Merkel “amacia” austeridade em Davos

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A chanceler alemã quer “medidas transitórias” de apoio até que as reformas estruturais inseridas nos planos de austeridade surtam efeito. Há risco político, admitiu no World Economic Forum. Ainda que mantenha que austeridade e crescimento são duas faces da mesma moeda.

“O fator tempo tem a sua importância. Os resultados das reformas estruturais levarão dois, três ou quatro anos a ver-se. A nossa tarefa, entretanto, é oferecer medidas transitórias até que as reformas surtam efeito”, disse, quinta-feira, a chanceler alemã Ângela Merkel, no seu discurso de abertura no World Economic Forum de 2013, que se reúne em Davos, na Suíça. A chanceler – que segundo os jornais chineses que fazem a cobertura do evento – falou mais como líder da Europa do que como líder da Alemanha – admitiu que a situação nos países da Europa enfrentando planos de resgate ou processos de ajustamento poderá provocar instabilidade política.

Alguns analistas veem nas palavras de Merkel o reconhecimento de que a atual abordagem “estruturalista” – como lhe chamou o Nobel Paul Krugman – baseada nas reformas estruturais tem riscos. Pelo que, medidas transitórias são indispensáveis para amaciar os efeitos da austeridade. Essa linha de medidas poderá ser discutida na próxima cimeira europeia de junho.

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Renegociação “suave”

A nível do Eurogrupo e do Ecofin já estão em discussão medidas de “envolvimento do sector oficial” europeu (a parte da troika formada pela Comissão Europeia e o Banco Central Europeu) em relação a Portugal e Irlanda, com a discussão da mudança de perfil das maturidades dos empréstimos dos fundos europeus nos planos de resgate aos dois países e o papel que o programa OMT (de compra ilimitada de dívida no mercado secundário) do BCE pode desempenhar quando os dois países tiverem regressado plenamente à emissão de dívida obrigacionista (de médio e longo prazo) no mercado primário.

Para alguns analistas trata-se já de uma operação “suave” de renegociação da dívida dos dois países à parte europeia da troika tendo em conta a carga de vencimentos de dívida após a conclusão formal dos planos de resgate. A Irlanda tem pendente o problema das notas promissórias (de que mais uma tranche vence em março), bem como não rejeita o interesse por uma linha de crédito preventiva após o fim do plano de resgate, disse ontem John Corrigan, responsável pela National Treasury Management Agency (NTMA), a agência equivalente ao IGCP português.

Duas faces da mesma moeda

Segundo os observadores do Forum, Merkel sentiu-se particularmente chocada com a divulgação naquele dia do nível de desemprego em Espanha – 26% como taxa de desemprego global e 55% de desemprego nas faixas jovens. No entanto, referiu que os níveis altos de desemprego são o preço a pagar para a Europa ser mais competitiva.

Na realidade, a chanceler não se desviou um milímetro da sua posição de princípio sobre política orçamental. “Austeridade e crescimento não são termos opostos, são duas caras da mesma moeda”, disse. Manifestou-se, também, preocupada com as mudanças em curso na política monetária à escala internacional, sobretudo com as alterações que estão a ocorrer no mandato do Banco do Japão e na sua cooperação com o novo governo de Shinzo Abe, fazendo coincidir medidas de “alívio monetário” com estímulos orçamentais. “Na Alemanha acreditamos que os bancos centrais não devem suprir os erros dos governantes. O Banco Central Europeu (BCE) fez muito nesta crise e sinto que temos a responsabilidade como políticos de fazermos os nossos deveres”, afirmou, para sublinhar: “Vejo com preocupação o que está a suceder no Japão, mas creio que o BCE tratará de evitar uma manipulação política da taxa de câmbio e da política monetária. Não vou dizer mais nada. Mas, se todos [os bancos centrais] atuassem como o BCE, não haveria problemas”.

Jorge Nascimento Rodrigues (Rede Expresso)
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