“Não posso deixar de sonhar”

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Rui Nabeiro falou ao Jornal do Algarve, por ocasião do seu nonagésimo aniversário

“Todo o Algarve me está na alma, não apenas porque essa bonita terra foi musa inspiradora dos meus negócios, contribuindo mesmo para o arranque da situação que continuamos a desfrutar tantos anos depois, e que agora a pandemia vai afrouxando de forma dramática, diga-se em todos os sectores da economia nacional e mundial, mas porque hoje continuamos a ter duas grandes referências nos nossos negócios, com importantes delegações em Faro e Portimão”.


Este foi o primeiro sinal do Comendador Rui Nabeiro, na recente e breve conversa que teve connosco, a propósito da passagem do seu nonagésimo aniversário, mas também da celebração dos 64 anos do Jornal do Algarve.

“Portanto, o Algarve – prossegue Rui Nabeiro – com o seu extraordinário clima e um mar maravilhoso, continua a ser para nós, uma grande e importante referência, onde temos muitos amigos, colaboradores, gente que continua a tornar cada vez mais forte o coração da Delta”.


Em 2006, quando ouvimos Rui Nabeiro, esta figura incontornável da vida e do mundo dos negócios em Portugal, feito de simplicidade e caldeado de amor pelos outros, contando então salpicos, da história da vida da sua infância, tornámos evidentes, as relações bem antigas entre Rui Nabeiro e o Algarve, escrevemos:


“A grande verdade é que existe uma importante passagem do tempo e da história empresarial de Rui Nabeiro, que o aproxima do Algarve e mais concretamente de Vila Real de Santo António.


A Gráfica do Sul, de Mortágua, Farinha, Tenório, Neves, Pinheiro e tantos outos estava no apogeu. De Lisboa ao Algarve, os grandes alicerces gráficos estavam em Vila Real de Santo António, dai que a prioridade da apresentação de uma marca chamada «Torrefacção» que se queria impor no mercado, até em nome de um pioneirismo nacional, passava por Vila Real de Santo António e pela Gráfica do Sul e mais tarde pela Empresa Litográfica do Sul”. E por esse conhecido comerciante local, que o ajudou a dar nome ao seu café, do outro lado da fronteira e de quem se tornou grande amigo, Álvaro Feliciano.


Rui Nabeiro, tal como ontem, agora na conversa que teve connosco, voltou a ir ao encontro das crianças, afirmando ao nosso jornal:
“É nossa responsabilidade como pessoas humanas, lutarmos por desenvolver o amor, a esperança e o carinho a todas as crianças, que por qualquer razão, e no tempo que passa, viram esse amor, essa esperança, este carinho interrompido ou então porque nunca o tiveram”.


E fala de si, como quem bate no peito com orgulho, dizendo:

“Nasci na década de trinta. Era o tempo em que os invernos, os do frio, da neve, mas sobretudo da fome, pareciam chegar mais cedo. Viver, era todos os dias uma tarefa terrivelmente complicada. Hoje, este cenário da pandemia, leva-nos para situações de igual modo dramáticas.

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As noites desgastavam-nos a todos, porque éramos seis no mesmo quarto.

A minha infância foi um profundo sinal de pobreza material, roçando as paredes do paupérrimo, mas foi uma infância de riqueza humana fantástica, porque não existia nenhum dinheiro do mundo que seja tão valioso como o amor e o carinho. E eu tive essa riqueza, esse amor. Meus pais faziam do amor aos filhos um culto. Aliás, mantenho agitada na nossa vida e entre os nossos, essa bandeira do amor”.

Sonhar é pensar nos nossos clientes, nos nossos amigos, nos nossos colaboradores e na força e prestígio da Delta


É este mesmo homem, este fraterno coração alentejano, agora com 90 aos, que continua a acreditar nos sonhos, que quanto à nossa pergunta se ainda tinha sonhos, respondeu:

“Se ainda tenho sonhos? Eu sonho todos os dias e em todos os momentos. Não podemos deixar de sonhar, porque ainda nos sentimos com força e confiança, para continuarmos a dar luz e voz aos nossos sonhos.


Não apenas através da nossa força e ambição, mas também dos nossos familiares, colaboradores e amigos, que continuam ao nosso lado interpretando os nossos sonhos e nós os sonhos deles.


Depois, eu sempre sonhei e não era agora de um dia para o outro que acabava com os meus sonhos.


O meu sonho principal é continuar aqui, dando a minha ajuda, aos meus filhos, aos meus netos e a todos os meus colaboradores e que são muitos, e não há dúvida nenhuma de que sonhar é fazer cada vez mais.


Sonhar é pensar nos nossos clientes, nos nossos amigos, na força e prestígio da Delta, e fazer com que os nossos clientes e amigos possam exigir sempre mais de nós, porque todos os dias existe algo de novo. Todos os dias nasce uma ideia. Enfim, sonhar tem sido o nosso motor, em toda a nossa vida…”


E também conta com os sonhos dos outros?


“Claro. Aparece uma pessoa que traz uma ideia, nós ouvimos, e avançamos com os nossos sonhos, com a ajuda de todos. Sempre foi assim. Portando os meus sonhos são permanentes…


Eu tenho noventa anos, mas vou continuar a minha atividade, porque estou vivo, bem vivo. Não estou morto e se Deus quiser vou prosseguir este caminho. Vou continuar a sonhar e a contar com os sonhos dos outros. Dos que me rodeiam, familiares, colaboradores e amigos.

Nesta pandemia nem todos cumprimos as regras. Temos que nos respeitar uns aos outros


Como é que olha a situação do País, diante da situação dramática em que se constituiu a pandemia?


“Deveríamos estar todos mais preocupados com esta situação, eu também estou.


