Varredores de rua com noções básicas de inglês, pessoal administrativo com formação em informática e motoristas que sabem técnicas para salvar vidas em qualquer momento. Estas são algumas das competências dos funcionários municipais de Albufeira, que aderiram ao projeto “Oportunidades novas para quem a idade não conta”. Na segunda-feira, o JA presenciou a entrega dos certificados a cerca de 100 trabalhadores que consideram que aprender ainda compensa.
Um casal alemão andava perdido pelas ruas da baixa de Albufeira. Falava em inglês com quem passava tentando localizar-se nas ruelas labirínticas da zona antiga da cidade, mas sem sucesso. Eis quando um varredor de rua, vestido de uniforme municipal, pediu licença e começa a explicar em inglês o local que os turistas procuram.
Esta situação já não causa surpresa em Albufeira, onde o município tem vindo a possibilitar, nos últimos sete anos, a formação profissional e a certificação escolar dos seus funcionários.
Na segunda-feira, o JA testemunhou a entrega dos certificados a cerca de uma centena de trabalhadores que aderiram ao projeto “Oportunidades novas para quem a idade não conta”, que visa reconhecer e aumentar as competências de nível básico e secundário.
Esta iniciativa da câmara de Albufeira vem na sequência do plano de formação iniciado pela autarquia em 2004, que tem permitido aos seus funcionários frequentarem ações de formação nas mais diversas áreas, entre as quais, informática, socorrismo, inglês.
Para o motorista de transportes coletivos Abel Paulo Martins, de 41 anos, “o balanço desta formação é muito positivo”.
Há 12 anos a trabalhar na autarquia, o funcionário municipal frequentou os cursos de socorrismo, higiene e segurança no trabalho, informática, entre outros, completando ao mesmo tempo o ensino básico e secundário.
“Quando era novo não liguei à escola porque a minha família não tinha muitas posses e eu gostava mais de jogar à bola. Arrependi-me, mas agora já tenho mais capacidades e conhecimentos para enfrentar o futuro, que não se apresenta nada fácil com esta crise”, adiantou Abel Martins.
“Nunca é tarde para aprender”
Maria Oliveira, assistente operacional de 57 anos, que completou o 9.º ano, lembra que “a vida era diferente” na altura em que teve de abandonar a escola.
“Os meus pais não podiam manter-me a estudar e comecei a trabalhar muito cedo como costureira. Aos 22 anos vou trabalhar para a câmara de Albufeira”, conta Maria Oliveira, comentando que “já faço parte da mobília” da autarquia.
Esta funcionária, apesar de tantos anos a trabalhar na câmara, também aderiu ao projeto “Oportunidades novas para quem a idade não conta” porque “nunca é tarde para aprender”.
“A situação dos empregos está má e não faz mal nenhum nós termos mais competências e sabermos um pouco mais”, frisa, confessando que não foi fácil voltar para a escola aos 57 anos. “Havia muita matéria que estava esquecida, pois passaram muitos anos, mas foi uma experiência muito positiva”, refere Maria Oliveira, rematando que, apesar de estar a poucos anos da reforma, “ainda posso fazer muito, haja saúde”.
“Concretizar os sonhos de uma vida”
O presidente da câmara de Albufeira realçou que a iniciativa permitiu, ao longo dos últimos sete anos, a certificação escolar e a formação profissional a 155 trabalhadores autárquicos com menores habilitações literárias e de faixa etária mais elevada.
“Trata-se de um processo de aprendizagem que possibilitou aos funcionários concluírem os estudos que não conseguiram concluir por diversas razões”, disse Desidério Silva, salientando que os trabalhadores que receberam a certificação na segunda-feira “ficam mais capazes, mais competentes e motivados” neste contexto de crise.
(Toda a reportagem na edição em papel do Jornal do Algarve – dia 12 de maio)
