Médicos internistas do Hospital de Faro recebem apoio da SPMI

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A direção da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI) manifestou publicamente a sua solidariedade com os diretores dos três serviços de Medicina Interna do Hospital de Faro, que “colocaram o seu lugar à disposição na sequência de acusações do diretor de departamento, de que os internistas viam mal os doentes, pediam exames a mais e não davam altas atempadas”.

Os diretores dos três serviços de Medicina Interna demitiram-se no final de fevereiro pelas dificuldades que o hospital tem em dar resposta à sobrelotação de doentes e devido a uma alegada pressão para darem altas antecipadas, segundo denunciou o Sindicato Independente dos Médicos (SIM).

Em comunicado, o presidente da SPMI, Luís Campos, refere que “Portugal tem a sorte de poder contar com internistas competentes e eficientes, que põem os doentes no centro das suas preocupações, que estão na vanguarda das inovações organizacionais, que suportam nas urgências o acréscimo sazonal de doentes, que assistem doentes internados que excedem em muito a lotação dos seus serviços, que passam muito do seu tempo a tentar resolver os problemas sociais dos doentes, que garantem também as urgências internas, que estão nas unidades de cuidados intermédios, de Acidente Vascular Cerebral, de Insuficiência Cardíaca, nos hospitais de dia e nas consultas”.

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Os médicos internos têm ainda exercido outras tarefas, que incluem a formação de alunos das faculdades, dos internos do ano comum, os internos a fazer formação específica em Medicina Interna e outras especialidades médicas. Além disso, “ainda fazem investigação, colaboram em auditorias e participam em múltiplas comissões hospitalares”.

A SPMI acentua que “todos reconhecem que a Medicina Interna é uma especialidade nuclear nos hospitais, cada vez mais necessária, porque os hospitais estão invadidos por doentes idosos com múltiplas patologias. Os especialistas de Medicina Interna conseguem tudo isto à custa de muito trabalho realizado para lá dos seus horários, muitas noites passadas no hospital e sem qualquer tipo de incentivo por produção adicional”.

Luís Campos realça ainda que “a visibilidade mediática das urgências e a incapacidade dos hospitais adaptarem o seu modelo organizacional à evolução demográfica dos doentes a quem têm de dar resposta colocam os internistas no olho do furacão e debaixo de uma pressão repetida das administrações”.

“Os colegas de hospital de Faro fazem parte desta gesta de internistas que tudo tem feito para que as consequências da crise económica, que ainda não terminaram no setor da saúde, não recaiam sobre os doentes. Os serviços de Medicina deste hospital estão atualmente com uma taxa de ocupação de cerca de 150%. Mais de 20% destes doentes já teve alta clínica, mas permanecem internados por motivos sociais ou a aguardar vaga na Rede de Cuidados Continuados, inscrevendo-se a sua demora média na média nacional. Os números de Faro são semelhantes aos da grande maioria dos serviços de Medicina dos hospitais do SNS. As suas angústias pela impotência sentida perante as disfunções e as carências do sistema são semelhantes à realidade da grande maioria dos internistas: os casos sociais que se acumulam, a falta de resposta dos exames complementares, a insuficiência de pessoal, a sobrecarga assistencial e outras”, sublinha o presidente da SPMI, considerando “profundamente injustas” as acusações feitas aos internistas de Faro, “que as sentimos como se tivessem sido feitas a todos os internistas portugueses”.

“Estas atitudes têm um efeito desmotivador e a motivação é uma das principais armas que restam a quem tem de gerir equipas. Estas atitudes empurram os melhores para fora do SNS. É crucial dar sinais concretos de apoio, incentivo e recompensa à Medicina Interna portuguesa, porque os nossos doentes vão precisar cada vez mais de internistas competentes e motivados”, conclui Luís Campos.

Administração do Hospital de Faro nega ter pressionado os três diretores

Esta posição do SPMI surge depois de a administração do Hospital de Faro ter emitido um comunicado onde admite ter tido uma reunião com os diretores demissionários, mas rejeita que tenha proposto “qualquer medida que colocasse em causa as boas práticas clínicas”.

“A referida reunião teve como objetivo debater assuntos internos decorrentes de um acréscimo da procura de cuidados, especialmente no período de atividade gripal, procurando, através de uma atitude construtiva e do envolvimento dos senhores diretores dos serviços, encontrar soluções que permitissem adequar procedimentos internos que visassem mitigar os efeitos do aumento da procura de cuidados hospitalares”, lê-se no esclarecimento enviado ao JORNAL DO ALGARVE pelo Centro Hospitalar e Universitário do Algarve (CHUA), garantindo que “em nenhum momento da referida reunião foi solicitado aos senhores diretores que adotassem qualquer medida que colocasse em causa as boas práticas clinicas, tendo única e exclusivamente sido solicitada uma colaboração ativa e conjunta na procura de soluções”.

“Os senhores diretores, em carta enviada ao conselho de administração, colocaram os seus lugares de direção de serviço à disposição, estando neste momento os mesmos a serem analisados”, remata a nota do CHUA.

O ministro da Saúde, Adalberto Campos Ferreira, reagiu aos pedidos de demissão dos três diretores considerando que esta é uma “situação pontual”.

NC|JA

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