HORÁCIO GUERREIRO

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 Reforço médico no Algarve: surpresa em tempo de crise

 

No início do corrente mês, o Ministério da Saúde autorizou um reforço dos quadros médicos no Algarve, de tal forma substancial, que merece todo o destaque, pois constitui um novo patamar para o sistema de saúde da região.


A ser concretizado na íntegra, o despacho ministerial levará a um aumento de cerca de 25% no número de médicos em actividade nos serviços públicos, quer nos hospitais, quer centros de saúde, suprirá as carências na generalidade das especialidades e trará novas valências, até agora só existentes nos grandes hospitais centrais. Esta decisão, que a todos surpreendeu, merece registo e, quiçá, alguma reflexão.


Penso que o reconhecimento governamental da carência de médicos, na região, traz justiça aos algarvios e constitui, desde logo, uma homenagem a todos aqueles, dirigentes e profissionais, que, ao longo dos anos, se empenharam para minorar os efeitos da falta de recursos.


A surpresa não nos advêm da carência, pois ela é pública e notória, mas do facto de ela ser assumida, em tempo de crise financeira, por um ministro que, pelo seu passado profissional, nos parecia mais talhado para a defesa dos grandes investidores privados, do que empenhado, como parece estar, no reforço e sustentabilidade do sistema público.


Certamente que, para a decisão governamental, hão de ter dado contributo os responsáveis regionais do sector, em primeiro lugar a ARS Algarve e, em segundo, os dirigentes hospitalares. Talvez até me permitisse deduzir que, o facto de o principal hospital da região ter à sua frente uma personalidade de projecção nacional, que conhece bem os meandros e os problemas do serviço nacional de saúde, e agora vive as dificuldades locais, que aliás publicitou, deve ter tido alguma influência.


Este último aspecto, que tem a ver com os porta-vozes e com a forma como são acautelados os interesses do Algarve, obriga-nos a reflectir sobre a falta de líderes políticos que se façam ouvir a nível central e com capacidade para influenciar os decisores.


Enquanto nos fizermos representar por figuras de mérito desconhecido, impostas pelas cliques partidárias, enquanto a classe política regional viver dos servidores sem rumo, enquanto não cultivarmos gente de mérito, que também temos, Mendes Bota, Jamila Madeira, Macário e uns quantos mais, e nos comprazermos com as desventuras destes que mais sobressaíram, só nos resta que algum ministro, bom cristão, ou algum dignitário do paço, nos concedam as suas boas graças. Desta vez, tivemos a bênção dos deuses!


Finalmente, last but not least, uma asserção óbvia: o aumento nos recursos humanos obriga à construção imediata do novo hospital central. O actual Hospital de Faro, embora tenha vindo a receber obras de requalificação, e esteja em condições de suprir as necessidades mais imediatas, não tem estrutura para albergar um corpo clínico substancialmente reforçado, nem para comportar, cabalmente, o expectável acréscimo e diferenciação da actividade assistencial.


A crise económica não deve travar a construção do hospital. Antes a aconselha, quer pelos efeitos directos do investimento, quer pelo impacto positivo na actividade turística, pulmão da nossa economia.


A letargia que nos assola e a taxa de desemprego, dramáticas, obrigam-nos a adoptar incentivos e mecanismos de sobrevivência. Representando duzentos milhões de euros, distribuídos por dois ou três anos, excluindo equipamento técnico, a construção do hospital poderá constituir um pequeno balão de oxigénio para a economia regional, se feita de modo a incorporar trabalhadores locais e as nossas pequenas empresas.
Há que entender que a saúde e a economia sempre marcham em paralelo.

*Médico, Director do Serviço de Gastrenterologia do Hospital de Faro

 

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1 COMENTÁRIO

  1. Boa-vista de Olhão

    «Há que entender que a saúde» e a cultura (educação) sempre marcharão lado a lado. Um vector sem o outro é igual ao resultado de uma soma nula. (La Palisse, não diria melhor)

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