Há quatro concelhos com mais de um terço de residentes estrangeiros

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Os estrangeiros residentes no Algarve preferem Albufeira e os concelhos mais ocidentais do barlavento algarvio, Vila do Bispo, Aljezur e Lagos, de acordo com os últimos dados disponibilizados pelo SEF, referentes a 2021. Em todos estes concelhos o número de estrangeiros supera os 35% da população concelhia total. A região continua a ser, de longe, a mais pretendida do País para os estrangeiros se fixarem. Os líderes da imigração algarvia são os britânicos, seguidos, por esta ordem, dos brasileiros, romenos, franceses e italianos

No Algarve residem, em média, três vezes mais cidadãos estrangeiros do que no resto do País, de acordo com dados disponibilizados pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) inscritos no portal estatístico PORDATA de 2021, os últimos disponíveis. De facto, dos 465.701 residentes fixos no Algarve, quase um quarto são estrangeiros: 105.142 cidadãos, o que significa 22,64% de estrangeiros na região.

No todo nacional, essa percentagem de estrangeiros não chega a ultrapassar os 6,84%, isto é, praticamente 700 mil imigrantes para cerca de 10,4 milhões de residentes em território nacional.
Mas há concelhos preferidos pelos “forasteiros” que escolhem viver no Algarve: em volume de imigrantes (não em percentagem), o mais apetecível é Loulé, que acolhe 18.707 cidadãos oriundos de outras bandas, seguido de Albufeira, com 16.433 residentes estrangeiros e Lagos, com 11.651.

Já no que respeita a percentagens face ao total de habitantes de cada concelho, os territórios municipais com maior volume relativo de imigrantes são, por ordem de importância face à totalidade dos munícipes, Vila do Bispo (41,2%), Albufeira (37,1%), Aljezur (36,4%) e Lagos (35%).
Isto significa que, dos 16 concelho algarvios, quatro têm mais de um terço de cidadãos imigrantes. Ou, por outras palavras, aqueles são os quatro concelhos algarvios que têm mais de 35% da sua população residente de origem estrangeira.

Brasileiros atraídos pela segurança e um razoável salário mínimo
Na ponta oposta, os concelhos com menores percentagens de estrangeiros no conjunto das suas populações (e que portanto, por uma ou outra razão, parecem menos apetecíveis aos que chegam de fora) são, por ordem decrescente nas cifras de estrangeiros, Alcoutim (8,9%, correspondentes a apenas 219 almas), Olhão (11,9%) e Castro Marim (15,5%).

Mas quem são, por origens, estes homens e mulheres que nos visitam e vão ficando, alguns por necessidade, outros por simples prazer de disfrute do clima, outros ainda por interesse financeiro? (Não esqueçamos que uma percentagem não despicienda dos originais da União Europeia que decidiram trocar de país o fez por vantagens que teriam como imigrantes no que respeita ao pagamento de impostos em Portugal, por comparação com o que pagariam se ficassem nas terras de origem).


Curiosamente, a segunda das nacionalidades mais representativas da imigração algarvia (a seguir aos cidadãos do Reino Unido) escapa desta última razão: os cerca de 17.500 brasileiros residentes no Algarve representam 16,6% dos estrangeiros na região e as razões da esmagadora maioria deles estão longe do “egoísmo” dos impostos a preço da chuva: na maioria são oriundos de classes baixas ou médias baixas e procuram em Portugal o que lhes escapa no Brasil: uma moeda forte, um nível de vida mais alto, um salário mínimo três vezes mais elevado do que os 1.212 reais (223,61 euros) que na melhor das hipóteses auferem no seu país, segurança nas ruas, graças a uma criminalidade comparativamente quase nula.
Claro que também há imigrantes de classes média e alta entre os que nos procuram a partir do Brasil: sujeitos a propinas altíssimas, muito superiores às pagas pelos portugueses, existem 25 mil brasileiros a estudar nas universidades portuguesas. A Universidade do Algarve não é exceção, com cerca de um milhar de brasileiros a estudar entre Penha, Gambelas e Portimão, de longe a nacionalidade mais representativa de entre os cerca de 2.000 estudantes estrangeiros que estudam na instituição.
Mas se a maioria dos que imigram para o Algarve (e o País) de terras brasileiras vêm em busca de melhores condições de vida, estão longe de ser caso único. O mesmo se passa com os 6.855 romenos (6,5% da população imigrante), os 5.445 ucranianos (5,2%), os 5.078 indianos (4,8%), os 2.683 nepaleses (2,6%) e, mais para baixo na lista de nacionalidades, os poucos cabo-verdianos, moldavos, búlgaros e guineenses que compõem um ramalhete de 40 nacionalidades discriminadas pelos dados estatísticos do SEF. Dos 40 países, os menos representativos são Moçambique, Hungria, Colômbia e por último Uzbequistão.

