A capital moçambicana está a viver hoje um cenário de guerra: nas ruas, a polícia está a disparar balas verdadeiras contra a população enfurecida que não arreda pé e insiste com barricadas em protesto contra o aumento de preços.
Para os que estão no centro de Maputo, o dia parece normal, mas à medida que se sai da zona urbana a situação é mesmo de caos. Há relatos de mortos, vítimas de disparos diretos e de balas perdidas. Os números variam, mas diferentes testemunhas asseguram a morte de crianças.
Desde a Julius Nyerere, a zona nobre da cidade, passando pelo Alto-Maé até ao bairro do Benfica, as lojas e bancos estão fechadas, algumas vandalizadas.
Na zona luxuosa de Maputo, os carros e as pessoas circulam com alguma normalidade, embora em número reduzido. Já nas zonas suburbanas, o lixo, os pneus e carros incendiados barram a passagem de quaisquer automobilistas que pretendem circular em todas as principais artérias.
Mas a polícia prossegue, tentando repor a ordem: dispara, lança gás lacrimogéneo… A população retalia com pedras contra os carros da polícia.
Em alguns locais, a presença policial parece facilitar o trabalho dos jornalistas, mas noutros, a nenhum repórter é admitido captar imagens. Nem mesmo os carros de jornalistas são autorizados a passar em todos os lados.
A polícia, nervosa, adverte, para o perigo de contacto com os manifestantes, contudo, estes insistem em formular convite para entrevistar o grupo de mulheres, homens e crianças que está “a sofrer”.
“A população tem razão. Isto tudo (a manifestação) tem a ver com a subida contínua dos preços”, diz à Lusa José Mapengo, estudante, que caminha do centro da cidade até ao bairro T3, na Matola, por falta de transporte semi-coletivo de passageiros, vulgo “chapas”.
“Eu condeno o ato de vandalismo”, diz José Mapengo, apontando para os pneus queimados no semáforo do bairro do Jardim.
“Vi um amigo meu de 22 anos ser atingido pela polícia”, confirma à Lusa João Tomás.
Ao seu lado estão alguns populares que gritam: “Povo no poder”, a letra da musica do Azagaia, rapper, que lançou essa musica aquando de manifestações idênticas há dois anos, que segundo números oficiais provocaram dois mortos e mais de 40 feridos.