Monchique: Trinta mil toneladas de madeira queimada aguardam retirada

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Trinta mil toneladas de madeira queimada na sequência do incêndio de 2018 em Monchique aguardam a efetivação de um protocolo com o Governo para serem cortadas e retiradas do terreno, segundo o presidente da câmara.

Rui André disse à Lusa que, de uma reunião com o secretário de Estado da Natureza, das Florestas e do Ordenamento do Território, João Catarino, resultou um compromisso para um protocolo entre o município e a tutela para “assegurar o apoio ao transporte” da madeira ainda no terreno.

O autarca revelou que cinco mil toneladas de madeira já cortadas e empilhadas ao longo de várias estradas da serra começaram esta semana a ser transportadas para a fábrica de produção de biomassa em Huelva, Espanha, num transporte financiado pela Câmara de Monchique, no distrito de Faro (Algarve).

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O acordo para as restantes 30 mil toneladas terá como base o protocolo assinado entre o município e a Associação dos Produtores Florestais do Barlavento Algarvio (Aspaflobal), que teve um “bom acolhimento do membro do Governo”. Segundo o presidente do município, está prevista para os próximos dias a efetivação do protocolo, garantindo assim o apoio para que esta situação “fique resolvida”.

“Além de um problema económico, de proteção civil e de saúde pública, estamos aqui com uma questão ambiental, porque as árvores que não são retiradas apodrecem e podem criar um problema fitossanitário que pode prejudicar as outras espécies e atrasar o ciclo normal do corte”, alertou.

Rui André revelou que a autarquia decidiu avançar com os 45 mil euros necessários para transportar a madeira queimada já recolhida para uma fábrica em Espanha porque o preço de compra deixou de cobrir os custos da operação, mas não tem capacidade para custear a totalidade da recolha.

Em causa está o encerramento inesperado da central de biomassa mais próxima, no Cercal do Alentejo (Santiago do Cacém, distrito de Setúbal), e o facto de o valor pago por outra fábrica em Setúbal, com o aumento do custo do transporte, deixar de compensar o trabalho dos madeireiros.

O corte, o transporte e a empilha da madeira têm um custo de 31 euros por tonelada, aos quais se somam nove euros pelo transporte, totalizando os 40 euros que eram pagos pela fábrica do Cercal, algo que não se consegue agora, afirmou à Lusa o presidente da Aspaflobal.

“Se vamos para Setúbal é uma perda de dinheiro. Os empresários não tiram rendimento e desistem dessa atividade, os proprietários apenas querem a resolução e a retirada do material”, apontou Nuno Fidalgo.

A solução mais adequada é a fábrica em Huelva, embora aqui acresçam nove euros por tonelada no transporte em relação ao custo para levar a madeira até ao Cercal – daí terem levado a questão à câmara e ao Governo.

Segundo o engenheiro de recursos florestais, a não retirada da madeira queimada, somada à “falta de gestão” do território, nomeadamente a seleção de varas que brotam do eucaliptos queimados, cria uma “continuidade horizontal dos combustíveis” numa velocidade de propagação “bem superior” caso haja um incêndio.

“O que a associação de produtores florestais, os empresários e a câmara querem é quebrar esse ciclo, retirar essa madeira queimada e o excesso de varas que existem, e criar uma nova rotação com um crescimento mais ordenado e com menos riscos”, afirmou Nuno Fidalgo.

Um madeireiro afirmou à Lusa preferir trabalhar com a “madeira verde” – em vez da queimada – já que consegue obter “uma margem melhor” e um “menor desgaste das máquinas”, sendo também menos pesada para o operador da motosserra. Porém, os profissionais querem cumprir os contratos estabelecidos e zelar pelo futuro da atividade.

“Se não cortarmos estas matas, no futuro não iremos ter matas para cortar. As [madeiras] queimadas se não forem cortadas vão ficar ao abandono. É um risco de incêndio muito maior, o ciclo produtivo que fica interrompido e a economia do concelho que quebra milhões de euros”, afirmou João Poucochinho.

Revelando que a atividade madeireira representa “cinco milhões de euros anuais para Monchique”, o empresário defendeu que “para já” a resposta é escoar a madeira para a produção de biomassa (‘pellets’) em Huelva e desejou a construção de uma unidade no concelho.

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