Jorge Xavier Morato: Um talento oculto

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O Jornal do Algarve descobriu um pintor português profissional, na VII edição do “paseo por el arte” em Ayamonte, que ocorreu no mês de agosto. Falamos do pintor, Jorge Xavier Morato, um lisboeta com 82 anos que adora as cidades algarvias, trabalhou na área de publicidade em empresas de renome, mas tinha uma paixão escondida, a pintura.

O pintor Morato, relembrou que sempre desenhou, mas só depois de se reformar é que começou a dedicar-se a 100% à pintura e percebeu que tinha um talento oculto, que precisava explorar. Atualmente, pinta quadros, essencialmente em acrílico, dos quais salientou obras pintadas como Tavira (um dos locais favoritos), Faro, Olhão, Lagos, Vila Real de Santo António, Alcoutim, Porto, Figueira da foz, Lisboa, Óbidos e diversos locais de Espanha. Suas obras destacam-se pelas cores intensas, os tons dourados, laranjas e violetas, Morato pinta a luz de um modo singular, brinca com as cores, usando pinceladas mágicas que preenchem seus quadros de um modo tão especial e único, que só Jorge Morato sabe como fazer.

Jornal do Algarve (JA): Quando é que começou a pintar e como é que surgiu esta paixão?
Jorge Xavier Morato (JXM): Deus dá a vocação a cada um, ou seja, o que tem a vocação de escritor escreve ou verifica que realmente tem aptidões para escrever, com a pintura ou arte em geral eu acho que é a mesma coisa. Eu nunca tive nenhum problema em orientação profissional, em Lisboa havia um sítio oficial onde se levavam os jovens para realizarem testes e descobrir a aptidão, havia alguns que era uma surpresa porque tinham várias aptidões. No meu caso, desde criança que eu já sabia o que queria, porque gostava de desenhar. A minha mãe foi guardando os meus desenhos ao longo do tempo. Verifiquei que tinha aptidões para o desenho, colorir, fazer os desenhos com cores. Descobri que havia uma escola em Lisboa, já antiga, era a Escola de Artes Decorativas António Arroios, fui para lá e gostei imenso. Na minha época éramos 150 a 200 alunos, hoje são 1000 e tal alunos, e eu sei de jovens raparigas que também vão para essa escola, adoram o ambiente artístico que se vive ali. Daquela escola saíram profissionais muito bem preparados, penso que a Joana Vasconcelos (artista plástica) estudou nessa escola, o professor Manuel Cargaleiro, enfim tivemos muitas pessoas importantes, o professor Abel Manta, foi um dos grandes pintores na época, um diretor esplendido, o pintor Lino António, que fez os painéis da via sacra da Basílica de Fátima, no qual eu e muitos outros colegas colaboramos nesse painel. Naquela época em Portugal a publicidade estava a nascer, e eu tive a sorte de trabalhar no departamento de publicidade da Valentim de Carvalho, fazia capas de discos, e a partir daí passei para uma agência a sério a J. Thibaud & Compagnie que mais tarde se tornou na Lintas que pertencia à Fima Lever da Unilever. Tive muita formação e estágios no exterior. Quando “toquei o meu teto profissional em Portugal” fui para Espanha, como estou casado com uma espanhola nascida em Lisboa, a minha saída natural foi para Madrid, onde entrei numa das agências mais antigas do mundo a J. Walter Thompson, na qual trabalhei com marcas de renome. Viajei muito para variados países, tudo isso deu-me uma capacidade de autocrítica que “quando terminei com a publicidade e ela acabou comigo”, comecei a pintar. Na publicidade desenhava todos os dias para as campanhas, enquanto trabalhava não tinha possibilidade de pintar, como diretor criativo ou de arte, não tinha tempo, pois chegava a casa “estourado” como se diz e queria descansar, também precisava de dar atenção à família, tinha esposa e quatro filhos pequeninos. Quando terminei a publicidade pensei no que é que eu sabia fazer, se era pintar, desenhar e comecei a fazer pinturas com sentido artístico, já não era com uma visão publicitária e comercial.

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JA: Que tipo de quadros pinta?
JXM:
Eu gosto de pintar as cidades antigas, paisagem urbana. Eu comecei por aí, pouco a pouco fui melhorando o estilo, até encontrar um estilo próprio, um colorido, uma forma da pincelada. Atualmente, pessoas amigas que conhecem a minha obra, dizem “a sua pintura conhecesse à légua, vê-se imediatamente que é pintado pelo Jorge Xavier Morato”.

JA: Qual a técnica que mais gosta e porquê?
JXM:
Eu gosto de pintar com todas as técnicas e com todos os materiais. Comecei por pintar a óleo, até na António Arroios, depois foi Guache que era o que se pintava naquela época, até que apareceram os acrílicos. Eu sou um grande propagandista dos acrílicos, porque é uma pintura que se usas muita água podes pintar como técnica de aguarela, e se usas muita matéria (tinta) a pintura tem um aspeto de óleo, há uma vantagem o diluente é água, não é terbentina, nem aguarrás, nem é algo que cheire. Mas, a tinta seca rapidamente e temos de ter cuidado com os pinceis, têm de estar limpos. Porém, se a pintura seca e não estamos satisfeitos podemos pintar em cima, para além disso, pode-se pintar em qualquer suporte, desde que não seja gorduroso, portanto é uma pintura universal. O Acrílico vem dos moralistas mexicanos, quando apareceu eram pinturas industriais que eles começaram a utilizar para os grandes murais que têm no México, da revolução mexicana, e os fabricantes de pintura viram que havia um grande mercado e daí surgiram os acrílicos.

JA: Quais os locais do Algarve que o inspiraram, levando-o a pintar os seus quadros?
JXM:
Eu pintei um local que gosto muito, que é Alcoutim e Sanlucar del Guadiana (Espanha do outro lado do rio), é muito bonito o Rio Guadiana entre os dois, pintei Vila Real de Santo António, Monte Gordo, Albufeira, Tavira, gosto muito de pintar Tavira é realmente uma cidade que se “presta muito”, mas como eu disse o que importa é pintar. Também fiz retratos, tenho um quadro grande da minha neta Bárbara que vive em Dublin, pintei todos os meus netos e a minha mulher.

JA: Em que locais do Algarve é que teve a oportunidade de expor as suas pinturas?
JXM:
Já fiz exposições no Casino de Monte de Gordo, no Mercado de Escravos em Lagos, também fiz em Faro e em variados locais. Neste momento creio que já não tenho de fazer curriculum, mas, no início da minha carreira de pintor artístico tinha de viajar muito, fiz exposições por todo o Portugal, de norte a sul e também em Espanha. Agora continuo pintado, pois o que eu gosto é de pintar.

JA: De acordo com a sua experiência o que é que permite um pintor sair do anonimato e passar a ser famoso?
JXM:
Eu acho que é encontrar um bom padrinho, como em todas as atividades humanas, se temos um empurrão e um “pontapé de saída” como se diz no futebol, facilita muita a vida à pessoa que começa… eu já comecei bastante tarde. Antigamente, tínhamos os mecenas, hoje em dia, há as galerias de arte, embora tenham um sentido comercial, elas estão sempre à espera de encontrar “um pássaro de ouro” e quando conseguem, tentam vender os quadros aos seus clientes habituais. Antes da vernissage ao grande público, chamam um determinado cliente e apresentam o novo pintor, mas isso tem um sentido, não sei se será só por amizade ou também um sentido comercial.

Veja o vídeo da entrevista:


Carmo Costa

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