Francisco Amaral, presidente da CM de Castro Marim: “Quiseram eliminar-me!”

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Aos 64 anos, Francisco Amaral é um homem agastado, que dificilmente perdoará aos seus adversários políticos. Não por o serem de facto, mas porque, nas suas palavras, tiveram um comportamento psicopático durante uns longos dois anos em que lhe boicotaram a ação. Comportamento que passou por cartas anónimas, perfis falsos, boicotes vários que levaram à paralisação do município. Em última instância, analisa, quiseram eliminá-lo fisicamente. Não conseguiram, Amaral garante que está ali para as curvas. Por exemplo, para as que constituem a ciclovia, um dos vários projetos que agora – com o problema político resolvido – ficaram com pernas para andar.

JA – Imagino que não está arrependido de ter provocado a queda do Executivo e levado a um processo de eleições extraordinárias…

FA – Foi uma coisa rara no País, só tinha acontecido em São João da Madeira e em Lisboa. Portanto foi a terceira vez. Isto surpreendeu muita gente. Mas a situação estava insustentável. Foi uma oposição maioritária que se coligou só para me boicotar, para não me deixar fazer nada. O objetivo era que não fizéssemos nada, além de massacrar, não só o presidente mas também os funcionários da câmara. As reuniões de câmara passaram a semanais- no resto do País são quinzenais – e demoravam 4, 5, 6 horas. Era um massacre autêntico!

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JA – E houve boicotes a projetos?

FA – Projetos que à partida eram financiados…

JA – Eram pacíficos, como a área envolvente à Casa do Sal?

FA – Exatamente! O objetivo era boicotar, paralisar, atrasar. Era que não fizéssemos nada. Tudo se inventava para que não se aprovassem e se licenciassem as obras. Claro que saiu o tiro pela culatra à oposição. Porque as reuniões de câmara são transmitidas através do Youtube, com centenas de visualizações, e o povo apercebeu-se deste filme de terror.

JA – Era uma espécie de coligação negativa, entre o CM1 e o PS?

FA – O CM1 não existe, existe o Dr. Estevens, que tem duas ou três pessoas de volta dele e não mais do que isso.

JA – Mas esse boicote, em sua opinião, não continua na Assembleia Municipal, onde o PSD está em minoria?

FA – Nós jogámos a toalha ao chão, pedimos a demissão em conjunto e houve eleições e o povo de Castro Marim, conhecedor do que se estava a passar, atribuiu-nos a maior vitória de sempre. O PS teve a pior derrota de sempre e agora estamos confortáveis na câmara, as reuniões de câmara são pacíficas, demoram pouco tempo e estamos a trabalhar bem. Estamos agora a lançar as obras que devíamos ter lançado há dois anos. Claro que mais caras, porque os preços aumentaram. Mas estamos a tentar ainda aproveitar os fundos comunitários. Quando cheguei, há seis anos, era a câmara do Algarve que menos funcionários tinha, entretanto houve os quatro anos da crise, em que as câmaras foram impossibilitadas de contratar funcionários novos. Eu costumo dizer: houve quatro anos de crise e dois anos de loucura. E a câmara está a funcionar agora, desde julho!

JA – Mas voltando à Assembleia Municipal: está em minoria!

FA – Sim, o PS tem sete eleitos, a CM1 tem três e nós temos 9. Mas a Assembleia não se tem portado muito mal. Nos últimos anos a coisas foi difícil, aprovaram o IMI mínimo e retiraram à câmara receita na ordem de 1,5 milhões de euros. Mas depois deste resultado eleitoral, essa mensagem de governabilidade também passou pela Assembleia Municipal. E agora aprovámos o nosso orçamento. Há mais juízo, mais complacência.

JA – E esse juízo é extensivo aos dois grupos parlamentares da oposição?

FA – Este ano foi. Houve bom senso, fruto deste resultado eleitoral esmagador e que revela o que o povo pensa destas forças políticas. O PSD teve quase o dobro dos votos do PS, o que era impensável.

JA – O que era o CM1? Era um culto da personalidade do Dr. Estevens?

FA – Exatamente! Quando eu cheguei aqui, a convite do Dr. Estevens, apercebi-me que ele queria continuar a mandar aqui. Aliás, ele era o líder do PSD de Castro Marim e numa célebre reunião da assembleia geral de militantes do PSD conseguiu, por unanimidade, que me fosse retirada a confiança política. Por unanimidade, para aí 30 ou 40 militantes! Portanto, veja a capacidade de convencimento que este senhor tem.

JA – Da sua perspetiva, ele aprendeu a lição?

FA – Não quero ofender ninguém, mas há psicopatas no futebol, na política, nas empresas. E os psicopatas têm uma caraterística: nunca desistem. Eu não estou a dizer que o Dr. Estevens é um psicopata. Mas há alguns laivos, indícios, de que a coisa não funciona muito bem. O CM1 não existe. É o Dr. Estevens e o Dr. Estevens é o CM1.

