Mais umas barraquinhas

Às vezes, não demasiadas, para enjoar pouco, escrevo sobre o que um ou outro político fez, ou faz, de bem ou mal e que suaviza um pouco o princípio, cínico, que uso generosamente e que refere: na sua essência, grande parte dos políticos é igual. Não da forma como o Chega os retrata, mas, especialmente iguais na mania das grandezas, modas e linguagem. E na forma como juram, a pés juntos, que não, não são todos iguais. No resto são, como todos nós (deviam ser um pouco melhores. Pastoreiam-nos a vida, pelo menos até certo ponto), uns melhores outros nem por isso. Os melhores capazes do pior e os piores nem sempre dispostos ao melhor, que irregularmente praticam. Os de grande capacidade intelectual e Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia que considerou como “chantagem”, os russos terem feito chantagem ao exigir o pagamento do petróleo e do gás natural em rublos.Claro, que tudo isso, depois do Ocidente ter feito “chantagem” ao acordar uma série de sanções e dalilas, na tentativa de reverter a agressão russa. A questão é que existindo alguém que está com a razão (Ucrânia, Ocidente) ao impor sanções, que não são exactamente brincadeira de crianças, não pode esperar que os russos (por muito maus que sejam e talvez por isso mesmo), não tenham a mesma ideia. Pensava que este truísmo fosse de aceitação geral. Aparentemente ou não, é, ou Leyen terá aproveitado este reboque para mandar mais umas achas para a fogueira. E bem precisada estava.
Considerando que neste oásis à beira mar plantado, nem sempre nos apercebemos que também contamos para as contas da realidade global, eis que, mais ou menos a um ritmo quinzenal, lá vem uma chatice para nos mostrar que estamos vivos. Lembro aqui o caso dos funcionários russos (ou funcionário russo?) que atenderam na Câmara de Setúbal, refugiados ucranianos. Apenas alguns dias depois de ter lido as primeiras notícias percebi que os tais funcionários seriam partidários de Putin. Até essa altura tinha ficado com a ideia, que havendo conflitos de interesses, nunca se devia ter posto a questão. Não podendo ser funcionários russos (imigrantes a trabalhar legalmente em Portugal) a atender ucranianos (imigrantes vindos para Portugal), estaríamos em presença de mais um caso de xenofobia. Tanto mais quando tinha visto há bem pouco tempo uma manifestação de imigrantes russos em terras lusas, partidários do fim da invasão russa e apoiantes – provavelmente até certo ponto, não sejamos exagerados e garganeiros – do fim da guerra. Sendo, como parece, partidários de Putin, funcionários numa Câmara do PCP, então já lá começa a vir ao de cima um pouco de cheiro a esturro, porque o longo braço do PCP talvez não seja apenas uma miragem. O ponto será o de os funcionários serem putinhenses de gema. Sabendo isso questiono porque o nosso jornalismo televisivo deixou esse facto quase em ponto morto? Será o busílis da questão, mas não para as nossas televisões.

Fernando Proença

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