Investigadores estudam resposta de microrganismos ao aquecimento global no Ártico

Durante o verão (junho e julho), o oceano Ártico foi alvo de várias campanhas de monitorização

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Investigadores do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR) da Universidade do Porto recorrem a dados obtidos em expedições no oceano Ártico para estudar a resposta dos microrganismos ao aquecimento global e os riscos da ‘Atlantificação’. 

Em comunicado, o centro da Universidade do Porto esclarece que durante o verão (junho e julho), o oceano Ártico foi alvo de várias campanhas de monitorização levadas a cabo por investigadores no decorrer de projetos como o “CONNECT2OCEANS” e “TINYARCTI”, cujo objetivo é identificar os riscos emergentes associados à intensificação do influxo de calor da água do oceano Atlântico para o Ártico, a designada “Atlantificação”.

Para estudar o impacto das alterações climáticas nos microbiomas planctónicos [microrganismos responsáveis pela manutenção de funções ambientais] nestes ambientes gélidos e o potencial de alguns grupos destes microrganismos na descoberta de novas moléculas, os investigadores recolheram diversas amostras biológicas no Fiorde de Kongsfjorden em Svalbard (um arquipélago norueguês situado entre a Noruega e o Polo Norte)​.

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Citada no comunicado, a investigadora Catarina Magalhães esclarece que os resultados destes programas de monitorização “irão preencher lacunas importantes sobre o papel dos microbiomas na sustentação dos regimes da produtividade e diversidade do oceano Ártico, num cenário de mudanças globais”.

Os dados obtidos na campanha de monitorização que decorreu este verão, assim como os dados já obtidos em 2016 também numa atividade de campo liderada pelo Programa Polar Norueguês, geram um “conjunto único de dados do microbioma do oceano Ártico”, contribuindo para “compreender a resposta do microplâncton ao aquecimento global e ao impacto da Atlantificação”.

Além do CIIMAR, os dois projetos reúnem o Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (INESC TEC) e a Universidade Dalhousie (Canadá), sendo financiados pelo Programa Polar Português (PROPOLAR), a Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) e o Programa Polar Norueguês (NPI).

A par do impacto da Atlantificação, outras campanhas de monitorização no Ártico debruçaram-se sobre a diversidade química das cianobactérias [grupo de bactérias fotossintéticas com capacidade de produzir moléculas únicas e com propriedade bioativas], como o projeto “ARCTICOMICS”.

Através da recolha de biofilmes ao redor de Longyearbyen, em Svalbard, os investigadores pretendem agora estudar a diversidade química das cianobactérias.

No comunicado, a investigadora Adriana Rego esclarece que a campanha de amostragem, que decorreu ao longo de cinco semanas no arquipélago norueguês, incluiu três regiões distintas, nomeadamente na região de Adventdalen, onde os biofilmes de cianobactérias foram recolhidos na Tundra do Ártico em áreas com vegetação rasa e alagada, mas também nas redondezas e em cursos de água provenientes de uma lagoa com libertação contínua de metano, a Lagoon Pingo.

Já no glaciar Foxfonna (glaciar com cinco quilómetros quadrados), as cianobactérias foram recolhidas diretamente de pequenos orifícios no gelo (designados, furos de crioconita), decorrentes do derretimento e aglomeração de poeiras, e nas redondezas de uma antiga exploração mineira (Bjørndalen), os biofilmes foram recolhidos em vários cursos de água de drenagem ácida da mina.

Para conseguir dar resposta aos objetivos do projeto, os investigadores vão agora aplicar técnicas de sequenciação para recuperar a informação genética das cianobactérias recolhidas.

Citado no comunicado, o investigador do CIIMAR que lidera o projeto, Pedro Leão, salienta que os ambientes polares “albergam uma grande diversidade de microrganismos singulares, praticamente inexplorados no que toca à sua diversidade química, ou seja, à capacidade de produzirem moléculas únicas que reflitam a sua adaptação aos ecossistemas polares”.

“Vamos tentar encontrar assinaturas genéticas destes compostos em cianobactérias do Ártico, que depois nos permitirão obter no laboratório novas moléculas com bioatividade”, acrescenta.

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