JA – Mas no fundo estas eleições foram um tira-teimas entre duas personalidades muito fortes…?

FA – Houve uma coligação manhosa e psicopática entre o PS e o Dr. Estevens. Estava inserida numa estratégia de desgaste e de eliminação da minha pessoa. Tive enfartes à conta disto tudo! O objetivo era destruir-me! Não tenho qualquer dúvida! As cartas anónimas, os perfis falsos, o objetivo era a minha eliminação. E da Filomena [Sintra].

JA – Eliminação física?

FA – Física! Não lhe passa pela cabeça o que foram as perseguições à Filomena [Sintra]. Inclusivé na casa dela. Coisas do arco da velha! É psicopático mesmo! As pessoas que nos moveram esta perseguição… há ali qualquer falha. Claro que nós, depois de dois anos a ser massacrados semanalmente, jogámos a toalha ao chão, exigimos eleições antecipadas.

JA – Imagino que a noite eleitoral foi das noites mais felizes da sua vida.

FA – Desculpe, mas nós estávamos a sentir! Quem já anda nisto há muitos anos, como eu, sente as coisas. Sente as pessoas na rua, basta um aperto de mão, um olhar para ver como é que as coisas andam. E a gente sentia que as pessoas estavam revoltadas, porque tinham conhecimento do que se passava.

JA – Posso dizer que se perderam para sempre dois anos da vida desta autarquia ou há uma recuperação que está em curso e esse tempo perdido vai ser recuperado?

FA – Estamos a fazer tudo para que isso aconteça, mas de facto perderam-se dois anos. É inquestionável que nos boicotaram obras importantes, como o centro de atividades náuticas em Odeleite, o passadiço que liga Manta Rota a Altura, a envolvente da Casa do Sal onde se realizam os mercados mensais. Obras boicotadas.

JA – Mas essas obras serão retomadas?

FA – Já estão, ou em concurso ou foram adjudicadas! No espaço de poucos meses! Desde julho fizemos imensas coisas. Estamos em velocidade de cruzeiro! Estamos a contratar funcionários, que já deveríamos ter contratado há dois anos. Comprar maquinaria… coisas que a gente não podia, estávamos atados de pés e mãos. Tivemos 3 ou 4 meses em comissão administrativa, desde que pedimos a demissão [março] até às eleições [junho]. Mas até nesse período o boicote se manteve.

JA – Do ponto de vista pessoal, nunca perdoará a José Estevens?

FA – O Dr. Estevens convidou-me para ser candidato aqui. Eu na altura disse que não. Queria voltar à medicina, era o meu sonho de vida, ser médico em Alcoutim. Depois o Dr. Estevens deve-se ter apercebido que eu era a única pessoa capaz de ganhar. Eu quando cheguei aqui não conhecia nada nem ninguém. E disse-lhe várias vezes que não. Entretanto ele começa-me a fazer um cerco e a dizer a outras pessoas para me convencerem. E às tantas eu vi-me de tal maneira que disse “vou dar cabo da minha vida pessoal, profissional e vou-me sacrificar mais um pouco pela população, o meu objetivo é só esse, foi isso que fiz 20 anos em Alcoutim, é isso que aqui estou a fazer”. Em campanha apercebi-me que as pessoas estavam fartas do Dr. Estevens. Diziam “vocês do PSD desapareçam daqui, disseram que punham aqui água há 16 anos, há 12, há 8, há 4. São uns aldrabões!”, eu ouvi isto várias vezes. O que me levou a ganhar as eleições foi a imagem, “epá, há um homem que é médico, tem feito umas coisinhas”. Era a imagem que as pessoas tinham, porque eu não conhecia nada nem ninguém! Ganhei as eleições, tive uma reunião com o PSD de Castro Marim, percebi que o Dr. Estevens queria continuar a mandar e essencialmente queria que eu continuasse a dar seguimento às guerras e ódios dele. E eu dizia “os socialistas não me fizeram mal nenhum, porque é que lhes vou dar guerra? Vou tratar toda a gente com urbanidade, que é o que eu sei fazer, não sei guerrear ninguém”. E aqui começou logo a clivagem entre mim e o Dr. Estevens. E começa a guerra. Começo a receber cartas anónimas, qual delas a mais agressiva e ofensiva. Comunicados anónimos à população, qual deles o mais ofensivo. Perfis falsos no Facebook…

JA – Quando é que se dá essa união aparentemente contranatura entre o CM1 e o PS?

FA – Passados quatro anos há eleições, o Dr. Estevens resolve concorrer e contra o que muita gente esperava eu ganhei. O Dr. Estevens estava a discutir o mesmo eleitorado que eu, a área do PSD. Toda a gente dizia que o PS ia ganhar. Qual não é o espanto de muita gente quando eu ganho as eleições…

JA – O que é que resultou mais atrasado nesse processo político, em matéria de projetos?

