Estamos presos na estação

Oxalá o comboio não venha atravessado

A gente luta, e nesta vaga de combate, viajam connosco uma multidão incontável, incluindo gente como nós, que se não fosse a vaga, já não saiam do sítio. E a gente luta, para que a vida tenha sentido, mas depois de tanta luta vamos desaguar a parte nenhuma.
Claro que para os fazedores de opinião, aqueles que são pagos a peso de ouro, para não partirem a trela e entrarem por outras evocações, isto caminha sobre rodas, enquanto esse martirizado desencanto, que morre e num instante se renova, são sinais da podridão que nos mostra que não fomos capazes de amansar o touro embravecido, a que chamaram de Estado Novo. E por isso, todas as quadras do grande António Aleixo, como a que segue, estão tão claras como actuais.

“Para triunfar depressa
cala contigo o que vejas
finge que não te interessa
aquilo que mais desejas…”

Ou então, o facto de estar cada vez mais patente em cada um de nós, esta velha frase de Salgueiro Maia, um dos Capitães Libertadores: “Há diversas modalidades de Estado: os estados socialistas, os estados corporativos e o estado a que isto chegou. Ora nesta noite solene, vamos acabar com o estado a que chegámos”.
Não faz sentido, por maiores que sejam as dificuldades que se agitam para lá das margens que sinalizam o território pátrio, como por exemplo a Pandemia e o Covid 19, outra fez bem vivo e a guerra contra a Ucrânia, cada vez mais assassina, que continuemos com uma lanterna na mão e desta forma a nos tratarem como estúpidos.
É que acima do ser humano, de alguns seres humanos, e são a maioria, o que conta é a economia, o capital, mesmo que envolva vidas, mesmo que se furem todas as regras, mesmo que a escravatura seja cada vez mais real: Aqui, no Alentejo, nos Aeroportos espanhóis e ou nos aviões da Ryanair, perante o descalabro em que estão por esta altura os aeroportos de Sevilha de Menorca, onde o Governo espanhol já não manda no que se lavra e se determina na Organização Mundial de Saúde. Já nada conta, e nós por aqui, à boca cheia, a renovarmos o velho pensamento, como se já não tivéssemos mais nada para dizer: Imaginem que os chineses já não dão outra vez conta do recado.
Será que já não existem regras para a segurança sanitária nos aviões e nos aeroportos. Nos aviões da Ryanair e nos aeroportos de Sevilha e de Menorca. E não são apenas as regras de distanciamento e do uso de máscara. E nos aviões, já nem corremos perigo, se vamos sentados ao colo uns dos outros, mas deixamos aqui dois factos concretos:
Primeiro a existência de passageiros, que se deslocam em pleno voo dos assentos para os lavabos, sem máscara, e até vão encalhando com membros da tripulação. Uma vergonha. Mais escandaloso, e nós nem sabemos se existem as regras do vale de tudo, é que por exemplo, no dia 30 de Abril, aterrou em Menorca um avião da Ryanair e ainda nem todos os passageiros estavam com o pé de fora, já estavam a embarcar mais uma multidão, entre eles aqui o velhote… Todos ao molhe e fé em Deus.

Dinero, és necessário dinero… muchísimo dinero… despues se verá…
Este parece ser, por exemplo, o grito da Ryanair… pelo menos nos dois voos que fizemos.
Desconhecemos como possa ser nos aeroportos portugueses. Mas se a imprensa nada diz e ninguém se queixa, então está tudo bem.
Também no Domingo, em plena Arena, de Jerez de la Frontera, com a banda a tocar, parecia a história do Titanic, uma multidão contabilizada em mais de 60 mil pessoas, de encontro uns aos outros, aguardavam o tiro de partida das motos, onde o nosso Miguel Oliveira, mais uma vez esteve bem no MotoGP. Aí não esteve? Então vai tu andar de mota…
Mas voltemos ao que hoje valem as grandes Instituições Mundiais. A Organização Mundial de Saúde, prescreve todas as orientações, mas cada governo (saúde) de cada País, faz o que entende por melhor, tendo sempre a sua orientação.
A ONU, é o que se sabe, foi criada, não apenas para defender os ricos, mas deixando claro, que os ricos é que mandam. Portanto, não venham os chamados abutres de outras idiotas ideias, dizer que a culpa é do Secretário-Geral, o português António Guterres.
É um facto que deveria ter ido mais cedo falar com o Senhor PUTIN. Mas o Senhor PUTIN ouve alguém. Não brinquemos. A NATO, a UE e os USA, e nós também, que nos cuidemos, pois é o líder da Rússia que manda no mundo, apoiado pelos seus peões de brega, alguns alemães, alguns portugueses, alguns franceses, alguns ingleses, alguns americanos, alguns italianos, que partilham armas, informações, como se a segurança do Mundo, tivesse o mesmo regulamento do jogo das moedas.
Ainda no Domingo, o Dr. Marques Mendes, contava na SIC aquela história do Presidente da Câmara de Setúbal, e nem precisei de ouvir até ao fim, para perceber de imediato que na cidade do Sado, nem o Bocage faria melhor. Onde Marques Mendes falha, é quando diz, que o Autarca de Setúbal, fez muito pior que o Dr. Medina, então como autarca de Lisboa. Fez pior? E foi promovido a Ministro?
Em Portugal, só o Ministro Pinho, que agora está na sua habitação, é que foi penalizado, com aquele gesto de toureio, que vergonhosamente fez para a bancada do PCP. Olha. É dessa bancada do PCP que eu tenho saudades, porque tinha saber, inteligência, garra e compromisso.
Mas calma, não vai acontecer nada a ninguém, nós os mais velhos é que continuamos com a trela presa à Estação. Oxalá o comboio não venha atravessado.

