José Afonso Furtado fala da nomeação da “Time”

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“Não sou muito sociável”, comenta José Afonso Furtado, diretor da Biblioteca de Arte da Gulbenkian, foi considerado pela “Time” como autor de um dos 140 feeds mais interessantes do Twitter.

A “Time ” chama-lhe o “Borges do Twitter”. A comparação com o poeta e ensaísta argentino Jorge Luís Borges deixa o bibliotecário e professor universitário português “perturbado”. Em entrevista concedida ao Expresso na sua casa em Lisboa, confessa estar permanentemente ligado à Net mas que odeia falar ao telefone. “Tenho um iPhone, mas nem sei o número”, afirma José Afonso Furtado.

Como é que descobriu o Twitter?

Comecei a usar redes sociais por sugestão da minha filha, que vive em Bruxelas. Convenceu-me a entrar no HI-5 e depois, em conjunto, fomos fazendo o upgrade. Atualmente, estamos no Facebook e no Skype. Por paradoxal que pareça não sou muito sociável. Para mim, as redes sociais servem para partilhar informação.

Que tipo de informação partilha?

A minha vida pessoal confunde-se bastante com a minha vida profissional, porque a minha paixão são os livros. Twitto de forma muito focalizada sobre bibliotecas, edição em todas as suas formas e o impacto das tecnologias nestes mundos. O que faço normalmente em 140 carateres é dar um título ou fazer um comentário e juntar um link.


Quantas pessoas segue?

Sigo duas mil e tal pessoas, mas na realidade o meu foco fica-se por 50 a 100 pessoas. Essas interessam-me muito. Muitas dessas pessoas têm blogues, mas twittam antes de blogar. Se se ganha credibilidade junto dessas pessoas acabam por vir outras que nem sabia que existiam – e com o tempo vai-se criando uma comunidade.

O número de pessoas que o segue cresceu desde que foi nomeado pela “Time”?

Em apenas quatro dias passaram de 5500 para mais de 7000.

Entre os novos seguidores há algum que o tenha surpreendido?
Houve. Tenho tentado perceber quem está a entrar e houve uma pessoa que me surpreendeu, porque nunca pensei que me pudesse seguir. Foi o prémio Nobel da Economia Paul Krugman .

Quantas horas passa por dia ligado à Internet?

Estou sempre na Internet, exceto quando estou a dormir ou a dar aulas. Mesmo aí, estou com um computador à frente, mas não, necessariamente, a navegar na Net.

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Como é que acede ao Twitter?
A partir do meu portátil e dos meus tablets. Tenho um iPad e um Galaxy Tab . Há alguns anos tomei algumas opções na minha vida. Primeiro: viver sozinho. Seria impraticável partilhar esta casa com mais alguém. Ela corresponde ao modo de vida que escolhi. Segundo: odeio falar ao telefone. Fui chefe de gabinete de dois ministros e ia enlouquecendo com os telemóveis. A partir do momento em que larguei essas funções, em 1997, decidi colocar um ponto final na minha relação com os telemóveis. Tenho um iPhone, mas nem sei o número. Está no carro, para pedir ajuda se tiver um acidente. Mas não uso telemóvel. Optei por usar o email. Principais vantagens: permite-me responder quando quero. Às vezes até é melhor não dar uma resposta imediata.

Os computadores estão condenados por esta febre da mobilidade?
Há quem defenda que sim, mas eu tenho dúvidas. Encaro os dispositivos portáteis como extensões do computador. Se eu tivesse de escrever um ensaio num iPad ia demorar dez vezes mais do que se o fizesse no meu portátil. Porque este computador está feito para isso. Tem um ecrã maior, um teclado que posso usar quase cegamente. É uma excelente máquina para processamento de texto.

Que impacto terão estes dispositivos na leitura?

As tecnologias estão cruzadas com a sociedade e os livros eletrónicos só se imporão se a população os aceitar, ou seja, se considerar que eles trazem um valor acrescentado em relação ao livro impresso. Não estou a falar de preço, mas de qualquer coisa a mais que o livro impresso não dá.

O livro digital vai matar o livro impresso?

O livro perdeu o local icónico e central que tinha na nossa civilização. O livro, tal como o entendemos há centenas de anos, passou a ser mais uma forma de transmissão de saber, entre outras que entretanto surgiram, mas que não nos ensinam a trabalhar com elas. E também não é o facto de termos um computador que nos ensina.

Porque é que a “Time” lhe chamou o “Borges do Twitter”?

Antes de mais porque sou o único latino da lista, mas também pelo facto de eu twittar em cinco línguas. Se estiver a postar algo que sei que interessa a um italiano, faço-o nessa língua. O mesmo se passa com um francês, até porque, muitas vezes, essas notícias não interessam a falantes de outras línguas. Como se sabe, o Jorge Luís Borges falava várias línguas.

PERFIL

José Afonso Furtado nasceu em Alcobaça em 1953 (58 anos), sendo licenciado em Filosofia pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Apaixonado confesso por livros, vive em Lisboa, cercado por eles.

Entre 1987 e 1991 foi Presidente do Instituto Português do Livro e da Leitura, tendo integrado o Conselho Superior de Bibliotecas desde 1998 até à sua extinção em 2007.
Desde 1992, dirige a Biblioteca de Arte da Fundação Calouste de Gulbenkian. É ainda docente do Curso de Pós-Graduação em Edição – Livros e Novos Suportes Digitais da Universidade Católica Portuguesa, sendo autor de diversas obras sobre o livro e sua transição para o mundo digital.

JA/Rede Expresso

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