Nicolas Sarkozy diz-se humilhado e evoca cabala político-judicial

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Sarkozy fala numa “instrumentalização política da Justiça”

Foi um Nicolas Sarkozy muito combativo, dizendo-se “profundamente chocado” e falando em “instrumentalização política da Justiça” que apareceu no canal TF1 e na rádio Europe 1.

Na entrevista, gravada durante a tarde, o ex-Presidente – acusado desde a passada madrugada de corrupção ativa de um alto magistrado, de tráfico de influências e de violação de segredo de Justiça durante a instrução de um processo que o visava – diz que o quiseram “humilhar” durante a detenção de 15 horas para interrogatório na sede da Polícia Judiciária, nos arredores de Paris.

A entrevista teve a duração de 20 minutos e Nicolas Sarkozy afirmou que, por considerar “a situação grave”, decidiu falar. “Nunca cometi um ato contrário aos princípios republicanos e ao Estado de direito”, garantiu.

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“Acusações grotescas”

“Tudo é feito para dar de mim uma imagem não conforme à verdade”, acrescentou, colocando-se como vítima neste já célebre “caso das escutas”, quando o seu telefone secreto, registado com o nome de Paul Bismuth, bem o do seu advogado, foram colocados sob escuta em setembro de 2013, por ordem da Justiça.

Os juízes pretendiam esclarecer dessa forma um alegado financiamento de uma campanha eleitoral de Sarkozy pelo regime líbio do coronel Khadafi e por Liliane Bettencourt, herdeira do império de cosméticos L’Oréal, e foi durante essas escutas que terão detetado os alegados tráfico de influências, violação do segredo de Justiça e suborno de um alto magistrado.

“As acusações contra mim são grotescas”, sustentou Sarkozy na entrevista, antes de atacar as duas juízas que o indiciaram formalmente como arguido na passada madrugada. O ex-presidente referiu que se sentiu igualmente humilhado durante o seu encontro “às duas da manhã” com estas duas magistradas, que considerou fazerem parte de “uma pequena minoria militante”.

Socialistas citados

A certo passo da entrevista, Nicolas Sarkozy deu a entender que o atual poder socialista poderá estar por detrás da aceleração dos processos judiciais que o visam e lançou suspeitas designadamente sobre o primeiro-ministro, Manuel Valls, a ministra da Justiça, Christiane Taubira, ou o ministro das Finanças, Michel Sapin, bem como “colaboradores” do Presidente François Hollande.

“Há coisas que estão a ser organizadas e os franceses devem conhecê-las e julgá-las”, acrescentou o ex-chefe de Estado. Mesmo sobre a sua última campanha eleitoral de 2012, que perdeu para François Hollande, rejeitou as suspeitas que pairam sobre ele a propósito de uma eventual “dupla facturação” no valor de mais de 20 milhões de euros.

Sobre o seu futuro político, afirmou “não renuncio”. No entanto, disse que continua em “tempo de reflexão” e que apenas no fim de agosto, princípio de setembro, anunciará a sua decisão sobre um eventual regressa à política ativa.

Foi um Nicolas Sarkozy duro com os poderes político e judicial que os franceses viram e ouviram. Mas embora parecesse estar em permanência ao ataque, apareceu sobretudo sempre a justificar-se sobre os diversos processos que o atingem.

Aliás, o facto de a entrevista ter sido gravada, método inabitual em Sarkozy, diz igualmente muito sobre a fragilidade da atual situação do ex-Presidente francês.

RE

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