Estamos preparados para receber turistas

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Em entrevista exclusiva, José Apolinário, o coordenador do Governo para a pandemia garante que o Algarve está preparado para a onda turística que se avizinha, mas alerta que não podemos presumir que o vírus já passou, garantindo que ainda há perigo de novo surto e sustenta que o maior perigo é desprezarmos o perigo invisível de um “bicho” mil vezes mais fino do que um cabelo humano. Elogia os agentes públicos da região, a começar pelas autarquias, e faz um balanço positivo da tarefa que empreende desde início de abril, que considera “aliciante” e facilitada pela “mobilização e motivação de todos”

JORNAL do ALGARVE (J.A.)Perante a magreza dos números do covid-19 a que se assiste, no País, mas ainda mais no Algarve, fica-se por vezes com a sensação de que se esperava uma tempestade e veio um aguaceiro. Foi mesmo assim?
JOSÉ APOLINÁRIO NUNES PORTADA
– Quem vai ao mar avia-se em terra e o que aconteceu foi que os autarcas, a Proteção Civil, os serviços de saúde prepararam-se para todos os cenários, inclusive os mais difíceis, porque esse era o contexto internacional em que se vivia. Felizmente as coisas têm estado a correr bem, vamos também aguardar se não haverá uma segunda vaga no outono/inverno. Para já a resposta foi aquela que a situação e o conhecimento das circunstâncias justificavam.


J.A. – Terá sido o verão que fez com que os números caíssem abruptamente? Em Espanha chegámos aos zero mortos quase de repente. Em Portugal estamos no planalto da meia-dúzia…
José Apolinário
– Os médicos epidemiologistas sempre assinalaram que no verão haveria uma diminuição da infeção. Mas não sabemos se virá uma nova vaga, mas manter as estruturas das ZAP [Zonas de Apoio à População], a sensibilização dos cidadãos, uma mobilização de todos face à pandemia, é absolutamente necessário. Estamos a falar de um vírus invisível. Nós temos realizado muitas ações de sensibilização a públicos-alvo. A funcionários das escolas, funcionários das cresces, funcionários dos lares, pescadores, funcionários dos serviços prisionais. Uma das mensagens que passa é que este vírus é invisível. Só é detetável com microscópio eletrónico e tem uma dimensão mil vezes inferior a um cabelo humano. E manter as pessoas despertas para esta realidade, manter procedimentos para que cada um seja um agente de saúde pública é essencial.


J.A. – Face a estes números aquém das expetativas, o que é que se vai fazer a este material a mais? Nomeadamente ventiladores. É que neste momento não temos um único caso de uma pessoa internada em cuidados intensivos na região…
José Apolinário –
Durante muito tempo o alerta eram os ventiladores. Os autarcas agiram de uma forma correta, com apoio técnico, contribuindo para o reforço do número de ventiladores na região, tal como aconteceu a nível nacional. Estamos preparados para ter o número de ventiladores necessários para se e quando forem necessários na região. Em relação ao futuro, se analisará. No limite haverá sempre oportunidade para fazer cooperação e ajudar solidariamente outros países onde o nível da pandemia não está tão controlado como no Algarve.


J.A. – E as empresas que se criaram para o covid? Aqui no Algarve foram criadas 12 empresas para construir material contra o covid. Essas empresas vão ter que se dissolver?
José Apolinário –
Da parte das empresas houve uma grande capacidade empreendedora de adaptação às circunstâncias. Quando se olha para a inovação e se pensa que a partir do Algarve foi possível dinamizar uma zaragatoa em parceria com o Técnico, e nesse momento não havia zaragatoas no mercado, significa que houve capacidade de empreendedorismo, a partir do ABC e da Universidade do Algarve para responder aos desafios da pandemia. As pessoas irão adaptar-se, quer em termos de procedimento quer de produto. Também não podemos chegar a um cenário em que, face a uma pandemia global como esta, todos os equipamentos estratégicos estejam dependentes da aquisição apenas a um país.


J.A. – E essa resposta foi positiva, mesmo a nível nacional?
José Apolinário –
Sim e a prova disso é o número de empresas que estão licenciadas hoje para produzir máscaras, reconhecidas pelo CIPEV.


J.A. – Já há máscaras a mais?
José Apolinário –
Infelizmente estamos perante uma pandemia global e haverá sempre espaço para dinamizar projetos de cooperação, nomeadamente com os PALOP.


