Jovens de sucesso acreditam em 2021

ouvir notícia

Muito diferentes entre si, os nove jovens ouvidos esta semana pelo JA têm dois fatores em comum: para todos eles o sucesso chegou muito cedo e, por outro lado, acreditam que esse sucesso vai continuar em 2021, após um ano menos bom. Para eles e para o País. Da política ao associativismo, passando pelo mundo da cultura e das empresas, falámos com jovens de sucesso. Aqui estão as suas histórias e expetativas

Contornar a crise

Sofia Justino, técnica da associação Sê Mais Sê Melhor


Depois de terminar a sua licenciatura em Psicologia pela Universidade do Algarve, Sofia Justino, 34 anos, tornou-se numa das sócias fundadoras da associação juvenil “Sê Mais Sê Melhor”, em Faro. “Queria fazer qualquer coisa de diferente, na altura em que começou a crise económica em Portugal e com a dificuldade que havia em arranjar emprego e criar oportunidades para os jovens”, revelou ao JA.

- Publicidade -


Começando como um “projeto muito embrionário” e sem sede, foram feitos alguns projetos, campanhas e parcerias. Entre algumas das campanhas “mais dinâmicas”, Sofia destaca os abraços grátis nas ruas.


Agora, com oito anos de existência e vários projetos desenvolvidos, a associação já conseguiu integrar-se nas escolas através de um trabalho de educação não formal, com dinâmicas de grupo, jogos e temas como a igualdade de género, violência doméstica no namoro, homofobia, autoconhecimento, bem-estar, métodos de estudo e bullying.


Com mais incidência no concelho de Faro, esta associação juvenil também já tem participado em ações em Lagos e com várias associações de pais e escolas. Nas suas iniciativas, participam entre 10 e 15 voluntários com idades compreendidas entre os 16 e os 35 anos.


O ano de 2021 vai ficar marcado pelo arranque de dois novos projetos direcionados aos jovens, um deles relativo a um intercâmbio através do Erasmus+, que vai trazer um conjunto de pessoas de outros países para ir a Faro falar sobre a violência no namoro.

Criar empresas e apoiar outras

Hugo Vieira, vice-presidente da Associação Nacional de Jovens
Empresários (ANJE)


Depois de ter sido diretor nacional pelo Algarve da ANJE, Hugo Vieira, 38 anos, é agora vice-presidente da mesma associação que trabalha em duas componentes: representatividade e ajuda na criação do próprio negócio e processos de formação, projetos comunitários e a possibilidade de internacionalização das empresas.


Devido à covid-19, os associados têm procurado saber as medidas que podem aceder para apoiar as empresas, além das vantagens com parceiros e processos de formação.


Antes de abraçar este projeto, aos 18 anos foi estudar Engenharia do Ambiente para a Universidade do Algarve. Depois do curso, trabalhou numa empresa tecnológica e em 2015 criou a sua primeira empresa, a Winable, uma agência de comunicação focada no mercado hoteleiro.


Seguiu-se a criação de outra empresa, a Three Clover, em 2017, até que em 2020, desenvolveu uma plataforma de gestão de eventos e marketing digital para hotelaria.


“O Algarve tem uma boa criação de ideias de negócio, mais voltadas para o mercado da hotelaria e Turismo”, refere Hugo ao JA.
Para 2021, “o foco é a retoma”, com aposta na plataforma, ainda em versão de experimentação, que pretende combater a sazonalidade da região e “trazer vários eventos para o Algarve”, acrescenta.

De escuteira a representante dos universitários algarvios

Raquel Jacob, presidente da Associação Académica da Universidade do Algarve


Aos 22 anos, enquanto presidente da Associação Académica da Universidade do Algarve, licenciada em Ciência Biomédicas e atualmente em mestrado de Gestão de Unidades de Saúde, Raquel Jacob teve um ano de “grande responsabilidade”.


“Os eventos universitários foram todos cancelados devido à pandemia de covid-19 e a representação dos estudantes acabou por ser diferente daquilo que se estava habituado. Foi muito complicado, mas muito gratificante ver os resultados das reuniões constantes com a reitoria e entidades regionais”, refere a antiga escuteira ao JA.


