Jovens lusos seduzidos pela Jihad em França

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Portugueses residentes na região parisiense andam alarmados por conhecerem pessoalmente jovens luso-franceses convertidos ao islamismo mais radical e as famílias destes últimos vivem dias de aflição.

Depois dos ataques terroristas da semana passada, em Paris, os lusodescendentes transfigurados pela adesão a uma forma de fanatismo islâmico são mais discretos e veem-se menos em locais públicos. No entanto, em Trappes, Mantes-la-Jolie, Coignières, Champigny-sur-Marne ou Villeneuve-Saint-Georges, o Expresso confirmou os nomes de duas dezenas de jovens que os emigrantes mais velhos – e nalguns casos também a polícia – consideram integristas.

Só na pacata vila residencial de Yerres, ao lado de Villeneuve-Saint-Georges, 30 quilómetros a sudeste da capital, há, pelo menos quatro filhos de portugueses radicalizados. Um deles, chamemos-lhe João, de 26 anos, partiu na última sexta-feira, às sete da manhã (6h em Lisboa) para a Arábia Saudita, onde oficialmente vai estudar árabe durante dois anos. “Diz que quer ser professor de árabe, mas pensamos que vai estudar religião e aprender a manejar armas”, afirma uma tia ao Expresso. Toda a família está inquieta. Evocam Mickael dos Santos, de Champigny, que foi recentemente notícia por ser um dos mais extremistas do Daesh, na Síria.

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Foi a mãe, que quer acreditar no filho, que o levou de carro ao aeroporto. Durante a curta viagem ele garantiu-lhe que apenas abraçou a religião e não o jiadismo. João terá tudo pago por uma associação muçulmana financiada pela Arábia Saudita. Mãe e pai recusam falar a jornalistas.

“É um rapaz sereno, levou também a irmã, com 20 anos, para a religião. Agora é pior do que ele. Usa véu e até deixou de me falar por a tentar chamar à razão”, acrescenta a tia. O silêncio dos pais, bem como as nossas precauções na divulgação da identidade dos dois jovens e família, justificam-se devido às medidas de segurança excecionais tomadas pelas autoridades.

Desde o atentado contra o “Charlie Hebdo”, no passado dia 7, suspeitos de ligações aos integristas islâmicos têm sido detidos para interrogatório.

“O meu sobrinho deixou crescer a barba, pôs touca na cabeça, usa túnica, deixou de comer carne de porco, casou-se na mesquita com uma marroquina que tinha conhecido pouco tempo antes, diz as orações, é rigoroso nisso tudo”, explica a tia.

João tem uma filha que fez nove meses no dia 11 deste mês. “Ele diz que depois leva também a família para a Arábia Saudita. A irmã estará à espera que lhe arranje um marido por lá e, agora, ela não sai de casa, passa os dias a rezar”.

Polícia com dossiê

Os quatro jovens de Yerres nasceram e foram criados por famílias católicas praticantes. A conversão dos lusodescendentes é discutida abertamente em dois cafés e restaurantes portugueses da localidade. António Manuel, dono de uma churrasqueira, conhece mais dois irmãos na casa dos 30 anos. Anabela, proprietária de um café-restaurante, também conhece bem um deles.

“É o Bruno, pertence a uma família com muitos filhos, que foi minha vizinha até há um ano, a casa deles estava cheia, por todo o lado, de símbolos religiosos cristãos, até era de mais”, exclama a portuguesa, mãe de três filhos de 12, sete e nove anos.

“Sim, é o Bruno e o Felipe, são casados com raparigas muçulmanas que lhes arranjaram lá, no meio da religião deles. Um tem um filho pequeno, são ambos muito radicais”, acrescenta António.

Anabela e António estão claramente inquietos com o clima de tensão na região de Ile de France (em Paris). Receiam o pior. “Infelizmente, tenho quase a certeza de que o terrorismo vai continuar, eles são muitos e quando até há portugueses metidos nisso é porque a coisa está mesmo grave”, sublinha este empresário.

Depois dos atentados, Anabela preocupa-se com a segurança dos três filhos que frequentam a escola pública da localidade, na qual, constatou o Expresso, não se veem agentes policiais à porta, ao contrário do que acontece num enorme colégio interno judaico (privado) que, a algumas centenas de metros, é vigiado dia e noite por agentes armados com pistolas-metralhadoras.

Em Yerres, a mesquita frequentada pelos jovens portugueses convertidos, não tem qualquer sinal distintivo exterior que a identifique como tal.

É uma pequena casa banal, parece uma residência privada como muitas outras do bairro, e está localizada no quarteirão de Camaldules, a meio caminho de dois restaurantes portugueses: o ‘albergue’ Bairro Alto e o Café Bleu, a 200 metros um do outro.

Pedro, proprietário do primeiro, de 32 anos, recusa comentar o que quer que seja. O assunto é delicado e as pessoas tomam precauções, que por vezes parecem exageradas.

Receio de falar para o jornal

Entre todos os entrevistados pelo Expresso, apenas António Manuel aceitou ser filmado. A referida casa que funciona como local de culto foi comprada recentemente por uma associação muçulmana.

Em Trappes, Coignières, Mantes-la-Jolie e noutros locais, a situação é idêntica à de Yerres. Na primeira destas cidades existem lusodescendentes convertidos ao integrismo islâmico desde 2008 e são conhecidos por dirigentes de uma associação portuguesa local.

A polícia francesa tem um dossiê sobre estes lusodescendentes de Trappes desde há pelo menos um ano.

RE

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