Grécia inicia “primavera” com a Rússia

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Alexis Tsipras deslocou-se a Moscovo em visita oficial para iniciar o que designou de “primavera” nas relações com a Rússia.

Em conferência de imprensa realizada esta quarta-feira com o presidente russo Vladimir Putin, a palavra “geopolítica” foi referida diversas vezes. O primeiro-ministro grego referiu que a Grécia “é uma nação soberana que tem o direito de diversificar a sua política externa” de acordo com “o seu papel geopolítico no Mediterrâneo e nos Balcãs”. Tsipras referiu inclusive o “direito em usar os ativos geopolíticos da Grécia”.

Para o especialista grego em geopolítica Thanos Dokos, diretor da ELIAMEP, Fundação Helénica para a Política Europeia e Estrangeira, esta visita pretende “enviar uma mensagem aos parceiros europeus no sentido de que a Grécia ainda conta em assuntos internacionais e que pode desempenhar um papel de ponte complementar entre Moscovo e a União Europeia” em virtude das relações tradicionais entre os dois países. Apesar de a visita ter sido “demonizada por vários círculos na Europa”, Dokos refere que a Grécia não pretende “cair na órbita da Rússia ou provocar qualquer alteração estratégica na sua orientação”, na medida em que pretende manter o seu papel de membro pleno da União Europeia e das instituições transatlânticas. O objetivo é, nesse quadro, procurar um espaço de mais valia. Tsipras disse na conferência de imprensa em Moscovo que quer uma “nova política de diálogo” entre a Europa e a Rússia.

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Para além do simbolismo geopolítico – que resta saber se terá efeito real ou se transformará Alexis Tsipras em “idiota útil” de Putin na Europa, como acusou o jornal britânico “The Guardian” -, há interesses concretos comuns que ligam os dois lados. “A Rússia fornece 57% do gás natural que a Grécia consome, é também um parceiro importante no campo das importações, é um mercado interessante para as exportações gregas, é um potencial investidor em privatizações, e é um apoio geopolítico de peso na questão da resolução do problema cipriota que interessa vitalmente a Grécia”, refere-nos Dokos.

Tsipras parece não ter conseguido que a Rússia alivie as contrassanções em relação às exportações de frutas e legumes gregos cujo montante poderia decuplicar, pois Putin referiu que não podia abrir exceções. Mas assinou um acordo de cooperação para 2015 e 2016 onde as áreas do turismo, energia, infraestruturas e cultura estão em foco.

O primeiro-ministro grego convidou a participação russa nas privatizações que se vieram a fazer. O foco dos russos centra-se em infraestruturas portuárias. O operador ferroviário russo está particularmente interessado no porto de Tessalónica. O investimento no turismo é também um ponto de interesse russo. Na energia, a discussão desenrolar-se-á em torno da possibilidade do gasoduto russo que vai atravessar a Turquia se prolongar pela Grécia. Os russos garantiram também o fornecimento de gás natural à Grécia.

Os dois lados desmentiram que a Grécia tenha solicitado formalmente apoio financeiro no âmbito do atual risco de uma crise de pagamentos – que se poderá agravar em maio -, mas reafirmaram os projetos comuns que poderão trazer investimento e crédito russos.

RE

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