“Hoje é um grande dia.” Lince Ibérico desce um degrau no risco de extinção

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Foto: ICNF – CNRLI

“Hoje é um grande dia. Não está ganha a ‘guerra’, mas estamos a ganhá-la”, afirma Rodrigo Serra, diretor do Centro Nacional de Reprodução do Lince Ibérico, localizado em Silves. A satisfação deve-se ao facto de a última revisão da lista vermelha das espécies ameaçadas, divulgada esta terça-feira pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), ter descido o nível de risco que ensombra a sobrevivência do lince ibérico.

A espécie de felino mais ameaçada do mundo desce um degrau na hierarquia de risco de extinção e passa de “criticamente ameaçada” para “ameaçada”. Esta evolução “reflete 10 anos de trabalho e investimento feitos por Espanha e Portugal, por administrações, cientistas, técnicos e jornalistas”, justifica o veterinário. “Estas boas notícias dão esperança e força a quem trabalha nesta área e que assim vê que o seu trabalho dá frutos.”

A IUCN constata que, “após seis décadas de declínio, a população de lince ibérico cresceu continuamente entre 2002 e 2012, chegando a 156 indivíduos maduros nas duas subpopulações selvagens” em Espanha, tendo a área de ocupação atingido 1040 quilómetros quadrados até 2012.

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Há 11 crias novas nascidas em Portugal

Ao todo contam-se atualmente 150 animais em cativeiro nos cinco centros ibéricos de reprodução, 30 dos quais no de Silves (19 adultos e 11 crias nascidas este ano). Mas não há novidades sobre a possibilidade de crias à solta no Alentejo, fruto da “relação” entre Jaracandá e Katmandu (o primeiro casal libertado na Herdade das Romeiras).

Entretanto, a área de ocupação do lince ibérico na natureza estendeu-se a Portugal com o início do programa de reintrodução em habitat natural, em dezembro de 2014. De então até maio foram libertados na região alentejana de Mértola 10 animais saídos dos centros de reprodução em cativeiro espanhóis e portugueses, o que elevou para mais de três centenas o total de exemplares da espécie em solo ibérico.

Dos 10 animais soltos em Portugal, uma fêmea – Kayakweru – acabou por morrer envenenada. O caso está em investigação e a vigilância e operações para detetar venenos ou armadilhas que possam atingir os outros nove exemplares que deambulam pelo matagal alentejano foram reforçados.

A estes nove linces ibéricos juntaram-se em solo português mais dois exemplares oriundos de Espanha. Um deles, Hongo, terá entrado há cerca de um ano, vindo de Donana – na última vez que foi avistado, andava perto de Vila Nova de Mil Fontes. O outro, Khan, entrou há menos de um mês em Portugal. Nascido em Silves e libertado nos montes de Toledo, em Espanha, fez mais de 700 quilómetros até chegar à zona de Alcácer do Sal, onde foi avistado há pouco tempo.

Plano de ação em marcha

“Projeções demográficas detalhadas sugerem que a futura área de expansão e aumento da população depende das contínuas reintroduções”, lê-se no documento da IUCN. E alerta: “Na falta de reintroduções surgiria um rápido declínio acentuado no espaço de 35 anos”.

Portugal e Espanha continuam a apostar na reintrodução da espécie. O novo Plano de Ação para a Conservação do Lince Ibérico em Portugal (PACLIP) tem por objetivo “estabelecer uma população selvagem e viável, numa área geográfica que faz parte da sua área de distribuição histórica, regressando assim à coexistência milenar com os humanos”. Para o alcançar, são estabelecidas estratégias e metas, que passam por conservar os ecossistemas adequados à espécie e por medidas para recuperar as populações de coelhos bravos (o principal alimento do lince). As principais ameaças à recuperação da espécie são a doença hemorrágica que atinge o coelho bravo e os conflitos com o homem, designadamente os atropelos ou os envenenamentos e armadilhas.

O plano pretende minimizar estes conflitos, manter viável a população cativa do centro de reprodução em cativeiro de Silves (que deverá ter novas infraestruturas em 2016) e ainda desenvolver o Banco de Recursos Biológicos da espécie para investigação científica e continuar a preparar exemplares para reintrodução futura.

Para que a população de lince ibérico seja viável em território nacional “é necessário ter 50 fêmeas estabilizadas”, explica o ICNF. Para já há só quatro, o que significa que são necessárias pelo menos umas cinco temporadas anuais de reintrodução para chegar ao patamar pretendido. Ainda não se sabe quando nem onde ocorrerá a próxima temporada de solta de lince ibérico em Portugal, mas prevê-se que comece no final deste ano.

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