Greve às atividades da componente não letiva

LP
LPhttps://www.jornaldoalgarve.pt
Colaboradora. Designer.

De acordo com o estatuto da Carreira Docente o trabalho dos professores é dividido e contabilizado ao minuto em duas partes: a componente letiva (1100 minutos) e a não letiva de escola (máximo:150 minutos). De acordo com esta organização o professor tem de estar obrigatoriamente na escola os 1250 minutos que estão marcados no seu horário, tendo ainda de participar em reuniões que vão sendo convocadas ao longo do ano e que não são poucas. As reuniões ainda têm a agravante de serem marcadas no horário pós-laboral contrariamente ao que sucede com a maioria dos outros trabalhadores. O cerne da questão está em que, segundo Estatuto da Carreira Docente, apenas é atividade letiva aquela que o professor tem com as suas turmas: ou seja, se um professor estiver, por exemplo, na aula de educação visual com os seus alunos, essa aula pertence à componente letiva e conta para preencher o horário do professor na mesma (os tais 1100 minutos), mas se o professor tiver parte ou a totalidade desses alunos numa sala em que desenvolve, por exemplo, um atelier de pintura, um apoio ao estudo ou um qualquer clube, esta atividade é considerada como componente não letiva e marcada nos 150 minutos. Confusos?!!! Não se preocupem, nós também já estivemos. Entendimento diferente disto temos nós, professores, uma vez que toda a atividade que desenvolvemos com alunos consideramo-la claramente letiva. E porquê? Para um professor desenvolver atividades pedagógicas com alunos, ainda que em clubes, salas de estudo, etc. implica sempre que este efetue uma preparação pedagógica, quer para desenvolver a atividade em si (por exemplo materiais como fichas, apresentações eletrónicas, guiões de estudo, etc.) quer depois para a avaliar, tal como numa disciplina. Sim, porque sempre que este tipo de trabalho é efetuado o professor tem sem-pre de proceder à sua avaliação. Este trabalho exige então que o professor planifique, consumindo tempo, fora do seu horário de trabalho na escola, a preparar novas atividades e a avaliá-las.
Este agravamento nos horários dos professores, em conjunto com o envelhecimento da profissão tem, inevitavelmente, como consequência, uma perda de qualidade no processo de ensino/aprendizagem.
A desregulação dos horários, devido a estes problemas e o facto da interpretação da lei ser tão dúbia, cria situações nos horários dos professores, de tal forma que, um mesmo professor possa ter a mesma atividade marcada no seu horário como componente letiva e não letiva. Ora isto é completamente absurdo.
Para resolver estes problemas, a FENPROF, de há vários anos a esta parte, tem tentado dialogar com os ministros da educação para que, numa negociação séria e aberta, este problema seja resolvido. A esta nossa vontade de dialogar sobre um problema que todos sabemos que existe e que prejudica professores e alunos, temos deparado com uma barreira de arrogância e incompreensão. Assim, não havendo abertura para dialogar e negociar uma solução para este problema, a FENPROF decretou uma greve às atividades letivas que são marcadas como não letivas a partir de 6 de novembro e que terminou a 21 do mesmo mês. Finalmente, após lutas de anos, o Ministério da Educação acedeu a encetar conversações com a FENPROF. Esta federação, em sinal de boa fé, retirou o pré-aviso de greve e espera ver a solução deste problema. Exigimos uma definição séria e clara do que das componentes letiva e não letiva e o combate inequívoco ao desgaste profissional. É tempo de resolver problemas.

Fernando Delgado
*Professor de Biologia e Dirigente do SPZS

Deixe um comentário

Exclusivos

Algarve comemora em grande os 50 anos do 25 de Abril

Para assinalar esta data, os concelhos algarvios prepararam uma programação muito diversificada, destacando-se exposições,...

Veículos TVDE proibidos de circular na baixa de Albufeira

Paolo Funassi, coordenador da concelhia do partido ADN - Alternativa Democrática Nacional, de Albufeira,...

Professor Horta Correia é referência internacional em Urbanismo e História de Arte

Pedro Pires, técnico superior na Câmara Municipal de Castro Marim e membro do Centro...

O legado do jornal regional que vai além fronteiras

No sábado passado, dia 30 de março, o JORNAL do ALGARVE comemorou o seu...

Deixe um comentário

Por favor digite o seu comentário!
Por favor, digite o seu nome

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.