Durante a pandemia, a associação teve de realojar estudantes, trabalhar junto dos serviços de ação social, dar respostas a alunos com pais a perder emprego e a entrega de refeições e materiais necessários para quem esteja em confinamento, foram algumas das iniciativas desenvolvidas.


Para 2021, Raquel espera que o ano seja “mais ponderado e com uma base de atuação”, com uma representação dos estudantes “mais demarcada”, uma vez que sabe as necessidades dos alunos. Em relação aos eventos cancelados, serão reorganizados, como uma “semana académica diferente”. “Tivemos tempo suficiente para repensar as tradições, nunca deixando de as realizar”, acrescentou.

Do design à música sem abandonar as artes

Luís Caracinha, designer e músico


Aos 16 anos, começou a estudar design numa escola profissional. Em 2007, deixou a sua aldeia de Vila Ruiva em direção à Universidade do Algarve, regressando para trabalhar no Alentejo, com uma passagem por Barcelona. Mas foi para o Algarve que voltou, em 2011, até hoje.


“Já tenho aqui uma grande raíz”, revelou Luís Caracinha, 31 anos, ao JA. Atualmente possui a empresa Epopeia, que trabalha em três áreas diferentes: “brands” para branding, “books” como uma editora literária e “records” como editora musical”.


Além do design, a música é outra das suas paixões. Foi de forma autodidata e sem instrumento que deu os primeiros passos nesta arte, até pedir a uma professora para lhe ensinar a tocar guitarra.


Depois de criar uma banda com instrumentos cedidos por uma associação da sua aldeia, aprendeu com os seus colegas através de “ouvido e prática”. Tornou-se baixista, além de compor e faz parte de bandas como “Riding a Meteor” e “Esfinge”.


O artista já pisou palcos como o Teatro Lethes, o festival MED, Boom Festival e o festival F, além de uma digressão no Reino Unido.
Para 2021, prevê retomar a estrada e atuar em território nacional e em países como Alemanha, Bélgica, Polónia e Grécia.


“A partir do verão, quero acreditar que haja uma retoma nestas atuações, que vamos poder voltar a ter uma vida mais próxima daquilo que era antes, mantendo todas as questões de segurança. A vacina vai dar alento às pessoas”, refere ao JA.

A Política não é carreira, é serviço

Abel Matinhos, presidente da JS/Algarve


Abel Matinhos, 25 anos, líder da JS na região, acredita que destoa da maioria dos jovens no topo das organizações de juventude dos partidos do Arco de Poder: “A política não é uma profissão, devemos ter uma profissão de base. Encaro a política como uma passagem e um serviço, acima de tudo. Na política, nunca estive em lado nenhum por ambição de carreira. É importante não ter uma dependência da política. Quando alguém está dependente não vai dizer tudo o que pensa”.


Licenciado em Direito, agora advogado estagiário, Matinhos ainda frequentava o Colégio Internacional de Vilamoura quando, aos 14 anos, entregou a ficha para a JS. Rapidamente trocou o boxe olímpico pelas lutas políticas, inspirado pelas autárquicas de 2009 em Loulé e pelo seu ídolo político da adolescência, Joaquim Vairinhos. No tempo de um fósforo, passou de presidente da concelhia, em 2015, a membro da Assembleia Municipal de Loulé em 2017, apenas com 22 anos. Nesse mesmo ano foi eleito líder distrital do PS.


Filho de uma família “progressista, mas não ligada ao PS”, Matinhos não foi desincentivado em casa: “Acharam que era comigo”.


Fã confesso de Pedro Nuno Santos, da chamada ala esquerda do PS, neste momento identifica-se com António Costa, mas as suas referências são históricas: Mário Soares, Maria Barroso, Jorge Sampaio, Guterres.


O ano de 2021 deixa-o otimista. “Há uma esperança na comunidade científica e na eficácia da vacina”, sustenta ele, que não foi particularmente afetado pela pandemia.