J.A. – Foi uma agradável surpresa o facto de se terem feito exaustivamente testes em lares de terceira idade e, tirando um ou outro caso, os testes terem dado massivamente negativo?
José Apolinário –
A mais-valia dos testes foi o facto de se atuar rapidamente em áreas de atividade social que estavam mais expostas. Dos 1465 óbitos registados até hoje, 280 tinham entre 70 e 79 anos e 989 tinham mais de 80 anos. E, portanto, fazer estes testes nos lares e garantir os Equipamentos de Proteção Individual e procedimentos de contingência foi indispensável para controlar a pandemia.


J.A. – Quantos testes foram realizados no Algarve?
José Apolinário –
No Algarve foram realizados 30 mil testes, o que é 7% da população residente, 68,5 habitantes por cada mil. Isto é um ponto superior à média nacional, que já é muito boa.

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J.A. – Os testes foram uma prova de fogo para o ABC. Como é o balanço que faz do protocolo com o ABC?
José Apolinário –
Há uma equipa muito motivada. Se não fosse a sua capacidade de motivação, empenho e determinação teríamos feito menos testes e haveria menos iniciativas. A equipa do centro académico ABC tem dado um contributo substantivo na luta contra a pandemia no Algarve, Baixo Alentejo e litoral alentejano.


J.A. – Então estão aprovados…?
José Apolinário –
Eles tiveram o mérito de colocar o Algarve num patamar de maior exigência e cooperação nacional e internacional que extravasa os limites da região. É sobretudo um grande desafio para o futuro.

Desde início de abril que José Apolinário coordena as ligações do Governo com a região


J.A. – A nível de informação, continua a haver algumas divergências de informações entre os números apresentados pela DGS e pela ARS/Algarve. Porquê?
José Apolinário –
Por duas razões. Uma é uma questão de registo do sistema. Tem um sistema de introdução dos dados pelos médicos e pelos laboratórios que não são logo registados no plano nacional. Depois às vezes há acertos administrativos, da residência.


J.A. – Porque é que se começou a sonegar informação? Era ótima, davam tudo o que tinham. E de repente deixou de haver relatórios detalhados diários, com muito mais dados do que os relatórios diários da DGS. Os recuperados, os recuperados em cada concelho… esses relatórios continuam a existir, mas só os autarcas e algumas entidades oficiais é que têm acesso a eles. A população não.
José Apolinário –
Não há nenhuma estratégia de sonegação de dados. Por razões de sistematização têm-se dado dados regionais e optámos por fazer uma nota de ponto de situação semanal e há um encontro quinzenal com a comunicação social.


J.A. – Mas, por exemplo, as pessoas querem saber quantos casos estão ativos no seu concelho. Esses dados existem, mas não são divulgados.
José Apolinário –
A DGS dá informação dos casos ativos todos os dias.


J.A. – Mas não sai para a comunicação social.
José Apolinário –
Eles têm publicado no Correio da Manhã, acho eu. Não há nenhuma sonegação, temos feito a informação no quadro regional. O delegado de saúde passa essa informação ao autarca, mas não há nenhuma estratégia.


J.A. – Há um relatório que no canto superior esquerdo diz “relatório confidencial e restrito” e ele não é passado à comunicação social.
José Apolinário –
Temos procurado fazer uma informação semanal e passámos a conferência de Imprensa para 15 dias, porque não havia notícia para tanto. Há toda uma atividade que passa pela atividade dos diferentes autarcas e áreas setoriais e foi nesse sentido. Mas tenho que perceber que papel é esse de que fala. Mas a informação que tem sido passada é tecnicamente correta. Temos procurado uniformizar critérios com a DGS em termos de informação.


J.A. – Neste processo todo como se comportaram as Câmaras Municipais do Algarve?
José Apolinário –
As autarquias estiveram na primeira linha, primeiro com grande entreajuda entre todos os autarcas, muita troca de experiências, muito envolvimento com as estruturas de saúde, Proteção Civil, e com grande sentido de serviço público e proximidade. As autarquias tiveram que tomar decisões difíceis quando não se sabia ainda como a situação evoluiria. A presidente da Câmara de Portimão tomou a decisão de fechar a primeira escola. Em Faro, quando surgiu uma infeção na comunidade nepalesa a câmara tomou a iniciativa para conter a expansão do vírus.


J.A. – Mas não houve nenhum caso de demissão das responsabilidades?
José Apolinário –
Não. Houve total envolvimento de todos os 16 municípios, de todos os autarcas, em espírito de serviço público.