Emocionante, todos ajudam os homens do andor, na subida de Nossa Senhora da Piedade,
Mãe Soberana, em direcção à Ermida

Já depois de saber dos meus desarranjos, que até me impediram de assistir há sempre monumental, emotiva e afectiva Procissão de Nossa Senhora da Piedade, a Mãe Soberana, que encheu Loulé de alma e de paixão. De cânticos e vivas, e de sentir que a minha voz disparada da varanda não chegou, recebi um telefone da minha tia Gertrudes Alba, tinha sido empregada de quartos do velho hotel Flórida e acabara o tempo válido como assistente num bengaleiro, no casino de Monte Gordo, pedindo-me que lhe arranjasse uma boa história…
A chamada caiu duas vezes. Se fosse eu a cair, a esta hora estava todo engessado. Mas à terceira tentativa, com a voz mais grossa lá nos entendemos.
A minha tia queria saber o que era isso da Pobreza Laboral e do fim das Taxas Moderadoras.
Respondi-lhe que não sabia, mas perante a sua insistência, tive que lhe explicar, que se tratava apenas de formas de linguagens governamentais e que em minha opinião, até estavam em contradição.
Mas ela tal como eu, também não percebeu e disse-me:

Então ó filho, primeiro têm a consciência, apenas a consciência, que existe uma pobreza laboral e a seguir cortam com as taxas moderadoras. Parece bruxedo filho.

Não sei tia. Já não sei de nada.

É o que temos tia. E este é o caminho…

Tiaaaa! tive que lhe gritar, gritar educadamente duas vezes, para lhe dizer:

Ó tia, também os autarcas no Algarve estiveram reunidos para dizer ao Governo, que sim senhor, são responsáveis pelas omeletes, mas não têm ovos. Ou seja, sem dinheiro, nada feito…

Filho! O que me dizes tu a mim… Me repetiu, ao som linguístico vila-realense a minha tia, para depois acrescentar:

Olha, como no domingo foi a festa da Mãe Soberana, tenho aqui esta quadra do nosso conterrâneo António Aleixo, sobre a Nossa Senhora da Piedade….

Diga tia… Estava a ver que a chamada voltava a cair

Diga tia:

“Vai dentro daquele andor
Aos ombros da mocidade
A Mãe de Nosso Senhor
A Virgem da Piedade”.

Neto Gomes

Mural agora inaugurado e que retrata a imagem da Mãe Soberana no andor, da autoria de Stephen Jones, grafiter da Associação Artística Satori, junto à Rotunda dos Homens do Andor

Nota do Autor:
Na última edição do JA, que inclui o número 132, do Remate Certeiro, escrevemos como subtítulo: 48 anos depois, ainda se houve dizer, que a Democracia não pode deixar ninguém para trás. O mesmo texto aparece incluído num dos parágrafos da crónica.
O subtítulo que antes tínhamos escrito era o seguinte: Houve um tempo na democracia que se pensava que já ninguém ficava para trás.
Ao alterarmos o texto e nos cortes que fizemos, não reparamos que houve um tempo…nada tinha a ver com ainda se ouve dizer.
Atento, o que agradecemos, o leitor Manuel José Marques da Silva, enviou um e-mail ao Jornal do Algarve, que me foi reencaminhado dando conta da gafe, tendo inclusive respondido ao meu agradecimento, escrevendo:
“Claro que se percebe tratar-se de um gafe mas assim fica melhor porque teve oportunidade de reparar. Continuarei a ler os seus artigos com gosto.
Melhores cumprimentos, Marques da Silva”.
Pelo facto pedimos desculpas à Direcção do JA e aos leitores.

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