JOÃO LEAL

CRÓNICAS DE UM OUTRO ALGARVE

Na memória do dr. Emílio Campos Coroa

Completaram-se, no passado dia 25 de Outubro, vinte e cinco anos sobre a morte dessa figura de cidadão, médico, pedagogo, poeta, artista, rea-lizador cinematográfico e democrata, que foi o dr. Emílio Campos Coroa, sem dúvida, das figuras maiores dos obreiros da vida cultural algarvia no século XX.

Natural de Beja, este “algarvio assumido”, cuja saudosa memória permanece viva e omnipresente na nossa mais afectuosa saudade, licenciou-se com alta classificação em Medicina, de que se especializou em várias áreas (oftalmologia, saúde escolar, etc.) e foi na sua intensa vida de estudante universitário figura destacada da vida coimbrã, de modo próprio do TEUC (Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra, fundado e dirigido pelo Dr. Paulo Quintela.

Aí conheceu a que seria sua futura e dedicada esposa e devotada mãe de seus filhos, a então estudante de Letras e também grande artista, a dra. Maria Amélia Coros, cuja interpretação de “Súplica da Cananeia” é considerada como das melhores de sempre realizadas.

O dr. Emílio Coroa foi um irmão pleno dessa outra grande figura da Arte e da Educação do Algarve, o eng. José de Campos Coroa, que director da Escola Secundária de Vila Real de Santo António e que viria a sucumbir num acidente de viação, ocorrido entre Faro e a cidade pombalina.

Ambos e para além de outros estabelecimentos  exerceram também a docência pedagógica nas Escola Industrial e Comercial Tomás Cabreira e a ambos se referindo os amigos e conhecidos pelo tratamento afectivo, quando a cada qual se referiam, de “mano Emílio” ou “Mano Zé”.

Após ter exercido a clínica médica em Portimão, fixou-se em Faro, na segunda metade dos anos 50 do século XX e desenvolveu toda uma acção do mais elevado sentido e acutilância em múltiplas áreas, de que recordamos o Cine Clube de Faro (passando-se então de uma para duas sessões mensais), o Círculo Cultural do Algarve (de que o Grupo de Teatro ostentava o nome, para depois se chamar “Teatro da Serrapilheira”, quando da transição para as instalações do extinto Clube Recreativo 20 de Janeiro, na Rua do Alportel até ao definitivo Grupo de Teatro Lethes, quando da “fixação” (sê-lo-ia?) no clássico edifício que foi Colégio dos Jesuítas), do monumento ao republicano e democrata o benemérito médico dr. João da Silva Nobre, ali no Largo Bouzela e obra do artista farense Sidónio de Almeida), ao Jardim Escola João de Deus (na Mata do Liceu e com projecto do então jovem Arquitecto João Reis), ao médico oftalmologista do Hospital de Faro e à clínica estendida a várias localidades do Algarve e do Baixo  Alentejo, ao político sempre fiel às suas ideias e com uma relevância pública maior após o 25 de Abril, etc.

Faro expressou-lhe o seu reconhecimento oficial com a “Medalha de Ouro da Cidade” e dar o seu honrado nome a uma das artérias da “cidade em quarto crescente”, como um dia, numa das suas inspiradas “Crónica de Faro” e nestas colunas escreveu Mário Zambujal, mas o maior está na afectuosa lembrança de cada um e muitos milhares o são guardam deste homem – artista e médico devotado, que tanto serviu o Algarve, que escolheu, tal como seu lembrado irmão, o eng. José Coroa, para “servir, viver e morrer”.

O sentido inédito encenador da obra teatral, com as famosas representações ao ar livre – na doca (“O lugre”), nos frontais das Igrejas da Sé ou do Carmo, no actual Museu Municipal (ao tempo o que restava de uma antiga fábrica corticeira), com as lembranças de êxitos imemoráveis como “A Castro”, “O Grande Teatro do Mundo”, “A Trilogia das Barcas”, havendo com este texto de Gil Vicente  conquistado o primeiro prémio de arte dramática e um destaque especial para o Aurélio Madeira na figura do “1.º Diabo”, etc.

As memórias acontecidas com o assinalar daquele dia 25 de Outubro de 1985 em que nos deixou (o sarau artístico realizado no Teatro Lethes e a romagem de saudade à sua campa no Cemitério da Esperança) foram um transbordar para o exterior da lembrança desse genialmente fraterno, solidário e artista, que foi o dr. Emílio Campos Coroa.

Nota: O autor não escreveu o artigo ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.

Deixe um comentário

Exclusivos

Veículos TVDE proibidos de circular na baixa de Albufeira

Paolo Funassi, coordenador da concelhia do partido ADN - Alternativa Democrática Nacional, de Albufeira,...

Algarve comemora em grande os 50 anos do 25 de abril

Para assinalar esta data, os concelhos algarvios prepararam uma programação muito diversificada, destacando-se exposições,...

Professor Horta Correia é referência internacional em Urbanismo e História de Arte

Pedro Pires, técnico superior na Câmara Municipal de Castro Marim e membro do Centro...

O legado do jornal regional que vai além fronteiras

No sábado passado, dia 30 de março, o JORNAL do ALGARVE comemorou o seu...

Deixe um comentário

Por favor digite o seu comentário!
Por favor, digite o seu nome

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.