J.A. – No que respeita ao verão algarvio, quais as perspetivas sanitárias e também quanto ao comportamento das pessoas?
José Apolinário –
Houve um esforço da Agência Portuguesa do Ambiente e da Autoridade Marítima e concessionários, autarquias, para preparar a época balnear. As lotações são as que o distanciamento aconselha. A região está preparada para receber os turistas nacionais e estrangeiros. Importa assegurar que fora da praia não haja grandes aglomerações, cada um seja um agente de saúde pública. Que o trabalho câmara a câmara seja feito com muito cuidado, envolvimento, participação e estou confiante.

J.A. – Em termos comportamentais, confia nas pessoas?
José Apolinário –
Não podemos assumir que o vírus já passou. Temos que nos manter despertos, ativos, ser agentes de prevenção. E há uma sensibilização das autarquias, Proteção Civil, forças e serviços de segurança, dos concessionários. Estou confiante.


J.A. – E quanto aos comportamentos até agora?
José Apolinário –
Nesta fase o mais preocupante dos últimos dias foram as festas do desconfinamento. O apelo que fazemos é que as pessoas mantenham um comportamento responsável. O vírus não desapareceu.


J.A. – Qual o balanço que faz desta sua tarefa como coordenador do combate ao vírus? E que tarefa foi essa afinal?
José Apolinário –
O primeiro-ministro entendeu que em cada região-plano deveria existir um membro do Governo encarregado da articulação do Estado com as autarquias e da articulação com os serviços desconcentrados dos diferentes ministérios. É uma tarefa aliciante e eu por mim tenho tido a melhor cooperação de todos os serviços, autarcas e Proteção Civil. Tem sido um trabalho facilitado pela grande mobilização e motivação de todos.


J.A. – Nada foi difícil então nesse trabalho graças à harmonia entre todos?
José Apolinário –
As situações complicadas que tivemos que resolver apenas justificaram a nossa designação. Eu fui designado para resolver problemas. Não foi para fazer notícias. A situação de a pandemia estar controlada no Algarve deve-se ao trabalho de todos. E eu fico muito satisfeito por integrar esta equipa da região que procura atuar de forma coordenada e articulada.


J.A. – Durante este período como é que fez a gestão da Secretaria de Estado das Pescas, de que é titular?
José Apolinário –
A pandemia veio trazer uma novidade para todos e as alterações climáticas agradecem. Muitas reuniões são por teleconferência. Tentei estar no Algarve dois, três dias, fazer muitas reuniões ao fim-de-semana e além disso estar um, dois dias por semana e depois estar em Lisboa e fazer muitas reuniões por teleconferência.


J.A. – E em relação às pescas?
José Apolinário –
Tentei transpor para as pescas algumas das boas práticas que estavam a ser desenvolvidas contra a pandemia. As ações de sensibilização dos pescadores com a Marinha, os testes para os pescadores, os equipamentos de proteção individual…


J.A. – Pensou em corresponder às reivindicações e à proposta no Parlamento de acionar o fundo de garantia durante a pandemia?
José Apolinário –
Nós defendemos a revisão do regulamento comunitário do fundo europeu de assuntos marítimos da pesca, que passou a tornar elegíveis paragens temporárias. Para essas paragens, da frota dos crustáceos, cerco e polivalente, há um total de 7 milhões de euros de apoio público e por outro lado alocámos, através do fundo de compensação, 3 milhões de euros para candidaturas de profissionais da pesca. Portanto, neste momento a nível nacional estão alocados 10 milhões de euros para apoios ao setor da pesca resultantes da redução de atividade decorrente da covid.


J.A. – Para empresas ou assalariados? Não houve fome no setor das pescas durante este período?
José Apolinário –
Empresas e assalariados. O fundo de compensação salarial paga até 70 dias aos pescadores. O Mar 2020 apoia as empresas da pesca e os pescadores até 70 dias. Isto é, criámos um modelo com um apoio até 70 dias para pescadores e também para mariscadores.


J.A. – Em termo sociais, genericamente, isto foi muito duro, não foi? Como foram as respostas?
José Apolinário –
O Governo respondeu em termos de lay-off, está a responder com o plano económico e social. A especificidade da situação do Algarve justifica medidas conjugadas, mas a principal resposta é resultante da abertura da economia ao Turismo e garantir um verão centrada nos turistas nacionais, mas também nos não-nacionais, é a melhor ajuda que se pode dar à região. A outra coisa é manter controlada a pandemia. Manter o Algarve como destino seguro é essencial para a situação social na região.

João Prudêncio

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