Mais de 50 diplomatas criticam estratégia de Obama e pedem bombardeamentos contra Assad

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O secretário de Estado norte-americano, John Kerry

Mais de 50 diplomatas norte-americanos assinaram um memorando interno enviado à administração Obama por um “canal de dissidência” dentro do Departamento de Estado, onde tecem duras críticas às políticas do Presidente face à guerra na Síria e onde pedem que os EUA levem a cabo bombardeamentos aéreos contra as forças de Bashar al-Assad para acabar com as persistentes violações de um cessar-fogo implementado em fevereiro, ao final do quinto ano consecutivo de guerra civil.

No documento, a que o “New York Times” teve acesso, os diplomatas dizem que a política norte-americana na Síria foi “esmagada” pela contínua violência no terreno e pedem “um uso criterioso de armas aéreas que sirva de base e conduta de um processo diplomático liderado pelos EUA que seja mais focado e duro”.

Atacar posições das forças leais a Assad equivaleria a uma alteração radical da estratégia de Obama ao sexto ano consecutivo de guerra na Síria, podendo conduzir a retaliações por parte do regime, que desde 2011 tem avisado a comunidade internacional contra qualquer tentativa ou efetiva violação da sua soberania. Todos os esforços diplomáticos encabeçados pelo chefe da diplomacia norte-americana, John Kerry, têm falhado sucessivamente.

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O documento deixa exposta a frustração e as cisões dentro do Departamento de Estado norte-americano sobre a melhor forma de lidar com uma guerra que oficialmente já provocou quase meio milhão de mortos e muitos milhões de deslocados e refugiados.

O canal usado para fazer circular o memorando foi criado durante a Guerra do Vietname para que os funcionários do Departamento que discordam das políticas possam registar as suas queixas junto do secretário de Estado e de outros altos cargos sem medo de represálias. Segundo refere o “NYT”, “apesar de os canais de dissidência serem comuns, o número de signatários deste documento, 51, é extremamente elevado, senão sem precedentes”.

Entre os diplomatas que assinam o memorando não há “nomes muito conhecidos”, mas o jornal refere que é sabido que altos cargos do Departamento de Estado partilham da mesma opinião crítica quanto à estratégia de Obama de se limitar a bombardear, por via aérea, bastiões do autoproclamado Estado Islâmico (Daesh) no país.

Contactado pelos jornalistas, John Kirby, o porta-voz do Departamento, recusou-se a comentar o documento, dizendo apenas que Kerry respeita o processo e a forma que os funcionários têm de “expressar as suas visões políticas de forma cândida e privada aos seus líderes”. Robert S. Ford, ex-embaixador dos EUA em Damasco, diz por sua vez que “várias pessoas que trabalham para o Departamento de Estado concentradas na Síria pedem há muito políticas mais duras face ao Executivo de Assad como meio de facilitar a chegada de um acordo político negociado que crie um novo Governo sírio”.

No memorando, os diplomatas deixam sublinhado que “o racional moral para tomar medidas que acabem com as mortes e o sofrimento na Síria, após cinco anos de uma guerra brutal, é evidente e inquestionável. O statu quo na Síria vai continuar a apresentar-se cada vez mais terrível, senão desastroso, humanitária e diplomaticamente e ao nível do terrorismo.

Joana Azevedo Viana (Rede Expresso)

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