Nova cidade nasce em Albufeira com vista para o futuro

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Albufeira assistiu nos últimos cinco anos à requalificação de urbanizações, ruas e outros espaços públicos que há anos não eram alvo de qualquer intervenção. Em entrevista ao JA, o presidente da autarquia salienta que todas estas obras ajudaram a mudar a “face” de um município que continua a crescer a um ritmo acima da média. A três anos de deixar a autarquia, Desidério Silva garante que agora “estão lançadas as bases para Albufeira ser um município sustentável e equilibrado”

Jornal do Algarve – Quando assumiu a presidência, em janeiro de 2002, prometeu dar uma maior notoriedade a Albufeira. Conseguiu atingir esse objetivo?
Desidério Silva – Albufeira tem mantido um estatuto e uma imagem muito valorizada nestes últimos anos. São inúmeras as obras e os eventos que têm dinamizado o concelho, que anteriormente não se realizavam e passavam ao lado do município. Como capital do turismo, temos a obrigação de projetar Albufeira no âmbito nacional e internacional. Por isso, também alargámos os nossos mercados tradicionais (português e britânico) às regiões espanholas da Galiza e Andaluzia, bem como a países como a Áustria. Os resultados têm sido compensadores: no ano passado, 45 por cento dos turistas que dormiram no Algarve escolheram Albufeira. A marca Albufeira é mesmo mais conhecida que o Algarve em muitos mercados. Isto é sinal da importância turística do concelho e o reconhecimento do investimento que foi feito nas unidades hoteleiras, nas acessibilidades e na requalificação urbana.

J.A. – Albufeira tem, portanto, uma imagem bem mais positiva hoje em dia em relação àquela que transmitia nos anos 80 e 90, período em que a cidade cresceu desmesuradamente?
D.S. – É inegável. Muitos problemas de Albufeira dessa altura estão ultrapassados, outros estão a ser corrigidos, porque é impossível fazer tudo num dia. O desordenamento do território, a questão das falhas de abastecimento de água, que aconteciam com frequência, já não são uma preocupação. A limpeza também passou a ser uma das imagens de marca do município. Tudo isso, veio reforçar o estatuto de Albufeira no contexto do turismo nacional e internacional.

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J.A. – Consegue eleger três obras de que se orgulha e que contribuíram para essa melhoria do concelho?
D.S. – Tenho muita obra feita… Primeiro, destacaria a “cidade desportiva”, onde sobressai o pavilhão desportivo. Depois, a requalificação urbana e as acessibilidades, onde se salienta a nova entrada da cidade e a criação de mais estacionamentos. Outro momento importante na vida do município foi a introdução dos transportes públicos (Giro), que no ano passado tiveram acima de 1,3 milhões de passageiros. São três ações fundamentais para o presente e para o futuro do município, bem como a construção de mais escolas para as nossas crianças, uma vez que Albufeira é um concelho que, em vez de fechar escolas, como a maioria das regiões do país, tem de abrir ainda mais. Esta autarquia já construiu cinco ou seis estabelecimentos de ensino e prepara-se para abrir mais um, amanhã, no Dia do Município.

J.A. – E o que é que faz mais falta ao município neste momento?
D.S. – Falta consolidar algumas acessibilidades. Espero que, agora, com a requalificação da estrada nacional 125, se faça o acesso entre o nó da Guia e o parque de campismo. Falta ainda melhorar os serviços públicos de saúde, nomeadamente com uma unidade básica em termos de urgência, que é muito importante para o concelho. O terreno já existe e está disponível ao serviço do ministério para essa função. Falta também um grande auditório, cujo projeto já está executado, mas ainda é preciso encontrar formas para a sua execução. Por último, falta ainda, neste período social e económico menos favorável, reforçar os apoios sociais às instituições que trabalham na primeira linha do combate à pobreza e exclusão social no concelho.

J.A. – Depois da entrada da cidade, o que se segue em termos de requalificação urbana?
D.S. – A seguir vamos requalificar toda a zona da Oura a Montechoro. Vamos ver se conseguimos alguns apoios para essas obras, que estão orçadas em cerca de 10 milhões de euros. Será a nossa próxima prioridade.

