Europa “minimizou sinais e intenções do Daesh” dois anos antes dos atentados de Paris

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“Como o ISIS construiu a sua maquinaria de terror sob o olhar da Europa”, assim é intitulada a reportagem exclusiva que o “The New York Times” publicou na madrugada desta quarta-feira sobre a rede de células semiautónomas do autoproclamado Estado Islâmico (Daesh, ISIS na sigla inglesa) que se foram instalando em território europeu nos últimos anos — em última instância para levarem a cabo atentados como os que, em novembro, provocaram 120 mortos em Paris e os de há uma semana em Bruxelas, que vitimaram 35 pessoas e causaram 359 feridos.

No resumo do artigo, o jornal nova-iorquino explica que, “dois anos antes dos atentados de Paris e Bruxelas, uma unidade dentro do Estado Islâmico dedicada a levar a cabo ataques terroristas na Europa já estava a ser montada” e que “as autoridades locais [europeias] desacreditaram os planos [de ataques], descrevendo-os como atos isolados ou aleatórios e ignorando ou minimizando as ligações ao Estado Islâmico”.

Estas conclusões, embaraçosas para a União Europeia e para as autoridades de cada estado-membro, têm por base processos judiciais, transcrições de interrogatórios a ex-militantes e registos de escutas a que o diário teve acesso exclusivo.

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A reportagem começa com a descrição do caso de Reda Hame, um cidadão francês de 29 anos, técnico de computadores que vivia em Paris e que foi para a Síria para se juntar ao Daesh. Quando partiu do Médio Oriente para o seu país-natal com instruções específicas para levar a cabo atentados na capital francesa, Hame era recruta do grupo terrorista há uma semana, aponta o NYT. Isto aconteceu mais de dois anos antes de Paris ser palco de uma série de violentos ataques à bomba e a tiro em novembro de 2015.

As autoridades acreditam agora que havia sinais de uma máquina terrorista a ser montada dentro da Europa pelo menos desde o início de 2014, sinais esses suficientemente visíveis e inteligíveis para serem levados a sério, refere a autora do artigo, Rukmini Callimachi.

“Isto não apareceu simplesmente do nada nos últimos seis meses”, defende Michael T. Flynn, alta patente do exército norte-americano, agora na reforma, que dirigiu a Agência de Informações de Defesa das forças armadas dos EUA entre 2012 e 2014. “Eles têm estado a contemplar ataques externos desde que o grupo [Daesh] se mudou para a Síria em 2012.”

Hame, cujo passaporte francês e conhecimentos aprofundados de tecnologia o tornavam perfeito para preparar e executar um atentado na Europa, foi detido em Paris em agosto antes de conseguir levar a cabo qualquer ataque. A secreta francesa confirmou, na altura, que ele foi um de pelo menos 21 operacionais que o Daesh recambiou e infiltrou na UE depois de os treinar e de lhes dar instruções específicas.

Os registos do seu interrogatório “abrem uma janela para as origens e evolução de um ramo do Estado Islâmico responsável pela morte de centenas de pessoas em Paris, Bruxelas e em muitos outros sítios”, refere o NYT. “Aquilo é uma fábrica lá [na Síria]”, diz Hame a dada altura. “Eles estão a fazer todos os possíveis para atacar França ou outro sítio na Europa.”

As autoridades europeias sabem agora, acrescenta o jornal, que o “Pai” referido várias vezes no interrogatório não era o pai biológico de Hame, mas sim Abdelhamid Abaaoud, o operacional do Daesh de nacionalidade belga que selecionou e treinou recrutas para atacarem a Europa e que se entregou às autoridades no rescaldo dos atentados de Paris. Abaaoud é tido como o cérebro dos ataques de novembro, os mais letais em solo europeu em mais de uma década.

Joana Azevedo Viana (Rede Expresso)

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