Chineses são menos de 1.500, apesar da visibilidade no comércio
Uma curiosidade: as chamadas “superpotências” EUA e Rússia ocupam posições contíguas e bastante abaixo na tabela. Os norte-americanos, em 21º lugar na lista, representam 0,9% de todos os estrangeiros residentes no Algarve, com apenas 987 moradores, enquanto, quanto a russos, eles não são mais de 908 (igualmente 0,9% da totalidade de estrangeiros).
Falando de “superpotências” mundiais, os chineses, que parecem enxamear o comércio e restauração algarvios, também andam pelos lugares de baixo da lista, mais precisamente na 13ª posição: representam apenas 1,4% dos residentes estrangeiros na região, num total de 1.438 pessoas. São menos do que os nepaleses, suecos, cabo-verdianos ou moldavos.
Voltando ao topo da tabela de nacionalidades, os líderes da lista, os cidadãos de origem britânica, viram o seu número explodir para mais do dobro nos sete anos que decorreram desde 2015 a 2021: passaram de 10.167 para 20.770, isto é, protagonizaram um crescimento de 104,3%. Isto apesar de terem chegado aos 23.027 em 2020, caindo depois cerca de 10% no ano seguinte.
No mesmo período de sete anos, os países cimeiros enquanto emissários de migrantes para Portugal têm-se mantido os mesmos, com escassas alterações nas 10 primeiras posições. Assim, e cingindo-nos a 2021, depois do Reino Unido (19,8% de todos os estrangeiros residentes no Algarve), do Brasil (16,6%) e Roménia (6,5%), vêm dois casos “explosivos” pelo que representam de crescimento no decorrer dos últimos anos: França, que atualmente tem 6.328 seus concidadãos em terras algarvias, ocupa a quarta posição no número de imigrantes, mas cresceu 223,4% entre 2015 e 2021.

Itália foi o país que mais cresceu, Guiné o que mais desceu
Mais “explosivo” ainda é o caso de Itália, que ocupa o lugar seguinte (quinto) no número de imigrantes, com 5.502 pessoas. Em 2015 não passavam de 653 almas, o que significa um acréscimo exponencial de 742,6% entre 2015 e 2021! Com este crescimento acentuado, a Itália é o país do mundo cujo interesse pelo Algarve mais cresceu no decurso dos últimos sete anos completos.
De acordo com as conclusões a que chegou uma reportagem publicada em maio passado pelo JA, esse repentino interesse dos transalpinos pelos caminhos do Algarve (e de Portugal) derivou da nova legislação (já parcialmente revertida, em 10%) que impede a dupla tributação de pensionistas no país de origem e no país de residência. Como já aqui se disse, essa legislação europeia adotada por Portugal criou uma espécie de “febre grisalha”, que trouxe até à região milhares de italianos de idades séniores na última meia dúzia de anos. Aqui compraram casas, alguns investiram em negócios de comércio, a maioria gozou os prazeres de uma reforma majorada e desafogada. Os principais concelhos dessa “febre” italiana foram, por ordem decrescente, Portimão (864 residentes), Loulé (796), VRSA (656) e Albufeira (611). Pela posição relativa que ocupa face à totalidade da população, o grande destaque é o concelho de VRSA, cuja população global ronda os 20 mil habitantes.
Além dos italianos e seus mais profundos laços portimonenses, a distribuição de nacionalidades por concelhos está muito longe de ser uniforme e por vezes revela-se surpreendente: o concelho “preferido” para viver dos 20.770 residentes que chegam do Reino Unido é Lagos (com 3.753 pessoas residentes), seguido de Loulé (3.608) e depois Albufeira (2.777).
No que respeita aos 17.496 brasileiros, que ocupam o segundo lugar no ranking da imigração algarvia, o concelho “campeão” é Albufeira (3.443 pessoas), a que se segue Loulé (3.422) e depois Portimão (3.091).

Por seu turno, os franceses têm uma inusitada preferência pelo concelho de Loulé, que é de longe o território municipal com mais cidadãos gauleses: dos 6.328 franceses no distrito de Faro, 1184 estão em terras de Loulé. Seguem-se Albufeira (891) e, quase ex-equo, Lagos (688) e Olhão (686).
De 2020 para 2021 a população imigrante no Algarve cresceu, embora pouco: de 103.483 para 109.142 pessoas. Contudo, devido ao crescimento da população geral, incluindo a portuguesa (de 437.970 para 465.701), a percentagem de imigrantes face aos residentes fixos diminuiu: de 23,6% em 2020 para 22,6% em 2021.
Seja como for, o número global de imigrantes tem crescido de forma consistente e acentuada nos últimos anos na região do Algarve, passando de 58.978 pessoas em 2015 para quase o dobro no ano passado: 105.142. E se os italianos, nepaleses e franceses cresceram dramaticamente, aumentaram também muito os números de venezuelanos (432%), oriundos do Bangladesh (412,1%). Numa linha inferior, cresceram também nesta meia dúzia de anos os irlandeses (245,7%) e suecos (291,3%), por exemplo.
As nacionalidades em que, de forma mais significativa, o número de residentes decresceu nos últimos sete anos foram Cabo Verde (-13,8%), China (11,6), Marrocos (16,1), Finlândia (24,1%) e Guiné-Bissau (-28,8%).
As duas tabelas que publicamos junto deste texto ajudam a perceber os caminhos da imigração no Algarve, de acordo com os últimos dados.

João Prudêncio

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1 COMENTÁRIO

  1. Bonjour.
    Français résident non permanent dans le concelho de Tavira, une très bonne image globale de l’évolution sociétale.
    Merci João Prudêncio.
    Olá.
    Francês residente não permanente no concelho de Tavira, um quadro muito bom da evolução da sociedade.
    Obrigado João Prudêncio.

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