Ex-presidente da Volkswagen: De 58º “mais poderoso” a desempregado

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Martin Winterkorn liderava a Volkswagem há oito anos

A escala de poder tem destas coisas. E lá diz o velho ditado: quanto maior a subida, mais dramático pode ser o tombo. Confortavelmente instalado pela revista “Forbes”, em 2014, como a 58ª pessoa mais poderosa no mundo, Martin Winterkorn, o agora ex-presidente da Volkswagen, arrisca ser uma nota de roda-pé na próxima lista de influentes, e ainda assim, pelas piores razões.

Winterkorn sai da empresa referindo a necessidade “de um novo começo” para a marca. Como assume também no comunicado da despedida, aos 68 anos ele próprio fica a precisar de um inesperado “restart”. É que se a sua demissão – anunciada esta quarta-feira – não foi surpreendente, dada a dimensão do escândalo que envolve a Volkswagen, não deixa de surpreender a forma como abandona o lugar, depois de o ter conquistado em 2007, saindo inclusivamente vencedor de uma disputa interna, há cerca de cinco meses, ao ter merecido a confiança da empresa, no final de uma batalha que levou à saída do Grupo de Ferdinand Piech, um dos seus todo-poderosos.

Como recorda um perfil de Martin Winterkorn publicado na “BBC News”, a dificuldade em conquistar o mercado norte-americano terá sido, na altura, o motivo da discórdia.

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Até aí próximos, Piech e Winterkorn entraram em rota de colisão depois de o primeiro ter dado uma entrevista ao “Der Spiegel” criticando duramente o desempenho do segundo. E ainda que Ferdinand Piech pertença ao clã Porshe, que detém quase 51% da VW, a verdade é que a família lhe puxou o tapete, apoiando Winterkorn na liderança e considerando estarem em causa apenas “opiniões pessoais”, que não traduziam a posição da empresa. A seu favor, é certo, tinha os mapas de vendas, que registavam um aumento de 77%, catapultando a Volkswagen para o primeiro lugar no sector automóvel, à escala global.

Meticuloso e perfecionista

Nada mau para o anterior estudante de engenharia, doutorado em metalomecânica quase aos 30 anos e com estreia profissional na empresa Bosch.

A passagem para a VW aconteceu em 1993, no departamento de qualidade, tendo rapidamente dado nas vistas.

Com fama de meticuloso, perfecionista, particularmente atento aos detalhes e muito profissional, as qualidades podem agora virar-se contra si, por ser difícil acreditar que nada sabia sobre o software instalado em 11 milhões de veículos para falsificar os dados relativos às emissões poluentes. Tal como, em retrospetiva, se presta a leituras enviezadas uma das preocupações que chegou a expressar, pedindo aos legisladores europeus para “não sobrecarregar a indústria automóvel com metas de emissões poluentes” muito otimistas, recordando os prazos apertados para desenvolver tecnologias eficientes para esse efeito.

Meta por cumprir

Certo é que Martin Winterkorn continuava em ascenção. Fortemente empenhado no desenvolvimento tecnológico, tanto na VW como na sua subsidiária Audi, prometeu tornar a companhia na maior fabricante de carros elétricos no mundo – a sua meta era a colocação de um milhão de veículos elétricos nas estradas até 2020.

Conhecida a fraude, só o próprio, talvez, a acreditar nas suas primeiras declarações dando conta de querer permanecer no posto, tenha julgado possível tal proeza. Está muito em causa. Já depois de conhecida a demissão, as ações da Volkswagem subiram 5,9%, mas as perdas resgistadas nos últimos dias são gigantes – mais de de 27 mil milhões de euros na Bolsa, na terça-feira – e o risco de perder mais na justiça ensombra o futuro da empresa.

Sim o ex-presidente disse estar arrependido, prometeu esclarecer o que aconteceu,“limpar” o nome da marca. Pediu desculpa, duas vezes. Mas as desculpas não se pedem. Evitam-se. Martin Winterkorn parecia homem para saber disso.

RE

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