Número de alcoólicos em tratamento nunca foi tão alto

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O número não tem parado de aumentar nos últimos anos e atingiu agora o valor mais elevado de sempre. Em 2014 (últimos dados disponíveis), 11.881 portugueses estavam em tratamento por alcoolismo, mais 14% do que no início desta década.

Segundo o relatório “A Situação do País em Matéria de Álcool”, divulgado esta quarta-feira pelo Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD), “nos últimos anos há uma tendência de acréscimo no número de utentes em tratamento, registando-se nos últimos três anos os valores mais elevados de novos utentes e de readmitidos”.

Entre os portugueses que estavam em tratamento em 2014, 3.353 procuraram ajuda pela primeira vez e 930 foram novamente admitidos, após uma recaída.

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Em declarações ao Expresso, o subdiretor-geral do SICAD, Manuel Cardoso, garante que a subida do número não espelha um agravamento do problema, mas antes uma maior acessibilidade dos serviços de tratamento: “O que acontece é que há mais pessoas a pedir ajuda e uma maior capacidade de resposta dos serviços para as tratar”.

Apesar do aumento, a verdade é que o número total de alcoólicos em Portugal é muito maior. “Estimamos que mais de 60 mil portugueses sejam dependentes ou quase dependentes. São pessoas que não estão em tratamento mas que precisam claramente de ajuda”, diz.

Além dessas, o relatório refere que há ainda cerca de 300 mil portugueses (aproximadamente 3% da população) “com um consumo considerado de risco elevado ou nocivo”.

O número de internamentos por problemas relacionados com álcool também está a aumentar. De acordo com o documento, em 2014 registaram-se 34.272 internamentos hospitalares atribuíveis ao consumo de álcool, mais 1,4% do que no ano anterior.

O álcool mata bastante mais do que a droga. Nesse ano, 44 portugueses morreram por overdose alcoólica, mais 11 do que os óbitos por overdose de droga.

Mas as mortes atribuíveis ao álcool são ainda bastante superiores. As doenças provocadas pelo consumo, como a cirrose, mataram 2301 portugueses (2,15% do total de óbitos), a que há ainda que somar cerca de 270 mortes por acidente de viação, sob o efeito de álcool.

“As pessoas têm uma perceção de risco associada às drogas muito maior do que em relação ao álcool quando, na verdade, o álcool é uma droga tão ou mais perigosa do que as outras. No total, estima-se que 11% dos homens e 4% das mulheres morram por causas direta ou indiretamente relacionadas com o álcool”, sublinha Rui Tato Marinho, hepatologista do Hospital de Santa Maria, em Lisboa.

Segundo o especialista, duas a três bebidas alcoólicas no caso do homem e uma a duas no caso da mulher é o consumo máximo recomendado por dia. Tendo em conta que a quantidade de álcool difere consoante a bebida, uma imperial (22 cl) acaba por equivaler a um copo de vinho (12 cl) ou a uma dose de whisky (3 cl).

NÚMEROS DA DROGA ESTABILIZAM

Também esta quarta-feira foi divulgado pelo SICAD o relatório anual “Situação do País em Matéria de Drogas e Toxicodependências”, igualmente relativo a 2014. Segundo o documento, nesse ano estavam em tratamento 27.689 pessoas, das quais 1950 pediram ajuda pela primeira vez.

“Após os acréscimos registados entre 2010 e 2012, verifica-se nos últimos três anos uma tendência para a estabilidade no número destes utentes”, refere o relatório.

A heroína continua a ser a droga principal mais referida pelos utentes em tratamento nas diferentes estruturas, com exceção daqueles que procuram ajuda pela primeira vez, os quais referem sobretudo a cannabis e a cocaína.

Joana Pereira Bastos (Rede Expresso)

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