“O Algarve perdeu importância”

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Durante toda a vida lutou contra o desdém dos jornais lisboetas que ignoravam o que aqui se passava. Graças a ele (e a tantos outros), o Algarve chegou muitas vezes à capital que se voltava para si mesma. Ramiro Santos e os da ‘velha-guarda’ não se cansaram de denunciar “a desgraça e o isolamento”. A propósito do primeiro livro que escreve "O Algarve em fios de histórias" - uma viagem pelo tempo, desde o período islâmico até aos nossos dias - o jornalista e contador de histórias, agora aposentado, esteve à conversa com JA para falar do seu percurso, das crónicas sobre os conquistadores portugueses, dos encantos e segredos algarvios e sobre aquilo que o aflige na região, "onde está tudo por fazer"

JORNAL do ALGARVE (JA) – Como foi o seu percurso de vida até chegar ao Algarve?Ramiro Santos (RS) - Saí do Alentejo com seis anos e fui para África. Passei lá a minha infância e adolescência. Lá fiz a tropa e vivi a Guerra Colonial. Foi lá que comecei a fazer rádio, na Rádio Clube Moçambique - a única que havia na altura - e depois vim para Portugal. Aqui fiz um curso para o internacional e fui colocado em Faro, em 1976. A minha vida profissional foi feita aqui, em órgãos de comunicação social com delegações no Algarve. Primeiro trabalhei na RDP . Em paralelo com a rádio trabalhei ainda na agência NP (Notícias de Portugal), trabalhei na Lusa que resultou da fusão da NP com a ANOP . Depois saí da RDP, mantendo ligação à agência e fui para a TSF, da qual sou um dos fundadores, juntamente com outras personalidades conhecidas como Emídio Rangel, David Rosa, Fernando Alves, entre outros. Mas continuei a trabalhar com rádios nacionais como a Rádio Comercial, por exemplo. A minha vida foi esta.JA - Nasceu no Alentejo, passou a infância e a adolescência em África, mas é ao Algarve que dedica um livro. Porquê?RS - Tenho sido jornalista desses meios de comunicação social corri o país todo e o mundo. Estive nos quatro cantos do mundo. Resolvi escrever sobre o Algarve porque primeiro, julgo eu, conheço profundamente a região e porque entendo que é uma forma de retribuir, o pouco que seja, o acolhimento que o Algarve e os algarvios me deram. O livro é uma homenagem que presto ao Algarve e aos algarvios. É apenas um contributo.

JA - Nasceu no Alentejo, passou a infância e a adolescência em África, mas é ao Algarve que dedica um livro. Porquê?RS - Tenho sido jornalista desses meios de comunicação social corri o país todo e o mundo. Estive nos quatro cantos do mundo. Resolvi escrever sobre o Algarve porque primeiro, julgo eu, conheço profundamente a região e porque entendo que é uma forma de retribuir, o pouco que seja, o acolhimento que o Algarve e os algarvios me deram. O liv...

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2 COMENTÁRIOS

  1. O ALGARVE ISLÂMICO
    Segundo o articulista, cito, “O Algarve tem uma identidade que não pode ignorar – a alma islâmica. Ela está escrita na toponímia, no nome das ruas, das cidades, das vilas, dos lugares …”.

    Subscrevo inteiramente o que alí é escrito e acrescentaria, mais, que essa identidade integra, igualmente, não só uma enorme e apelativa contribuição lexical para a Língua Portuguesa (que o curto espaço me impede de abordar), mas também, em elevada percentagem, os próprios genes biológicos de muitos Algarvios, em que eu próprio me incluo, designadamente, daqueles cuja ascendência radica na Serra Algarvia.
    Procurarei explicar, de seguida, da forma mais sintética possível, com base na tese que sustento, o porquê, que resulta de factos que tive a oportunidade de experienciar.

