Há cada vez mais cavalos-marinhos na Ria Formosa

A área de proteção de cavalos-marinhos da Ria Formosa foi criada em 2020

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A população de cavalos-marinhos numa área protegida na Ria Formosa registou, no último ano, “um aumento apreciável”, revelaram esta semana especialistas envolvidos no projeto ‘Seaghorse’, que libertaram um grupo de mais 150 destes peixes criados em cativeiro.

“Estão a ver-se mais cavalos-marinhos, particularmente aqui na zona do santuário (área protegida). Estamos otimistas porque a população está a aumentar e, desde o último ano, tem-se vindo a observar mais. Há um aumento apreciável”, disse Rui Santos, investigador do Centro de Ciências do Mar (CCMAR) da Universidade do Algarve, sem especificar números concretos.

A área de proteção de cavalos-marinhos da Ria Formosa foi criada em 2020, numa perspetiva de reversão da tendência de redução das populações que se registou nas duas últimas décadas, colocando a espécie à beira da extinção na ria.

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A monitorização dos cavalos-marinhos na área protegida, uma zona da Ria Formosa localizada entre Faro e Olhão, começou há pouco mais de um ano, aquando da primeira ação de repovoamento da espécie.

Na altura, foi libertado um grupo de 60 cavalos-marinhos, que manifestaram neste período “um comportamento impecável”, encontrando “proteção e um habitat adequado”, complementou outro investigador do CCMAR, Jorge Palma.

“Conseguimos encontrar alguns animais durante alguns meses, antes de se dispersarem, e em boa condição física, isto é, estavam a alimentar-se perfeitamente, depois de, em cativeiro, também lhes ter sido fornecida comida natural. Vimos que se mantiveram aqui, onde beneficiam desta área protegida”, apontou.

A monitorização é feita de forma bimensal, sendo possível identificar todos os peixes libertados. “O perfil da cabeça varia de animal para animal e utilizamos um ‘software’ próprio que faz a correspondência entre as fotografias tiradas num mês e nos meses subsequentes”, explicou o investigador.

Na segunda ação de repovoamento, realizada esta semana, os técnicos do CCMAR libertaram na área protegida um grupo de cerca de 150 cavalos-marinhos, três dezenas dos quais recém-nascidos, com “o mesmo património genético” de peixes capturados na ria e levados para a Estação Marítima do Ramalhete para reprodução.

“Mais alguns [do que os 120 que estavam previstos], porque, entretanto, vimos o macho com juvenis dentro da bolsa e libertou-os dentro do bidão durante o transporte. Estava no final da gravidez, por assim dizer. Nasceram agora, são perfeitamente viáveis”, explicou Jorge Palma.

Os técnicos tiveram de esperar alguns minutos, não só para aclimatizarem os cavalos-marinhos à temperatura ambiente, mas, também, para que a corrente passasse, evitando que fossem arrastados para outra zona menos propícia.

Foram libertados cavalos-marinhos “Hippocampus hippocampus” (cavalo-marinho de focinho curto), a menos abundante na ria, “onde normalmente aparece um animal para dez, na melhor das hipóteses”, da espécie “Hippocampus guttulatus” (cavalo-marinho de focinho comprido).

“Libertamos uma espécie menos abundante e que, aqui dentro da área protegida, vai ter no próximo ano um maior potencial reprodutivo. Esperemos que assim aconteça e que os descendentes se espalhem por outros habitats”, afirmou Jorge Palma.

Outra componente do projeto ‘Seaghorse’ passa pelo restauro das pradarias de ervas marinhas, que, segundo Rui Santos, estão a ser afetadas pela proliferação da alga “caulerpa prolifera”, espécie invasora proveniente do Mediterrâneo, estando a ser avaliado o seu impacto na alimentação dos cavalos-marinhos.

“Uma coisa que já sabemos é que a diversidade de comida, de diferentes organismos, é maior nas ervas marinhas do que na ‘caulerpa’, mas ainda nos falta [analisar] muito para perceber” os efeitos da alga invasora na alimentação da espécie, referiu o investigador do CCMAR e docente da UAlg.

O projeto ‘Seaghorse’, desenvolvido pelo CCMAR com financiamento da Fundação Belmiro de Azevedo, conta com a colaboração do Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) e da Agência Portuguesa do Ambiente (APA)/ARH do Algarve.

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