Jorge Sampaio defende em Tavira: A Europa não pode ser uma fortaleza fechada

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A iniciativa foi organizada pla Casa da Cultura de Tavira no âmbito do projeto "Tavira Ilimitada Contra Racismo e Xenofobia"

O ex-Presidente da República foi um dos convidados do debate “Racismo, Xenofobia e Outras Discriminações”, que contou ainda com a presença do “euro-deputado” Rui Tavares, dos embaixadores José Cutileiro e Paul Schmit, bem como do espanhol Juan de Diós Ramirez-Heredia, presidente da Unión Romani Internacional

Domingos Viegas

O racismo e a xenofobia “são questões de educação” e “não se pode ter uma atitude defensiva” perante estes problemas, defendeu Jorge Sampaio, em Tavira, durante o debate “Racismo, Xenofobia e Outras Discriminações”, organizado pela Casa das Artes de Tavira e que decorreu na Biblioteca Municipal Álvaro de Campos.

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O ex-Presidente da República e atual Alto Representante da ONU para a Aliança das Civilizações disse que é urgente tornar as sociedades mais inclusivas: “Temos um grande desafio: fazer entender que a Europa está a mudar e que é preciso caminhar no sentido da sociedade inclusiva e não da sociedade exclusiva. Quem pensa que somos uma fortaleza fechada está completamente enganado”.

Jorge Sampaio considerou que o aumento do racismo e da discriminação “é um fenómeno generalizado, que tem estado a progredir” e que se deve evitar falar de “excecionalidade” ou de “incidente” quando nos referimos aos acontecimentos como os de Londres ou de Oslo.

“Não se pode fechar os olhos, porque não são episódios isolados ou acidentais. É preciso enfrentar estes problemas e não podemos ter uma atitude defensiva. Há muito trabalho a fazer, por exemplo, logo desde as autarquias”, defendeu Jorge Sampaio, frisando de seguida que o nosso país “tem uma grande tradição de políticas de integração e de diálogo” e que “é preciso desenvolve-las”.

“Ser não racista não basta. É preciso ser antirracista”

No mesmo sentido, Rui Tavares, deputado no Parlamento Europeu eleito pelo Bloco de Esquerda e historiador, defendeu que o antirracismo é “mais importante” do que o não racismo. “Ser não racista não basta, porque isso é não ligar ao debate. É preciso ir mais longe e ser antirracista, ou seja, lutar para que os direitos não sejam violados”, explicou Rui Tavares, acrescentando que o racismo “é anticívico e empobrece a comunidade como um todo”.

Por seu turno, José Cutileiro considerou que a Europa “está a passar de cavalo para burro”, pois não está a ter em conta as sua próprias necessidades. Recordando que a população em idade de trabalhar esta a diminuir, o embaixador e antropólogo defendeu que “os imigrantes são necessários em determinados setores da economia” e que a Europa “precisa de muitos imigrantes, pois caso contrário não dá conta do recado”.

O embaixador disse que em tempos de prosperidade “cabe sempre mais um”, mas que em tempos de crise “há tendência para procurar culpados” e que, na maioria dos casos, são sempre os imigrantes, o que “não corresponde à verdade”.

“A Alemanha nazi não nasceu de um dia para o outro”

Outro dos alertas, e que tem a ver com a propagação da extrema-direita, foi deixado por Juan de Diós Ramirez-Heredia, presidente da Unión Romani Internacional.
“Quando fui deputado no Parlamento Europeu havia 25 deputados de extrema-direita, mas neste momento já há mais de meia centena. Esta é uma realidade que está aí e que deve ser pensada”, alertou aquele que foi o primeiro deputado cigano eleito para o Parlamento espanhol e que, posteriormente, esteve 13 anos como deputado no Parlamento Europeu.

“A Alemanha nazi não nasceu de um dia para o outro”, frisou Ramirez-Heredia, lembrando que “foi crescendo através de uma propaganda que começou muito antes”.
Esta iniciativa da Casa das Artes de Tavira, que esteve incluída no projeto “Tavira Ilimitada Contra o Racismo e a Xenofobia”, iniciado em março e que incluiu diversas iniciativas, contou também com a presença do embaixador luxemburguês em Portugal, Paul Schmit.

O diplomata revelou que 70 por cento dos desempregados do seu país são cidadãos estrangeiros e que os portugueses representam 32 por cento dos desempregados. Paul Schmit recordou ainda que cerca de 20 por cento da população residente no Luxemburgo é portuguesa ou lusodescendente e explicou que o facto de o desemprego afetar tanta população estrangeira deve-se às dificuldades na aprendizagem da língua.

Aliás, o diplomata referiu mesmo que o sucesso da integração está muito dependente da aprendizagem das línguas faladas no Luxemburgo (luxemburguês, alemão e francês), bem como, mais tarde, e já na escola, o inglês. Por isso, acrescentou, a integração é bastante mais fácil para quem chega ao seu país antes da idade escolar.

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