A Associação Guadi cumpre este ano dez anos de existência (foi criada em dezembro de 2005) e faz balanço de uma década de luta diária para melhorar a vida dos animais abandonados dos concelhos de Vila Real Santo António e Castro Marim, bem como promover a sua adoção.
Muitas coisas mudaram ao longo desta década, mas outras continuam iguais. “Alguns voluntários mudaram, a formação inicial da associação sofreu alterações, os cães e gatos vão mudando, mas as dificuldades mantém-se”, refere Helena Vitória.
A dificuldade de lidar com mentalidades que ainda pensam que apenas os seres humanos tem direitos, o abandono e mau trato de animais sem que haja punição dos responsáveis por tais atos, a dificuldade de acolher e tratar os animais, a escassez de meios económicos e recursos humanos. Refira-se que, à semelhança de outras associações do género, a Guadi continua a sobreviver através de donativos, quotas de sócios e angariação de fundos.
“Mas a enorme convicção de que os animais merecem uma existência digna no planeta que é de todos, nunca mudará na nossa associação. Quem conhece os animais de companhia sabe bem do que se fala quando se utiliza as palavras lealdade e amor incondicional. Qualidades por vezes tão escassas nos seres humanos”, diz a mesma responsável.
Trabalho voluntário em prol de uma causa
A Guadi é constituída por um grupo de voluntários que dedica grande parte do seu tempo livre a resolver situações de abandono e maus tratos infligidos a cães e gatos. Este trabalho passa pelo melhoramento das suas condições de vida, através do seu resgate, alimentação, tratamento de doenças, vacinação, esterilização, melhoramento e conservação de instalações e promoção de adoções.
A base do voluntariado na Guadi tem sido, maioritariamente, constituída por cidadãos portugueses, mas nos últimos anos têm-se juntado a esta causa voluntários alemães, holandeses, ingleses e espanhóis, que procuram aquela zona do Algarve para viver grande parte do ano.
“Eles elogiam e reconhecem o árduo trabalho que é feito em prol dos animais. Alguns deles, inclusivamente, recomendam a nossa zona para viver e adoptar um animal”, conta Helena Vitória, que aproveita para lançar o desafio a empresários, e aos próprios municípios, para “apostar num turismo que procura destinos onde existam locais para passear com animais, restaurantes e hotéis onde estes acompanhem os seus donos”.
Abandonos “não têm justificação”
Helena Vitória diz que, neste quadro de estrangulamento económico, verificou-se um aumento do abandono de animais na rua e nos canis, mas considera que, apesar da situação do país, estes atos não são justificáveis.
“Existirem alternativas, tais como a adoção responsável, nunca adotando animais sem condições para os ter e não esquecendo que eles crescem, alimentam-se e podem ter doenças, tal como os humanos”, explica, acrescentando que “também é preciso ter a responsabilidade de esterilizar os animais, evitando a sua reprodução descontrolada, ou pedindo ajuda para não se chegar ao extremo ilegal de deixar um ser vivo na rua, sem comida, água ou abrigo”.
A lei que criminaliza os maus-tratos contra animais, publicada em agosto de 2014, prevê que “quem, sem motivo legítimo, infligir dor, sofrimento ou quaisquer outros maus tratos físicos a um animal de companhia é punido com pena de prisão até um ano ou com pena de multa até 120 dias”. No caso de “resultar a morte do animal, a privação de importante órgão ou membro ou a afetação grave e permanente da sua capacidade de locomoção”, o mesmo será “punido com pena de prisão até dois anos ou com pena de multa até 240 dias”.
Em relação aos animais de companhia, a lei determina que, “quem, tendo o dever de guardar, vigiar ou assistir animal de companhia, o abandonar, pondo desse modo em perigo a sua alimentação e a prestação de cuidados que lhe são devidos, é punido com pena de prisão até seis meses ou com pena de multa até 60 dias”.
“Cumpre-nos, a todos, sermos agentes de mudança e denunciar casos do nosso conhecimento, pois só assim a lei sairá do papel”, defende aquela responsável.
300 animais à espera de ajuda
Apesar do cenário desfavorável para os amigos de quatro patas, a Guadi tem conseguido promover a adoção de muitos animais, evitando a sobrelotação do canil/gatil intermunicipal. “É um canil/gatil de não abate. Ou seja, todos os animais, independentemente da sua idade, aspeto ou saúde, têm direito a ser ajudados, não existindo morte a não ser por doença ou causa natural”, frisa Helena Vitória.
Graças à aposta nas redes sociais, a Guadi tem uma exposição mediática que lhe permite promover adoções no país e no estrangeiro. A sua página no fecebook conta actualmente com cerca de 6000 fãs/amigos e o blog já tem mais de 85 mil visualizações. Neste momento há 147 cães e 150 gatos no canil/gatil intermunicipal que necessitam de ser ajudados.
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