FA – Por exemplo, a extinção da empresa municipal que foi proposta pelo Tribunal de Contas devia ter sido uma coisa pacífica. Mas não, foi uma guerra contínua entre a câmara e a empresa. Isto é o resultado dessa coligação psicopática. Isto é um exemplo.

JA – Mas a empresa fazia o quê?

FA – A organização dos Dias Medievais, fornecia refeições aos infantários e escolas e limpeza dos serviços públicos.

JA – Na questão da seca, quando estarão prontas as tais condutas para levar as águas das barragens Odeleite/Beliche até aos povoados mais isolados?

FA – Quando cheguei aqui, há 6 anos, qual não foi o meu espanto quando soube que 57 povoações não tinham água. Eram abastecidas pelos fontanários. Em Alcoutim, quando saí de lá, havia uma dúzia de anos que não havia uma única casa sem água potável. Era uma situação pré-histórica! Tive logo a preocupação de lançar uma empreitada de abastecimento de água domiciliária potável a 30 e tal povoações. Arranjámos financiamento comunitário e essa obra está a decorrer agora e dentro de dois ou três meses vamos inaugurar.

JA – Como está a questão das unidades móveis de saúde?

FA – Se há quem saiba o que é uma UMS sou eu. Em 1995 criei a primeira UMS do País e agora criei a primeira UMS do País com médico e enfermeiro. Este quadro comunitário de apoio financiou UMS. Mas seria normal que cada câmara per si adquirisse a sua. Mas esta gente são todos uns regionalistas, mas na prática querem concentrar os poderes todos. E dizem: “Vamos adquirir 10 ÚMS mas a ARS é que manda aqui. E eu, que sempre me habituei à autonomia do poder local… Bom, resumindo: a ARS meteu-se ao barulho e resultado: há 10 UMS que estão paradas! Existem, foram adquiridas pelos municípios e não podem andar porque têm peso a mais, foram todas chumbadas no IMTT! A minha UMS velhinha está a funcionar, mas claro que eu queria uma viatura nova!

JA – A ciclovia está concluída. Quando é inaugurada?

FA – Há uns 3 ou 4 anos o PS votou contra a ciclovia. Uma coisa tão importante! É perigosíssimo andar a pé ou de bicicleta naquela estrada! A ciclovia já devia estar feita há 20 anos! Quando cheguei aqui não havia nem projeto. Estou convencido de que vou inaugurá-la agora no início do ano, em janeiro ou fevereiro. Tem todas as vantagens! A segurança, a saúde, o munícipe de Castro Marim ir tomar a bica a Vila Real. Apreciar a reserva. De carro não dá para ver nada.

JA – Castro Marim tem fenómenos de interioridade, apesar de confinar com o mar.

FA – Tem duas freguesias completamente interiores, como ocorre em Alcoutim. E depois tem zonas de mar. Mas tem fenómenos estranhos. Por exemplo: o único concelho no Algarve, se não no País, cuja sede não tem uma unidade hoteleira é Castro Marim. Nem uma pensãozinha. O que é que eu fiz agora? Arranjei um terreno perto do jardim, vendemos para um hotel e pronto, já licenciámos um hotel, que vai ser começado a construir, de quatro estrelas. Ligado ao hotel Apolo, ali de Vila Real. Mas há outros exemplos. Conhece algum concelho no Algarve que não tenha um parque industrial? Eu até em Alcoutim fiz um. Um parque industrial é a coisa mais básica! Nem um parque de autocaravanas. Tinha dois projetos, um em Castro Marim, outro em Altura e a minha rica oposição chumbou os dois.

JA – Mas agora vai haver…?

FA – Vamos tentar, a coisa está bem encaminhada. Eu até em Alcoutim fiz um parque de autocaravanismo! Houve um programa há uns anos chamado “ao menos um relvado sintético para cada concelho!”. Todos aproveitaram menos Castro Marim! Em Alcoutim há um, aqui conhece algum?

JA – Como está o programa de cessação tabágica?

FA – Uma das razões que me levou a fazer este programa aqui foi a crise de há meia dúzia de anos. Havia famílias a passarem mal e marido e mulher a fumarem é uma despesa da ordem dos 300 a 400 euros por mês. Metade do ordenado! Foi uma das razões, independentemente dos ganhos em termos de saúde. Tive a sorte de ter um chefe de gabinete psicólogo e tinha alguns conhecimentos neste área e formação na área da cessação tabágica. Aperfeiçoei o programa que tinha feito em Alcoutim. Há dois fatores essenciais: a disponibilidade total minha e do Dinis e a gratuitidade do tratamento.

JA – Quantas pessoas abrange?

FA – Falamos de 450 pessoas que recorreram ao programa com uma percentagem de êxito da ordem dos 85%. À volta de 400 pessoas deixaram de fumar.

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