Número “obsceno” de civis mortos no Iraque, dizem as Nações Unidas

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Em dezembro do ano passado, o Exército iraquiano recuperou a cidade de Ramadi, que se encontrava ocupada pelo autoproclamado Estado Islâmico (Daesh)

Um relatório das Nações Unidas sobre o Iraque divulgado na terça-feira revela que em menos de dois anos morreram perto de 19 mil civis no país e mais de três milhões foram obrigados a deixar as suas casas. O documento dá conta de inúmeras atrocidades cometidas na sua maioria pelo autoproclamado Estado Islâmico, entre janeiro de 2014 e outubro de 2015. Milícias xiitas e sunitas e o próprio Exército iraquiano são também identificados no relatório como sendo responsáveis pelo “nível de violência alarmante” do país.

“Mesmo o número obsceno de mortos não consegue refletir com exatidão o quão terrível é o sofrimento dos civis no Iraque”, disse Zeid Ra’ad al-Hussein, o alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, na apresentação do documento de quase 40 páginas. Zeid Ra’ad al-Hussein lembrou os “inúmeros civis” que morreram “por não terem acesso a comida, água ou tratamentos médicos”.

O relatório divulgado na terça-feira refere que o autoproclamado Estado Islâmico, que mantém o controlo de Mossul, a segunda maior cidade do Iraque, apesar das tentativas do Governo iraquiano para a recuperar, “continua a cometer violações e abusos sistemáticos e generalizados dos direitos humanos, muitos deles considerados crimes de guerra, crimes contra a humanidade e, possivelmente, genocídio”. As principais vítimas do grupo jiadista têm sido os adversários declarados da ideologia, membros do Governo iraquiano ou suspeitos de terem ligações a ele, antigos membros das forças de segurança do país, médicos, advogados, jornalistas e líderes religiosos. O autoproclamado Estado Islâmico tem também sido implacável com todos aqueles que suspeita de colaborarem com o Governo iraquiano, através, por exemplo, da troca de informações.

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De acordo com o documento, mulheres e crianças encontram-se numa situação “particularmente vulnerável”, sendo frequentes os relatos de violência sexual. Entre 800 a 900 crianças foram raptadas em Mossul para serem integradas nas fileiras jiadistas ou em campos de educação religiosa, de modo a ser-lhes incutida a visão radical do islão professada pelo Daesh, refere o relatório. Membros de outras comunidades religiosas continuam a ser perseguidos e submetidos a abusos e violações “de forma sistemática”, e inúmeros sítios arqueológicos continuam a ser saqueados e destruídos (Nimrud, Nínive, Hatra). A destruição total do mosteiro St. Elijah, no norte do país, que as imagens de satélite divulgadas pela agência Associated Press na quarta-feira vieram tornar pública, é o mais recente exemplo disso. St. Elijah é considerado o mais antigo mosteiro cristão do Iraque e terá sido destruído em finais de 2014.

O relatório documenta também inúmeros abusos, incluindo sequestros e execuções extrajudiciais, cometidos pelas forças de segurança iraquianas (exército), por milícias xiitas (que têm apoiado de forma decisiva, embora não direta, o Exército iraquiano na reconquista dos territórios controlados pelos jiadistas do autoproclamado Estado Islâmico), grupos de combatentes de tribos sunitas e forças curdas pershmerga. Em resultado da violência, cerca de três milhões de pessoas deixaram as suas casas em menos de dois anos. Mas esta fuga só raras vezes se traduz em melhores condições de vida. Grande parte dos refugiados não consegue encontrar um lugar seguro para se reinstalar, e, mesmo quando conseguem, acabam por ser muitas vezes alvo de detenções arbitrárias ou retaliações.

Helena Bento (Rede Expresso)

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