Fernando Nobre diz que o número de vítimas do sismo ocorrido esta terça-feira será “nitidamente inferior” ao do dia 25 de abril – quando morreram mais de oito mil pessoas -, uma vez que a maioria da população encontrava-se em tendas ou centros de acolhimento, face ao receio de novas réplicas. Fernando Nobre também não tem dúvidas de que o “pânico voltou às ruas” e que as autoridades não estavam preparadas para um novo abalo de tanta intensidade.
“Nós escolhemos como área de intervenção uma zona perto do epicentro terramoto desta terça-feira, a cerca de 150 km do epicentro do sismo anterior. Fomos a 10 aldeias que estavam destruídas em 80% e 90%, que ficam acessíveis a cerca de três a quatro horas de jipe. Percebemos que ninguém tinha recebido apoio até nós lá chegarmos, por isso duvido que o Governo nepalês esteja capaz de responder de forma adequada a este novo sismo.”
A juntar às vítimas, o presidente da AMI considera que o que cria “instabilidade” e “caos emocional” é o facto de os abalos terem sido registados em pouco mais de duas semanas, havendo receio da existência de um terceiro. A equipa de quatro elementos da AMI que se encontra no local já comunicou com Fernando Nobre: explicaram que o abalo foi muito forte, tendo ocorrido quando estavam a sair do hotel em Katmandu onde permanecem hospedados.
“O hotel só não colapsou porque tem outra estrutura arquitetónica, com barras de betão. O maior problema é que a maioria das casas não foi construída com cimento nem com placas de betão armado.”
Fernando Nobre relatou ter testemunhado um cenário de devastação total na semana que esteve no Nepal a liderar a equipa da AMI, apontando para a destruição da parte histórica, considerada património mundial da Unesco.
“No que diz respeito a Katmandu, a Praça Darbar (Durbar Square), que é a zona de grande cariz turístico, com templos, foi toda arrasada. A parte histórica foi praticamente toda destruída Na altura, as casas estavam muito atingidas e rachadas. Os edifícios que não cederam com o anterior sismo terão ruído com o abalo desta terça-feira.”
Segundo o líder da AMI, a maioria das construções no Nepal são tradicionais e rudimentares, sendo que ao “mínimo abalo vem tudo abaixo”. “É uma espécie de castelo de cartas que ruiu. Volta-se a pegar nas cartas e a construir tudo de novo de forma frágil.”
O foco do auxílio
A agravar a situação do Nepal, defende Fernando Nobre, está o facto de a maioria das equipas de ajuda internacional – entre sul-coreanos, japoneses e alemães – terem já abandonado o país depois de prestarem assistência imediata face ao sismo de há duas semanas, que causou mais de 8 mil mortos.
Observando que a “grande sorte” foi que as colheitas de milho e arroz – que constituem a base da população rural – já terem sido feitas, Fernando Nobre sustenta que a prioridade, além de fornecer bens alimentares à população que não tem acesso, é disponibilizar medicamentos e apoio psicológico numa primeira fase, antes de se prosseguir com a reabilitação das infraestruturas, em especial de várias escolas que foram afetadas pelo abalo.
“A ajuda que será canalizada para a reconstrução do Nepal não dará possivelmente para recuperar nem a zona histórica de Katmandu, que é considerada património mundial da UNESCO, quanto mais reabilitar as zonas mais distantes e rurais. Deve ser esse o foco do auxílio internacional.”
Esta terça-feira, um sismo de magnitude 7.3 voltou a fazer tremer o Nepal, causando pelo menos 37 mortos e 1.000 feridos no Nepal e ainda na Índia e no Tibete, onde o abalo foi também sentido.
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