Luís Villas-Boas diz que palavra acolhimento “foi prostituída”

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O diretor do Refúgio Aboim Ascensão, Luís Villas-Boas, teceu duras críticas aos modelos interventivos vigentes em Portugal no âmbito da denominada Emergência Infantil (para crianças dos 0 aos 5 anos) e defendeu que com a atuação tardia, provocada pela má organização institucional e pela falta de meios das CPCJ (Comissões de Proteção de Crianças e Jovens), esta-se a “brincar à proteção”.

Luís Villas-Boas, que encerrou a jornada sobre “Maus Tratos a Crianças”, que decorreu em Alcoutim, apontou ainda o dedo ao acolhimento de crianças em Portugal, referindo que a palavra acolhimento “foi prostituída”, já que são estimulados laços afetivos com as crianças que depois não podem ser mantidos.

“Acolhimento sim, mas a partir dos 6 anos, quando as crianças já podem perceber que aquelas pessoas não lhe pertencem, nem ela a eles”, afirmou o diretor do Refúgio Aboim Ascensão.

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Claramente descontente com a intervenção realizada no país em casos de maus tratos a crianças, Villas-Boas considerou que as promessas políticas de seguir o modelo do Refúgio Aboim Ascensão a nível nacional foram feitas, mas “a verdade é que até hoje ainda ninguém mexeu nesta área”.

A adoção foi outro dos temas da sua intervenção. Luís Villas-Boas criticou o tempo de espera do casal que quer adotar, o quel se vê perdido em burocracias e na falta de organização. “Em dois dias avalia-se um casal para adoção”, garantiu, referindo-se ao início do processo de adoção, que chega a levar meses ou anos e que acaba por transformar os centros de acolhimento em “depósitos de crianças”.

Na sua intervenção, o presidente da Câmara Municipal de Alcoutim, Francisco Amaral, referiu-se ao alcoolismo como a génese dos maus tratos a crianças no seu concelho, acrescentando que “este problema ainda não é tratado a nível nacional como uma dependência”.

Martine Carapeto, psicóloga clínica e investigadora na área da violência, ajudou a audiência a perceber o que são maus tratos, como detetá-los e sinalizá-los, lembrando que a denúncia é “uma obrigação moral, social e legal”.

Esta jornada sobre maus tratos a crianças sensibilizou elementos das CPCJ, técnicos de intervenção social, educadores, técnicos de saúde e elementos das forças de segurança, para a necessidade de reconhecer, sinalizar e atuar em situações de risco.

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