Escolher o partido “por catálogo”

Bárbara do Amaral Correia, presidente da JSD/Algarve


Para não destoar dos demais, também os pais de Bárbara do Amaral Correia, 28 anos, não são militantes de nenhum partido político. Quando a jovem aderiu à JSD, aos 20 anos de idade, o oficial de Justiça e a professora de Português apenas lhe disseram que a escolha era dela. Era maior e vacinada. Mas que lesse os programas dos partidos. E leu.


“Lembro-me de imprimir centenas de folhas e sentar-me horas numa secretária a ler as várias propostas de cada partido. Senti uma maior identificação com a ideologia do PSD, com a matriz social-democrata, com os valores de humanismo, justiça, liberdade e de democracia que captaram a minha atenção”.


Cresceu no partido. Em Loulé, tornou-se deputada municipal em 2017 e é presidente da JSD/Algarve desde janeiro de 2019. É vogal da Comissão Política Nacional da JSD desde julho de 2020.


Senti a necessidade de me tornar militante aos 20 anos, após a conclusão da licenciatura em Direito porque queria contribuir para a construção de ideias e propostas políticas. O curso de Direito fomenta imenso a participação cívica ativa, compreendemos a importância de termos um papel ativo na sociedade.


Mas remete também para “o gosto pela política”, mesmo que na altura não tivesse a perceção do que era a política, outra das razões da sua escolha.


Mas a política tem antecedentes: ainda no Básico ajudou a convocar uma greve e já no Secundário chegou a presidente da Associação de Estudantes.


Espera que 2021 seja um ano de planeamento, ao contrário de 2020, que classifica como “ano de improviso”. E vai votar em Marcelo Rebelo de Sousa, mesmo sentindo-se próxima de Passos Coelho.

Na política por causa de um americano

Igor Miguel Gago, militante do BE/Algarve


Foi Bernie Sanders, da ala esquerda do Partido Democrático dos EUA, que o trouxe para a vida política. Em 2016, quando decorriam as primárias ganhas por Hilary Clinton. “É mais velho, mas trazia ideias novas. Eram as ideias que iam mais de encontro às minhas. Não ganhou as primárias, mas era alguém que não tolerava a desigualdade económica crescente, a crise climática”.


Igor Miguel Gago, 22 anos, está no Bloco há três. Depois de uma vida passada em Olhão, excelente aluno “daqueles irritantes que não precisam de estudar”, hoje estuda Engenharia Física no Instituto Superior Técnico (IST), mas a pandemia obrigou-o a regressar a Olhão. Tem aulas online.


Em 2017 tomou a iniciativa de contatar o Bloco de Olhão no Facebook: “Hoje temos uma reunião, se quiseres aparece”, disseram-lhe. Apareceu e ficou até hoje.


Filho de mãe administrativa, e pai vendedor de automóveis, eleitores habituais do PSD, não tinha ninguém da família no BE.


O Bloco porque… “é mais aguerrido, mas tem um apoio junto dos mais jovens. Por exemplo em relação às alterações climáticas. Somos mais emotivos porque temos mais convicções e queremos uma sociedade a funcionar de um modo diferente. Não se faz uma mudança sem emoções, tem que se sentir. A Direita tem o privilégio de poder ser mais racional porque o mundo funciona da forma como eles querem. Têm o jogo a funcionar como querem”.


Acha que os jovens de hoje têm mais tendência para a Esquerda, mas reconhece que no seu IST a predominância é conservadora. “Falo com eles, damo-nos bem”.


Acredita em 2020 e nas possibilidades de Marisa Matias. “Não acredito que o Ventura chegará a 2º. Os debates vão dar cabo dele”.

Os pais fizeram perguntas


Ao contrário do que muitas vezes acontece, Pedro Jardim, 20 anos, não aderiu à Juventude do PCP por influência familiar. Saía da escola e via jovens da JCP a distribuírem folhetos, falava amiúde com eles, recebeu as suas influência, sobretudo no que respeitava ao aos problemas do ensino e das escolas que frequentava.