A vida tem que seguir para a frente e pensarmos naquilo que o senhor primeiro-ministro tem dito, também repetidamente nos últimos dias, que não é só pensarmos em nós próprios.


Isso só poderá correr bem se todos pensarmos uns nos outros e eu tenho essa preocupação, porque realmente penso no bem comum, no bem dos meus clientes. Eles têm que estar preparados, para a vida, a minha empresa, os meus familiares, os meus colaboradores, os meus clientes, todos vivemos a mesma situação, temos que ser uns para os outros, no respeito, no cumprimento das regras, porque não é A e B, que está em causa, somos todos e toda a economia do País e mundial.


Vamos ter fé, esperança e seguir os conselhos dos nossos governantes, cumprindo o que se diz, que não se deve sair à rua., etc., e se sairmos à rua, temos que fazê-lo com todo o respeito pelas regras e o respeito de uns pelos outros.


E aproveito, para deixar o meu apelo através do Jornal do Algarve, que sejamos rigorosos e responsáveis, pois só desta forma, estaremos a cumprir com as regras e estaremos a seguir as determinações dos governantes e a zelarmos uns pelos outros”.

Parabéns ao Jornal do Algarve pela herança que deixa aos seus leitores


Referindo à recente celebração do aniversário do Jornal do Algarve, Rui Nabeiro, afirmou:

“Depois da nossa conversa em 2006, parece que foi ontem, para mim também é uma honra, agradecer o gesto do Jornal do Algarve, em se lembrar dos meus noventa anos e eu de igual modo estar aqui para me congratular com os 64 anos do Jornal do Algarve, o que quer dizer que o jornal ainda é uma criança.


Eu também tenho desde há muitos anos esta profunda relação com o Jornal do Algarve, não apenas nas conversas que tive com o senhor, mas também por intermédio do meu amigo Catarino e outros colaboradores mais antigos.


E não há dúvida nenhuma que a esperança que o Jornal do Algarve deve ter é que os algarvios não podem esquecer a importância das suas edições, isto é, das suas páginas, que são páginas de todo os algarvios e porque também é um bom veículo comercial, um meio de comunicação de grande prestígio e credibilidade. Pelo menos eu vejo a si, e há já muito anos que nos ligamos ao Jornal do Algarve.


Felicito o Jornal do Algarve, a quem desejo que mantenha todo o prestígio que foi conquistando ao longo de todos estes anos e que ainda tenha muita vida pela frente , porque é ao mesmo tempo uma herança que semanalmente vai deixando a todos os algarvios.


Portanto, ler o Jornal do Algarve, também é para a Delta muito importante, porque nós temos interesses aí no Algarve e sabemos a importância do Jornal do Algarve”.


Falando sobre o prestígio e qualidade do Algarve, enquanto região diria:


“O Algarve é um lugar de enorme prestígio e qualidade, uma região que é procurada por todo o mundo, com grandes estabelecimentos e nós próprios, temos uma forte representação em Portimão e Faro.

O Algarve é muito importante para a economia do País, com um mar maravilhoso, um clima extraordinário e também por isso, toda a população do Algarve, tem que estar feliz, porque esta é uma Região da providência de Deus”.


Desta vez Rui Nabeiro, não nos falou de coisas que também avaliamos como decisivas para a sua vida, para a vida que o trouxe de novo à conversa connosco, e daí regressarmos a 2006, quando na altura, Rui Nabeiro, disse, na Casa Duarte Pacheco, em Loulé a abarrotar e para quem o quisesse ouvir:


“Ainda na minha adolescência comecei a colaborar com um tio. Meu tio era um homem com um (H) muito grande.


Meu pai faleceu muito novo. Faleceu cedo e não me deu o amor que eu precisava na hora certa. Contudo, tinha dentro de mim o respeito e o amor com que meu pai sempre me acarinhou e educou e talvez por isso, ou por qualquer outra razão, meu tio tivesse começado muito cedo a reconhecer que eu poderia ser no futuro a pessoa indicada para o substituir. Não se enganou e hoje estou-lhe reconhecido.


Trabalhava, ainda criança, na torra do café. Um trabalho muito duro e agreste. Muito difícil, como difícil era o tempo em que vivíamos.

Era o período da guerra, fronteiras muito vigiadas e fechadas. Salazar e Franco faziam tudo para nos fechar num estranho casulo”.


E porque a Casa da Primeira Infância de Loulé, que Rui Nabeiro visitou e foi palestrante sobre a sua infância em 2006, pedimos para que nos deixasse uma palavra sobre a efeméride dos 75 anos da Instituição, que foi pioneira no Algarve.


“Pois é uma mensagem simples, mas sempre de muita emoção, pelo sentimento humanista com que sempre olhei as crianças.


Nós também temos em Campo Maior, um grupo na área do ensino, que permite não só cuidar, educar, transmitir amor e valores às crianças, mas de igual modo tranquilizar os pais, porque sabem, que durante o período em que estão a trabalhar, as suas crianças estão protegidas e em segurança.


Para nós, é uma obra muito importante com cerca de duzentas crianças.


E no que se refere à Casa da Primeira Infância, que eu já tive a honra de conhecer em 2006, quando estive em Loulé e participei numa ação, que tinha a ver com a minha própria infância, sei que existem condições para prosseguir a obra e dar continuidade com enorme futuro a esses 75 anos, que agora comemoraram.


A Instituição tem feito muito pelas crianças, e tal como eu digo aos meus familiares, que a obra que nós temos que é o coração da Delta, com um ATL, que realiza um trabalho lindo, maravilhoso, que este tem que ser o caminho, pois todas as regiões do País têm que ter cada vez mais condições, pensando naturalmente nas crianças, porque elas são os homens de amanhã”.

Neto Gomes

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