Maria Campina, a louletana que pôs Salzburgo de pé

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Concerto de Maria Campina em Loulé, no Cine-Teatro Louletano, no dia 12 de agosto de 1935, depois de acabar o curso de piano

Para encerrar as comemorações do 100.º aniversário do nascimento da pianista Maria Campina, que se assinalou ao longo do ano de 2014, a Câmara Municipal de Loulé apresenta a exposição “Maria Campina, a louletana que pôs Salzburgo de pé”, que pode ser visitada a partir de amanhã e até 31 de março, no Cine-Teatro Louletano.

O título é inspirado pelo professor Winfried Wolf que, após a participação de Maria Campina no concurso internacional em Salzburgo (Áustria), no qual alcançou o primeiro prémio, referiu que esta “obteve um grande triunfo tendo posto de pé Salzburgo”.

A mostra pretende valorizar o seu projeto de vida, ou seja, a sua dedicação à música e à pedagogia musical. Maria Campina, mulher emancipada em relação ao seu tempo, visionária do desenvolvimento cultural para a região algarvia, deixa-nos um legado incontornável de uma vida dedicada à pedagogia social e cultural.

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Maria Campina de Sousa Pereira nasceu em Loulé, a 18 de janeiro de 1914. Condsiderada uma das mais talentosas pianistas da Europa, concluiu o seu curso superior de piano do Conservatório Nacional, onde foi aluna de grandes mestres, entre os quais Varela Cid e Luís de Freitas Branco, em 1935, com a classificação de 20 valores.

Enquanto frequentou aquele conservatório, Maria Campina foi premiada com todos os galardões para os melhores alunos, incluindo o 1.º Prémio do Conservatório Nacional, nunca alcançado por qualquer outro aluno daquele estabelecimento de ensino.

Estreou-se em Lisboa no mesmo ano, num concerto na Casa do Algarve, e fez questão de que o segundo fosse dado na sua terra natal, pouco tempo depois, no dia 8 de agosto. Todo o país fazia, então, questão em escutar aquela jovem e bonita pianista, louvando-lhe a capacidade interpretativa, a técnica e, especialmente, a sua extraordinária sensibilidade artística e emocional.

Em 1939, com 25 anos, e já casada, Maria Campina começou a lecionar como professora de piano num colégio de Lisboa. Vivia em Loures e, como nesses tempos, os automóveis eram um luxo de gente muito rica, Maria Campina tinha de se deslocar na sua pesada bicicleta a pedal.

Maria Campina não tinha mãos a medir, quer em récitas individuais, quer integrada ou como solista da Orquestra Sinfónica da Emissora Nacional, que, tal como a outra orquestra da estação oficial, a Orquestra Ligeira, percorria o país de lés a lés. Além de dar vida às partituras, a pianista também escrevia para os jornais, proferia conferências, interessava-se pela vida cultural do país.

Em 1949, Maria Campina decidiu participar num concurso internacional na Áustria, pátria de grandes músicos e intérpretes. No Mozarteum de Salzburgo, iria ombrear com quinze dos maiores pianistas mundiais do seu tempo. Interpretou obras de Mozart e de Johan Sebastian Bach e o júri, por unanimidade, o que raramente se voltou a repetir, declarou-a vencedora. Era o reconhecimento internacional da grande dama do piano.

Toda a Europa, América do Sul e África puderam, então, escutar a magia das suas interpretações. Maria Campina criou, por essa altura, na Academia de Música do Funchal, a disciplina de Iniciação Musical, mostrando, deste modo, a sua sensibilidade pedagógica e visão para as carências educativas da escola, em Portugal.

Já em Lisboa, alguns anos mais tarde, em 1962, a pianista algarvia abraçava convictamente a ideia da criação de um conservatório na região do Algarve, que outros antes haviam lançado mas que ninguém pusera em prática.

Durante dez anos, Maria Campina não esmoreceu, numa luta constante contra o imobilismo das instituições, a descrença dos poderes constituídos e a indiferença de quem tinha a obrigação de ser entusiasta e promotor.

Em 1972, Maria Campina pôde, finalmente, ainda em casa emprestada, receber os primeiros alunos do “seu” Conservatório Regional do Algarve. Durante os doze anos que se seguiram, a pianista louletana pôde dar largas ao seu sonho, formando crianças e jovens algarvios.

Galardoada, em 1979, com o grau de Comendador da Ordem de Instrução Pública, Maria Campina empenhava-se, então, com o seu marido, Pedro Ruivo, em conseguir apoios para a construção de uma escola de raiz, enquanto “fornadas” de jovens lhe iam passando pelas mãos delicadas.

Maria Campina faleceu em 27 de fevereiro de 1984 e seria o seu marido quem veria, finalmente, concretizado o seu sonho: a construção do edifício que alberga o Conservatório Regional Maria Campina.

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