinha viva entre pessoas de origens e posições ideológicas tão diversas.

À noite estávamos convidados para jantar em casa de bons amigos. Nova conversa animada que decorreu em torno de várias iguarias, desta vez com um entusiasta por cavalos, animal com grande presença na ilha, que falava do animal que tinha comprado como se de um filho se tratasse. Por detrás da emoção que colocava em cada palavra, viemos a descobrir um químico autodidacta herdeiro de uma profissão que nas Baleares ganhou fama: a de criador de jóias. Para cumprir as normas que permanecem em relação à pandemia, regressamos com alguma pena bem cedo a casa.

Na manhã seguinte fui surpreendido com a notícia da morte de Carlos do Carmo o artista que conduziu o fado a canção nacional libertando-o de preconceitos que persistiam na sociedade pela sua associação ao antigo regime. Homem de liberdade que se empenhou sempre na procura de entendimentos à esquerda que dessem corpo a soluções política visando um País melhor.

Carlos Figueira

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