Igreja de “ouro” restaurada para salvar espólio valioso em Lagos

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Imagem da talha dourada que reveste o interior da igreja antes dos trabalhos de conservação e restauro

A exuberante talha dourada da Igreja de Santo António, em Lagos, é considerada uma das mais belas do país. Este monumento nacional, cuja origem remonta a 1707, é o segundo mais visitado do Algarve, atraindo todos os anos cerca de 100 mil pessoas à cidade. O JA foi espreitar as obras em curso nesta “joia algarvia”, que esteve em risco de se perder, uma vez que infiltrações de água no telhado estavam a danificar a pintura da abóbada e a talha dourada

 

“Esta igreja é uma joia da coroa. É tão importante para Lagos e para a região do Algarve que, quando esteve fechada recentemente, sentiu-se logo menos visitantes na cidade”, confessou ao JA a presidente da autarquia, Joaquina Matos, durante uma visita às obras de conservação e restauro que estão em curso, até ao final de setembro, na Igreja de Santo António, no centro histórico de Lagos.

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A simplicidade exterior deste monumento nacional (edificado em 1707
e classificado em 1924) contrasta fortemente com a riqueza decorativa do interior. A igreja é especialmente preciosa pela sua exuberante decoração em talha dourada, considerada das mais belas do país, atraindo todos os anos cerca de 100 mil pessoas até Lagos para admirarem esta obra de arte.

As atenções estão voltadas neste momento para a pintura da abóbada da igreja
As atenções estão voltadas neste momento para a pintura da abóbada da igreja

Atualmente, a igreja está a ser recuperada por uma equipa de cinco restauradores, depois de se terem identificado infiltrações de água no telhado que estavam a danificar a pintura da abóbada, os emadeiramentos do coro e a talha dourada.
Depois da recuperação da cobertura, uma obra que custou 137 mil euros e já foi executada, os conservadores estão agora na delicada fase da pintura da abóbada (48 mil euros), assim como do exterior (24 mil euros). Para mais tarde, está ainda previsto um investimento de 50 mil euros na iluminação interior e exterior da igreja e cerca de 17 mil euros para a recuperação da talha dourada, óculo e madeiras, num total que ultrapassa os 300 mil euros.

Travar a deterioração precoce

Atualmente, a Igreja de Santo António, que também integra o Museu Dr. José Formosinho, só presta serviços religiosos uma vez por ano, no dia de seu padroeiro, a 13 de junho. “É uma das missas mais concorridas em Lagos. Depois da celebração, as pessoas levam o pão benzido de Santo António para casa. Dizem que quem levar o pão para casa não passará fome nesse ano”, contou ao JA Joaquina Matos, frisando que a intervenção em curso (iniciada a 6 de julho) pretende “preservar e valorizar o valioso espólio desta igreja”.

Para isso, os trabalhos de conservação e restauro preveem a recuperação de todos os elementos da igreja, com o objetivo de travar a deterioração precoce do recheio artístico, estando também prevista a reabilitação dos acessórios do retábulo e dos elementos decorativos em madeira.

“Este é o segundo imóvel cultural mais visitado do Algarve e faz parte do roteiro cultural dos monumentos nacionais. Esta grande obra de conservação vai permitir que continue aberto para visitas sem quaisquer riscos para os visitantes”, adiantou o conservador do museu, António Carrilho.

“Ouro” brilha no interior da igreja

Neste momento, as atenções estão voltadas para a abóbada da igreja, que exibe uma pintura, com perspetiva ilusionista, que faz alusão aos principais evangelistas. “Há muitas incertezas em relação aos autores da obra, pois é atribuída a vários artistas da época”, explicou António Carrilho.

Edificada em 1707, a igreja foi reconstruída após o terramoto de 1755 ter destruído a maior parte do edifício e da sua talha dourada. A obra do retábulo, que sobreviveu ao terramoto, terá sido encomendada em 1718 ao entalhador Gaspar Martins. A restante obra de talha é atribuída ao entalhador Custódio Mesquita.

Já o teto, imitação de uma abóbada de berço, apresenta as armas de Portugal ao centro e inúmeras figuras de anjos espalhadas em vários pontos. No altar, sobre o trono, está colocado o padroeiro Santo António, com o menino no braço. Um revestimento de azulejos azuis e brancos complementa este interior, onde domina o brilho do ouro.

Ao longo das paredes laterais encontram-se oito quadros, representando cenas da vida de Santo António de Lisboa, pintados pelo mestre José Joaquim Rasquinho de Loulé.

Nem todos os restauros são bem feitos

Em cima de uma instável estrutura de andaimes onde se anda “com passos de passarinhos”, o conservador-restaurador Pedro Gago revelou ao JA que a pintura da abóbada já sofreu várias intervenções de restauro ao longo dos últimos 300 anos, “nem todas elas bem feitas”. As armas de Portugal ao centro, por exemplo, foram colocadas após o terramoto de 1755 “como se de uma moldura se tratasse”.

Já a intervenção feita em 1929 tem “boa qualidade”, salientou Pedro Gago, adiantando que essa obra está associada à classificação do edifício como monumento nacional, cinco anos antes (1924) e a instalação do museu. Mais tarde, em 1954, foi realizada outra intervenção onde os restauradores “não foram tão cuidadosos”.

O mais importante é manter o original

Pedro Gago explicou então ao JA como se está a processar o restauro da abóbora: “As falhas são pintadas com pequenos retoques de cor (um tom abaixo do original) até ficarem completamente integradas na pintura do teto. O mais importante é manter sempre o original.”

Antes, os problemas de estabilidade do teto foram resolvidos através do reforço das ancoragens das paredes. O telhado também foi completamente substituído com telha nova e corrigiram-se as infiltrações que estavam a danificar a cobertura da igreja.

Apesar de os trabalhos decorrerem até 30 de setembro, a Igreja de Santo António já está aberta ao público, ainda que de forma condicionada. Para os próximos dias 14, 21 e 28 estão marcadas visitas orientadas pelo conservador-restaurador Pedro Gago, sendo as duas primeiras iniciativas destinadas aos munícipes e a última a guias intérpretes.

Nuno Couto/JA

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