J.A. – A oposição tem acusado o executivo de gastar mais dinheiro em “festas e eventos” do que na área social. Como reage a estas críticas?
D.S. – Um autarca tem sempre de se sujeitar às críticas e aos elogios. Mas posso garantir que essas críticas vêm de quem não tem a mínima noção do trabalho que é feito nesse âmbito. Esta autarquia já cedeu terrenos para serem construídos lares de terceira idade, centros de dia, jardins de infância, residências assistidas e apoia as instituições locais e o apoio domiciliário. Temos ainda um apoio ao arrendamento que ajuda 140 famílias a pagar a renda das casas, o que é um marco importante no apoio social. Este último apoio representa uma verba anual de 500 mil euros para os cofres do município, mas é de uma emergência tão grande que a câmara municipal não podia ficar indiferente. E há ainda o reforço das bolsas de estudo e muitas outras ações. Por tudo isso, nós estamos na primeira linha do apoio às pessoas. A autarquia não tem um saco sem fundo para ajudar toda a gente, mas faz o melhor que pode.

J.A. – Mas as receitas da câmara têm chegado até agora para tudo?
D.S. – Albufeira é um dos municípios mais penalizados em termos de receitas. Como todos sabem, as câmaras vivem das verbas do IMI, IMT, licenciamentos e alvarás, e tudo isso tem sofrido grandes reduções. E as transferências do Estado e os fundos comunitários são praticamente inexistentes. Assim sendo, é preciso muito rigor para que não faltem verbas para as áreas mais prioritárias, como a educação, a ação social, a limpeza e o abastecimento de água. É preciso que as pessoas compreendam que um município gere-se de igual forma a uma casa: se não entra dinheiro, não pode ser distribuído e têm de ser estabelecidas prioridades, mediante o que for mais importante.

J.A. – Ainda assim, a oposição diz que Albufeira é um dos concelhos do país onde mais impostos municipais se paga por habitante…
D.S. – Isso é pura demagogia. As análises a que se referem são feitas per capita e, portanto, está desfasada da realidade, uma vez que o município de Albufeira tem nos censos 30 a 40 mil pessoas e, na verdade, estão cá entre 60 a 70 mil, para não falar dos milhares de visitantes nas épocas altas. Isto é, temos de investir muito fortemente em infraestruturas, equipamentos e obras para suportar toda essa população e não apenas os 40 mil residentes. Esse é o grande equívoco das pessoas! Ainda assim, o IMI está na média regional e o tarifário da água está abaixo de outros concelhos algarvios, como Tavira e Portimão. No caso da água, nós estamos a comprar ao dobro do preço que vendemos e, por isso, mais tarde ou mais cedo, a água vai ter de ser paga pelo custo, até porque temos de manter todas as infraestruturas em condições. Por isso, por enquanto, Albufeira tem um dos preços da água mais baixas do Algarve e do país.

J.A. – E as finanças da câmara são saudáveis?
D.S. – Tal como muitos municípios do país e face à situação atual, temos vindo a procurar um equilíbrio financeiro que nos permita continuar a efetuar os investimentos e a desenvolver o concelho. Não escondo que gerir atualmente a autarquia é um processo que exige muito cuidado e muito rigor.

J.A. – Como é que perspetiva o futuro do concelho? Falou de uma grande mudança nos últimos vinte anos, como serão os próximos vinte?
D.S. – O concelho de Albufeira tem as bases lançadas para ser um município sustentável e equilibrado, nomeadamente ao nível da educação, desporto e questões sociais. Temos ainda em execução vários planos de ordenamento que vão coordenar e orientar todas as intervenções urbanísticas no concelho de Albufeira. Isto vai permitir que o desenvolvimento se faça equilibradamente em todo o município, sem esquecer as freguesias mais interiores, Ferreiras e Paderne.

J.A. – Tem sido uma das vozes que mais se tem ouvido neste verão a reclamar por mais policiamento na região. Face ao “falhanço” da polícia municipal, já pensou em avançar com a videovigilância?
D.S. – A polícia municipal era para ter 40 elementos e, neste momento, com as duas transferências que chegaram recentemente, já temos sete polícias! Em relação à videovigilância, o processo já está a ser trabalhado (na baixa da cidade e na Rua Sá Carneiro), mas é delicado e tem muitas questões envolventes que deverão demorar algum tempo até estarem resolvidas. Isto porque, a videovigilância levanta questões de privacidade das pessoas e é preciso encontrar um consenso muito generalizado para avançarmos com a instalação de câmaras nas ruas. O nosso objetivo é que a videovigilância seja discutida e que resulte de um processo natural, não de uma imposição.

