Tem milénios o ideário de um verdadeiro Algarve na sua identidade específica e própria, seja-o nas mais diversas vertentes que definem nas várias latitudes, sejam-no geográficas, etno-sociais, económicas, comportamentais, éticas, etc.
Reino “independente”, não raro apenas e só nominalmente, durante o regime monárquico português, esteve sempre afastado dessa realidade de autonomia, como atestam e comprovam milhentos factos, de entre os quais ocorre-nos o facto de apenas quase meio milénio demorou a visita do monarca ao seu “outro reino”, ou seja o período que mediou entre a visita de D. Sebastião, que por aqui “estagiou” antes do fatídico “desastre de Alcácer-Quibir” e do penúltimo dos Braganças, D.Carlos, este com uma nutrida paixão pelas coisas do mar algarvio.
Certo, certo mesmo é que hoje nunca, mas nunca a “Terra do Sul e do Sol” logrou alcançar a gestão própria dos seus caminhos e do seu presente e projectar o seu futuro, no equilíbrio de propósitos e na vivência dos desígnios maiores visando de modo próprio e democrático uma região mais justa, próspera e solidária para todos os que nela tiveram a mercê de nascer ou a escolheram para viver.
De quando em quando reassumem os focos dessa emancipação intrínseca, que está congénita, ao que cremos na grande maioria dos algarvios, mas que muitas vezes esmorecem, desaparecem, como que aguardando o tão algarvio “já agora logo amanhã”, sem que até hoje se haja alicer-çado o estatuto orgânico e oficial deste desejado propósito de autonomia administrativa.
Sem minimizar quantos têm sido esperançados guardiões desta vontade não posso nem quero deixar de referir os estudos e trabalhos que a sapiente inteligência desse testemunho de cidadania, de democrata e de algarvio que foi o sempre saudoso dr. Júlio Filipe de Almeida Carrapo.
Quanto a mim os esforços realizados, prestando o tributo de aplausos a quantos mais directa e diligentemente o têm promovido ao longo de décadas, necessita de uma permanente e estruturada continuidade, que não apenas, pelo menos assim assoma à opinião ao sentir do povo que o somos, em momentos ou movimentos esporádicos sem a participação activa, aderente e participada das gentes algarvias.
As “élites” intelectuais e políticas condutoras têm que o ser e existir em paralelo, mas os outros mais de 400 mil algarvios (repito, naturais ou residentes) têm que ser “educados”, sensibilizados e chamados a alinhar na causa da regionalização.
Os grandes não lhes chamariam apenas de “projectos”, mas de “sonhos”, que de tão prolongados período de gestão, parecem cada vez mais distantes, prosseguem nessa indefenida “hibernação”, sem que surjam as vozes, os movimentos e as posições suficientemente claras, definidas e decididas de serem capazes de dizer aquilo que queremos e porque o exigimos.
Antes de D.Sebastião, já D.João II, por aqui tinha estado, onde tinha vindo de visita em busca de cura para o mal que padecia e que hoje em dia é considerada a doença dos ricos: a gota.
Para alívio das suas dores davam-lhe os melhores manjares para que ele recuperasse, não das facadas que tinha dado ao seu cunhado o Duque de Viseu, mas das dores horríveis que tal padecimento provoca: assim davam-lhe passarinhos fritos e os melhores mariscos que haveria em Alvor. Nomeadamente as boas e grandes amêijoas da terra onde ele viria a falecer em 1495.
Mas D. João II, merece todo o respeito, porque como se pode dizer hoje, foi um bom gestor dos interesses do reino face a Castela, tentando, inclusivé por via do casamento o seu domínio.
Não foi só ele que morreu gotoso. Uma boa maioria dos reis era desse mal que padeciam, pela muita carne de caça que comeria. O “pexinho”, e os legumes não faziam parte da sua dieta, e o resultado era sempre o mesmo, morrendo por mal comer.