    Quando nos referimos aos Árabes, que invadiram a Península Ibérica, fazêmo-lo utilizando um termo genérico, visto que englobou tribos de etnias diferentes, tais como Berberes do Magrebe, no Norte de África, assim como Árabes propriamente ditos, provenientes da Península da Arábia, sendo que ambos tinham, a uni-los, a obediência comum ao Islão.
    Os primeiros, Berberes, chefiados pelo general Tarik, também ele berbere, integraram a primeira vaga da invasão.
    Algum tempo depois – cerca de um ano –, com a finalidade de consolidar a sua presença na Península, chegava a segunda vaga, muito mais poderosa, esta constituída por Árabes chefiados pelo general Muça.
    Desde cedo, surgiram sérias divergências entre as duas etnias, com base nas queixas dos Berberes de que, na distribuição para colonização das novas terras, os lugares mais pobres lhes eram, por norma, destinados, ficando as terras mais férteis para as tribos Árabes, situação que alimentou uma rivalidade crescente entre as duas facções muçulmanas, que se agravaria, na forma de grave conflitualidade, e levaria, séculos mais tarde, à balcanização do Califado de Córdoba em pequenos reinos, as taifas, facto que enfraqueceu, decisivamente, as suas forças e conduziu ao êxito do que apelidamos por Reconquista cristã.

    Neste âmbito, a Serra Algarvia, zona mais pobre, terá sido, preferencialmente, colonizada por Berberes, na qual estes se terão fixado em vários lugarejos, dispersos, que ainda hoje existem, onde, durante séculos, atrás de séculos, arrotearam as terras, muitas delas sáfaras, para colher o difícil sustento, numa sedentarização, que se manteve, ininterrupta, até cerca de meados do século passado, mobilização que, quando muito, se estendia a lugares vizinhos da mesma serra.

    É neste pressuposto que todas as hipóteses apontam, para que estas mesmas tribos berberes tenham sido os primeiros habitantes fundacionais da Mussiene de antanho, num local ainda virgem, à beira serra, na encosta sul do mítico Penedo Grande, resguardada dos ventos do Norte, de que haveria de resultar S. Bartolomeu de Messines, a terra que me viu nascer.

    Recordo-me, dos tempos da minha infância, nos anos 40, memória que guardo de um modo muito impressivo, quando, em dias de mercado, os chamados “serrenhos” vinham, dos vários lugarejos da serra algarvia, abastecer-se de mercadorias, com as suas mulas ou machos, num tempo em que a mobilidade geográfica dessas pessoas era ainda praticamente nula, recordo-me, dizia, que os traços fisionómicos do seu fácies eram exactamente os mesmos que podemos ver, nos dias de hoje, num qualquer ‘souk’ marroquino.
    Apenas lhes faltava vestir as características ‘djellabas’.

    Como é do conhecimento comum, foi a segunda metade do século passado que marcou, com especial ênfase, mais do que qualquer outra época anterior, o começo das deslocações e migrações das populações para os grandes centros.

    Afirmo, pois, quase garantidamente, com pouco receio de errar, que os homens e mulheres que eu via eram os descendentes legítimos e directos das populações berberes, que ali se tinham instalado e que, ao longo de treze séculos, desenvolveram, na Serra Algarvia, ininterruptamente, as suas vidas, no amanho da terra, contraindo ligações de casamento, na mesma aldeia ou na vizinha.

    De facto, quando se afirma que os Árabes foram expulsos da Península, devemos fazê-lo com algum cuidado, na medida em que a expulsão existiu, sim, mas para o exército árabe e cúpulas dirigentes.
    Os elementos das tribos berberes, sobretudo das classes mais baixas, que aqui se fixaram, fazendo da agricultura o seu modo de vida, esses, continuaram por cá, porque esta era, de facto, já desde há séculos, a sua terra e a dos seus antepassados, após a Invasão da Península, em 711.
    E aqui permaneceram.

    Por um lado, os tempos ajudaram a que perdêssemos a verdadeira consciência de boa parte da percentagem dos genes berberes que muitos de nós, Algarvios, eventualmente, transportam, porque não somos o que queremos, mas o que as circunstâncias fizeram de nós.
    Por outro lado, sendo a minha família originária da Serra Algarvia, como poderei eu falar “dessa” gente, dos Berberes de antanho, como me sendo alheia, como sendo “os outros”, quando, muito provavelmente, corre em mim o seu sangue e o meu ADN é o seu ADN ?

  2. O meu pai nasceu em 1914 no lugar de Fonte Zambujo, freguesia do Pereiro, concelho de Alcoutim. Provavelmente a sua e a minha descendência será de berberes, atendendo até à fisionomia e resistência ao tempo seco e quente.

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