“Nova era nas relações EUA-Cuba depende de reformas democráticas. É de lei!”

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Natural de Cuba, Alfredo Duran é advogado há 48 anos, destacando-se, acima de tudo, como um dos líderes da comunidade emigrante cubana em Miami, a maior dos Estados Unidos.

O Presidente Barack Obama, durante a comunicação ao país, no final da manhã (tarde em Lisboa), recordou a importância daquela cidade: “Miami é muitas vezes conhecida como a capital da América Latina”.

Duran ficou ligado para sempre à crise política entre EUA e Cuba depois de ter participado na invasão da Baía dos Porcos, a 17 de Abril de 1961 – missão levada a cabo por um grupo paramilitar de 1400 homens, a brigada 2506, com o objectivo de depor o regime de Fidel Castro.

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O ataque patrocinado pela CIA foi um falhanço rotundo e Duran esteve 18 meses preso, acabando por ser libertado “após Washington ter enviado um pacote de auxílio humanitário (medicamentos, alimentos, etc.) no valor de 62 milhões de dólares”, recorda o advogado ao Expresso.

A notícia do restabelecimento de relações diplomáticas entre Washington e Havana deixa-o com sentimentos mistos. Por um lado, congratula-se com libertação de Alan Gross, um ex-elemento da Agência Americana para o Desenvolvimento Internacional, mas critica a sua troca por três cubanos condenados pelo crime de espionagem nos EUA.

“Não há comparação. O Alan não andava a espiar, mas apenas a fornecer material informático a comunidades cubanas isoladas. Os três espiões eram comprovadamente agentes do Governo cubano. Além disso, dois deles estavam prestes a sair em liberdade, visto que as penas estavam a terminar”.

Longo caminho até fim do embargo

Apesar de Barack Obama ter anunciado o restabelecimento de relações diplomáticas, tendo em vista a reabertura da embaixada americana em Havana, os senadores Robert Menendez de Nova Jérsia e Marco Rubio da Florida (eleitos pelo partido democrata e republicano, respectivamente) denunciaram a decisão da Casa Branca.

“É, simplesmente, uma cedência a um regime autoritário”, disse Rubio, durante uma conferência de imprensa esta manhã, em Washington.

Um congressista conservador, membro do Comité de Relações Externas, explicou-nos que será “muito difícil terminar com o embargo, tendo em vista que, a partir de Janeiro, um novo Congresso de maioria republicana tomará posse”.

Duran recorda, ainda, que “só o congresso tem poder para decretar o fim do embargo, visto que existe uma lei, a “Helms Burton Act”, aprovada durante a Administração de Bill Clinton, nos anos 90, que faz depender o fim do isolamento de Cuba de um programa de reformas democráticas. Uma nova era nas relações EUA-Cuba depende de reformas democráticas. É de lei!”.

Além do aspeto jurídico, há ainda um elemento político a ter em conta: “A comunidade emigrante cubana é tradicionalmente contra a aproximação ao regime dos irmãos Castro. Qualquer político que defenda essa aproximação terá de saber lidar com isso e talvez pagar um preço bem alto”, afirma Duran.

Sobre este ponto, recorde-se que o democrata Menendez e o republicano Rubio representam os dois estados (Nova Jérsia e Florida, respectivamente) onde vivem as maiores comunidades emigrantes cubanas.

O ex-governador da Florida Jeb Bush, que equaciona desde ontem uma possível candidatura às presidenciais de 2016 pelo Partido Republicano, congratulou-se, via Twitter, com a decisão da Casa Branca, algo que o coloca em confronto directo com Marco Rubio, outro potencial candidato conservador.

A Florida é um estado chave no contexto das eleições presidenciais, tal como se viu em 2000, depois da luta renhida entre George W. Bush e Al Gore. Classificado de “Swing State”, o sentido de voto naquele populoso estado americano oscila com as circunstâncias dos vários ciclos eleitorais.

Rubio sabe disso e, esta manhã, já começou a marcar terreno: “A decisão de Obama é ignorante. Tenho a certeza que a ditadura cubana irá continuar por mais algumas décadas”.

RE

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