J.A. – Albufeira ficou conhecida nos anos 60, muito por culpa do cantor Cliff Richard, que aqui passava as suas férias e ainda hoje aqui reside a maior parte do ano. É, para muitos, uma pequena Inglaterra à beira mar plantada…
D.S. – O mercado inglês sempre foi maioritário em Albufeira. Temos cerca de sete mil estrangeiros a viver no concelho, o que evidencia bem que temos um município atraente. Muito frequentemente, as nossas praias são eleitas as melhores do mundo pelos turistas e pelos operadores turísticos. Ou seja, por muito que critiquem Albufeira, isto só demonstra que o município tem qualidades que muitos outros não conseguem igualar.

J.A. – Um ano depois da derrocada na Praia Maria Luísa, que matou cinco pessoas, que repercussões sofreu Albufeira?
D.S. – Felizmente, não houve quaisquer repercussões graves, porque foram dadas respostas que acabaram por minimizar e contrariar o impacto negativo. Independentemente do que aconteceu, estas praias continuam a ser as melhores do mundo. E hoje em dia as pessoas estão avisadas e estão identificadas todas as zonas de risco.

J.A. – Vai concluir o seu terceiro e último mandato à frente da autarquia em outubro de 2013. Como vai encarar o que resta do mandato e como gostaria de ser recordado no futuro?
D.S. – Levo este cargo muito a sério desde o primeiro dia em que entrei ao serviço. Tenho a mesma vontade de fazer coisas e de mostrar obra feita. Por isso, nada se vai alterar até ao meu último dia na presidência da câmara. Em 2013, vou sair de consciência tranquila porque defendi sempre as minhas convicções e os interesses de Albufeira. Não sei como serei recordado no futuro, nem nunca pensei nisso. Já fiz dezenas de intervenções neste concelho, para não dizer centenas. Na última campanha eleitoral até dizia que os meus adversários tinham de perder um dia inteiro para ler todas as obras que foram executadas nos últimos anos em Albufeira.

J.A. – E já pensou no que vai fazer após abandonar a câmara municipal?
D.S. – Com a dinâmica que ainda mantenho hoje em dia, não estou a ver-me a arrumar os livros, as botas ou seja o que for. Estarei sempre disponível para as boas causas, seja na política ou na sociedade civil.

Nuno Couto/Jornal do Algarve

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1 COMENTÁRIO

  1. Ver o Presidente da Câmara de Albufeira a discursar de forma tão aberta, demonstra a pessoa que é, sem esconder qualquer situação, vendo sempre os erros do passado para serem corrigidos, vivendo o presente com empenho para que tudo o que faça possa servir ao interesse da população em geral bem como de quem nos visita e pensando o futuro de forma a dar a Albufeira cada vez mais porspecção e reconheçimento internacional.
    No entanto existe um ponto da entrevista em que é mencionado o seguinte “…A limpeza também passou a ser uma das imagens de marca do município…”, ou seja neste campo tenho de descordar completamente, tal como muitos milhares de albufeirenses. A limpeza pode ter melhorado nas artérias principais, mas o que é certo é que em muitas zonas, até nas que deveriam ser postal turístico, o que se consta é uma Albufeira bastante suja, exemplo disso e que pode ser constactado é simples e fácil desde que exista alguma fiscalização que se levante da cama entre as 08:00 e as 09:30 da manhã e encontre os balseiros de acesso à Praia do Peneco completamente cheios e tapados de lixo com sacos abertos e lixo espalhado pelo chão, com ruas compeltamente sujas, vómitos no chão, garrafas partidas e isto pelo facto de não terem uma lavagem de manutenção com maior frequência, e que podesse transmitir uma imagem mais cuidada aos turistas, e não é uma mera situação esporádica mas sim algo que se consta diáriamente com os turistas a terem acesso a este triste cenário. Facto é que a empresa que presta os serviços de limpeza não tem uma “malha” de operadores e máquinas que cubram com eficácia todo o concelho, mas principalmente as artérias e os locais mais frequentados por turistas, pois é a imagem que temos de transmitir para fora de portas. Esperemos pois que esta situação seja verdadeiramente repensada para que se melhore e não se pense que Albufeira é uma cidade limpa por ter a Avenida dos Descobrimentos a ser limpa diáriamente.
    Faço votos para que o Presidente Desidério Silva termine o seu mandato a continuar a efectuar o excelente trabalho que tem desenvolvido até aqui.

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