Aos 15 anos de idade deu com ele a justificar perante os pais a adesão à Juventude Comunista Portuguesa. “Reagiram bem. Não houve atrito. Fizeram várias perguntas mas consegui explicar bem e respeitam a minha decisão”, explica, cinco anos depois.


Então residente no Barreiro, o jovem que hoje frequenta o curso de biologia marinha da Universidade do Algarve, em Faro, acompanhou de perto várias lutas estudantis no ensino secundário na região de Setúbal. Com resultados palpáveis e várias alegrias. A maior delas foi a gratuitidade dos manuais escolares, “que foi um alívio para as famílias”.


“Eu tenho a segurança de tratar o meu partido por “tu”, porque ele está lá quando eu mais preciso. Estou a sair da escola e tenho uma pessoa a perguntar coisas sobre a minha vida”, explica Pedro Jardim, para quem a JCP é “a única juventude partidária no País que defende o que os jovens necessitam”.


Mais do que sobre o PCP, ou ideologia, Pedro fala com os outros jovens dos seus problemas do dia-a-dia.


“Ao falar com as pessoas, muitas delas meus colegas, nem sabem o que é o comunismo. Há uma desinformação grande sobre assunto.

Mas quando vou ao encontro dos colegas falo dos problemas que eles sentem. No final do dia eles não querem muito saber quem sou eu”.


Sobre o agora iniciado ano de 2021, manifesta esperanças na vacina: “Há-de ter algum efeito. Quando chegar a minha vez levo com ela!”.

Com a vida suspensa

Carolina D’Assis, militante da Juventude Popular


Filha de pai bancário e mãe funcionária pública, Carolina Assis, 25 anos, não hesita em atribuir à educação conservadora que recebeu a sua adesão à Juventude Popular (JP). A isso e à militância do pai no CDS. “CDS porque família é conservadora em termos de valores. Faz parte da nossa personalidade. Foi a educação que eu recebi, é assim que eu me identifico”.


Começou a atividade política ao contrário: primeiro o CDS, em 2013, e só a partir deste ano a Juventude do partido.


“Com mais dois amigos, decidimos formar estrutura, juntámos mais uns amigos e estamos a trabalhar. Não penso em fazer carreira política, o meu pensamento agora é fundar de novo a JP aqui em Portimão”, sublinha Carolina, que não almeja ser líder distrital quando houver condições para isso. Por enquanto, a JP não tem estruturas distritais no Algarve.


Confessa vítima da crise iniciada em março de 2020, Carolina foi “apanhada” pelos efeitos económicos e sociais da pandemia quando começava a vida ativa, depois do curso de Marketing e Comunicação em Lisboa, na Lusófona. Foi forçada a regressar ao Algarve. “Estou com a vida suspensa”, reconhece.


Não sabe ainda em quem votará nas Presidenciais mas declara-se anti-Chega, apesar de vários amigos conservadores terem aderido ao partido de extrema-direita.


“Quero acreditar que vamos ter 2021 melhor e tenho confiança”, conclui.mais uns amigos e estamos a trabalhar. Não penso em fazer carreira política, o meu pensamento agora é fundar de novo a JP aqui em Portimão”, sublinha Carolina, que não almeja ser líder distrital quando houver condições para isso. Por enquanto, a JP não tem estruturas distritais no Algarve.


Confessa vítima da crise iniciada em março de 2020, Carolina foi “apanhada” pelos efeitos económicos e sociais da pandemia quando começava a vida ativa, depois do curso de Marketing e Comunicação em Lisboa, na Lusófona. Foi forçada a regressar ao Algarve. “Estou com a vida suspensa”, reconhece.


Não sabe ainda em quem votará nas Presidenciais mas declara-se anti-Chega, apesar de vários amigos conservadores terem aderido ao partido de extrema-direita.


“Quero acreditar que vamos ter 2021 melhor e tenho confiança”, conclui.

Gonçalo Dourado | João Prudêncio

- Publicidade -
spot_imgspot_img

Deixe um comentário

+Notícias

Exclusivos

Deixe um comentário

Por favor digite o seu comentário!
Por favor, digite o seu nome

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.