HÉLDER CARRASQUEIRA*

Luísa Travassos
Luísa Travassos
Diretora do Jornal do Algarve Carteira Profissional - 588 A

A CRISE I – Na festa do consumo

No final da década de noventa, Portugal adoptou medidas com vista a cumprir os critérios que lhe permitissem aderir ao Euro no clube da União Europeia, situação que alcançou e que se materializou com a chegada da moeda ao bolso dos portugueses em 2002. Esta situação trouxe ao país vantagens e desvantagens. Hoje vamos concentrar-nos nalgumas das supostas vantagens. De facto passámos a deter uma moeda forte pelo que a mesma permitiu estimular as importações pois tudo no exterior ficou mais barato; (o resultado foi que a balança comercial – exportações menos importações – apresentou em média um saldo negativo de 7,5 em % do PIB nos últimos oito anos); quem tem moeda forte fica com capacidade para férias no exterior (comparando 2002 com 2008, os portugueses aumentaram do primeiro para o segundo período os gastos com férias no exterior em 31%); outra vantagem foi a inexistên-cia da alterações cambiais dentro da zona Euro ou seja, dentro dos vários países do Euro não havia o risco de alteração do valor das moedas pois esta era única para todos. Isto incentivou as nossas empresas a exportarem para a zona euro (mais de 80% do total) e permitiu criar as condições para que a banca nacional se endividasse junto dos parceiros que tinham excesso de poupança e que nos emprestaram dinheiro para os nossos consumos e investimento. Por exemplo, comparar casas com tal sofreguidão que em Portugal, o n.º de casas próprias é de 64% e na Alemanha de 32%; entre 1991 e 2001 o nº de segundas residências em Portugal aumentou 40%, correspondendo em 2001 a 20% do total do alojamento (no total e segundo o Banco de Portugal, existem hoje em Portugal 2.08 milhões de contratos de crédito à habitação). Neste festival de consumo, a taxa de poupança das famílias que era de 18% em 1990 passou para 6,4% em 2007. Ou seja, colocou-se completamente de lado o factor prudência associado ao aforro. Para tudo isto contribuiu a política do BCE de manter uma taxa de inflação abaixo dos 2% o que permitia também juros baixos que viabilizaram a ilusão que tudo se comprava com dinheiro fácil. Mas não foram apenas as famílias. Se nos ativermos às grandes empresas nacionais, que puseram em marcha grandes planos de expansão internacional, encontramos dívidas do género (em milhões: EDP 14.007; P. Telecom 5.528; Brisa 3.344; nas empresas públicas, Refer 5.447; Metro de Lisboa 3.526 e RTP 861). E o Estado? Pois para não destoar, (apesar das regras do Euro determinarem que não devia haver défices or-çamentais acima dos 3% para não tornar o Euro vulnerável), Portugal (e outros) acumularam défices, financiados com recurso à dívida externa. O resultado global é que face à riqueza produzida num ano (PIB), o Estado tem uma dívida externa de 77%; as empresas de 140%; e as famílias de mais de 120%.
O curioso desta história é que até a crise rebentar em 2007, quem nos emprestava dinheiro também não estava preocupado pois a diferença dos juros em relação à Alemanha (o tomador de empréstimos considerado mais fiável), era inferior a 1%. Todavia, era evidente que nos tínhamos colocado “a jeito” se a maré mudasse.
Entretanto, o contraponto da questão é que uma moeda forte também tem o seu revés como tornar as exportações mais difíceis, entre outros aspectos. Este aspecto e as suas conse-quências no crescimento da riqueza nacional trataremos no próximo artigo.

*Professor da ESGHT – Universidade do Algarve

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