Nos anos 60 eu apanhava o comboio em Olhão para ir para o Liceu de Faro que já trazia muitos colegas desde Vila Real de Santo António.
O Gutierres era um deles…, Fernando Reis só mais tarde.
Eu era mais do basquete…, ele mais do andebol.
Para estudar o secundário…, fazia 2 horas por dia de comboio…, mas houve uma característica que nunca perdeu até ao seu último dia de vida: o sorriso.
É do sorriso do Fernando que primeiro quero escrever.
Nunca “enfrentei” o Fernando que o seu sorriso não fosse arrebatador.
Houve alturas que a vida nos separou por largos períodos…, mas quando nos reencontrávamos parecia que tínhamos jantado juntos no dia anterior.
Como desde 1965 que passei férias em Monte Gordo…, nunca conseguimos andar muito tempo sem nos vermos.
Nos últimos 7/8 anos passamos a comunicar semanalmente. A sua filha Susana, com a força e o sorriso do pai foi lutar pela sua carreira em São Paulo.
Vivíamos na mesma cidade, a Susana visitava-me na Pastelaria da Padre João Manuel…, e as conversas com o Fernando intensificaram-se.
Sempre que falava das filhas ou da mulher…, o sorriso abria-se de rua a rua…, o Fernando sentia uma profunda alegria em falar da família.
Quando lhe perguntava: por onde anda a Susana? Primeiro ria-se e depois dava a resposta. À cumplicidade do Fernando com a mulher e com as filhas era de uma dimensão difícil de alguém conseguir ultrapassar!
Nunca, mas nunca mesmo me fez uma crítica por mais ligeira que fosse da sua família!
A segunda característica que quero escrever acerca do Fernando é do valor que para ele significava a palavra amizade.
O Fernando era mesmo amigo do amigo…, e os amigos todos reconheciam esse seu atributo.
Há cerca de três anos e meio tive um desaguisado com a ex-Presidente da Câmara da sua terra no Facebook.
O Fernando falou comigo incomodado…, era amigo dos dois. Tentei explicar-lhe os fundamentos da minha posição…, e depois de me ouvir…, respondeu: “…eu gosto da moça!”
Calei-me e a coisa ficou por ali.
Quando a mesma pessoa foi detida por imbróglios da Gestão Autárquica, eu escrevi um texto em que solidarizei com a Senhora e fiz votos que conseguisse provar a sua inocência.
Nem 5 segundos após a publicação o Fernando ligou-me: “obrigado…”, perguntei-lhe de quê? Eu não gosto de ver ninguém que conheço na mó de baixo…, posso discordar nalguns momentos…, mas não tenho inimigos.
O Fernando ficou feliz porque já não tinha amigos desavindos, apesar de sempre lhe ter assegurado que tal não sucedia.
Publicou um outro artigo meu…, pediu-me para escrever com regularidade mas não consegui cumprir esse seu desejo…, e ele sorria!
Em Julho começamos a fazer um almoço mensal na Andaluzia. O primeiro foi no La Sal na Ilha Cristina e correu tão bem que o Artur Gonçalves e o Humberto Gomes decidiram que se iriam repetir todos os meses e o grupo tinha que ir crescendo sustentadamente.
No final do almoço selecionamos dois nomes para convidar. Avancei com o nome do Fernando e os dois comensais foram unânimes: o Fernando sim…, tinha sido colega de Liceu do Artur e o Humberto colaborava no Jornal. “ Esse é amigo do amigo”. O outro foi o Romba e depois do segundo almoço o José Manuel Trigo aderiu à equipa.
Fiquei encarregue de convidar o Fernando e a resposta veio com um enorme sorriso.
Que belos almoços que ainda participou…, no El Pescao, no Minutero e na Casa Luciano.
A sua alegria contagiante, o prazer que transmitia do compartilhamento da vida à mesa…, era um pilar da unidade do grupo.
É a memória com que quero ficar do Fernando: o sorriso e o valor da amizade.
Para mim continuará a fazer-nos companhia à mesa até nos encontrarmo-nos de novo!
Duval Pestana