Quando, a meio da manhã daquele dia 25 do mês de abril, lhe bateram à porta de casa aos gritos “Carlos, é a Revolução, é a Revolução!”, ele só pensou “estes gajos são da PIDE e isto falhou tudo, vêm-me prender”. Não acreditava que eram amigos que estavam a bater à porta. “E foi nessa espera que senti o chão a faltar-me debaixo dos pés. Preferia um pelotão da PIDE, era sinal que o movimento tinha resultado, agora deixarem-me assim no silêncio, sem saber nada, e aparecerem depois aos gritos a meio da manhã foi terrível. Só podia ser um embuste da PIDE. Naquela manhã, até as árvores a mexer me provocaram um pavor enorme”.
Para trás ficavam horas de angústia que se prolongavam desde a meia-noite, sem sinais de que o golpe militar a cuja génese tão estreitamente assistira, afinal resultara. Todas as combinações falharam, a começar pela promessa de que alguém a mando dos revoltosos o iria buscar, para o pôr a salvo. “Cheguei a ter preferido que o pelotão da PIDE ou da Polícia de Choque me tivesse preso, porque era sinal de que tinha acontecido o golpe, do que ter estado 2 ou 3 horas à espera da patrulha que me foi prometida pelo comando e não apareceu, nem me telefonaram, nada! Só às 10 da manhã, já com tudo nas ruas, e aos gritos”, recorda hoje Carlos Albino, 77 anos.
Além de uma noite não dormida, tinham sido dias de um certo entusiasmo revestido de angústia e incerteza, que começaram naquele dia 22 de março do mesmo ano em que se foi despedir do major Melo Antunes ao aeroporto – como outros oficiais insurretos, iria ser desterrado para os Açores, de castigo – e o graduado lhe disse bem baixinho que iria precisar dele em breve. “Vais ser contactado!”, afiançou o homem que meses mais tarde, revolução feita, lideraria um grupo moderado de militares em pleno olho do furacão – o Grupo dos Nove.Então com 28 anos de idade, o jovem Albino, jornalista do “República”, entrava de supetão na revolução sem saber como nem em que moldes. Os dias que se seguiram foram de uma es...
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