O Congresso do Iluminismo será “um momento de reflexão e de procura de soluções”

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Vila Real de Santo António (VRSA) acolhe esta semana (de quinta-feira até sábado) o Congresso Internacional de Cidades e Entidades do Iluminismo, uma iniciativa da Associação Internacional de Cidades e Entidades do Iluminismo (AICEI), que durante este ano está a ser presidida pelo município vila-realense. José Carlos Barros, vice-presidente e vereador da Cultura da Câmara Municipal de VRSA, falou-nos do congresso, da sua importância e explicou no que vai consistir esta iniciativa

Domingos Viegas

Jornal do Algarve – Qual a importância deste congresso para as cidades que possuem património “iluminista”?
José Carlos Barros – Uma das actividades mais importantes da associação é a preparação de um congresso anual, organizado por uma das cidades ou entidades associadas. Não se trata apenas de aproveitar este encontro para um maior conhecimento mútuo e para a divulgação dos respectivos valores patrimoniais: pretende-se que os congressos sejam momentos de avanço no conhecimento e de discussão científica, académica, das potencialidades e problemas com que nos confrontamos na valorização deste património. Por isso os congressos anuais são tão importantes. De resto, o valor do património iluminista que partilhamos pode ser entendido numa dupla perspectiva.

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J.A. – Como assim?
J.C.B. – Há o património que pode ser mais individualmente considerado – o de um museu, de um conjunto de edifícios ou do urbanismo de uma cidade, por exemplo; e um património mais alargado, visto numa perspectiva de conjunto. E esta perspectiva de conjunto acrescenta valor ao património individualmente considerado. Os congressos anuais são, pois, momentos em que procuramos o estabelecimento de redes, de lógicas de conjunto, de visões alargadas, de procura de caminhos comuns. O congresso deste ano, por sua vez, significa, em nosso entender, um avanço metodológico: depois de uma fase em que a preocupação central da associação era o conhecimento, identificação e divulgação do nossos património iluminista, o encontro de Vila Real de Santo António parte para a discussão dos problemas concretos que actualmente se colocam à reabilitação urbana dos centros históricos, num tempo em que a questão não se coloca apenas numa perspectiva cultural ou mesmo patrimonial, mas num plano económico e social, com reflexos directos na economia e na qualidade de vida das populações.

J.A. – …e para VRSA em particular?
J.C.B. –
Vila Real de Santo António concluiu o Plano de Salvaguarda do Núcleo Pombalino em 2008. Entre 2008 e 2010, no âmbito do Projecto REALCE, procedeu-se à reabilitação de um conjunto significativo de edifícios no centro histórico. No dia 13 de Maio de 2009 foi inaugurado o novo edifício da Casa da Câmara, num primeiro grande exemplo de intervenção patrimonial, em que a importância da reposição da métrica e da volumetria do projecto pombalino original ultrapassa em muito a intervenção arquitectónica específica: é como se a própria Praça é que fosse objecto da intervenção, numa cidade em que as partes não contam senão no entendimento de que fazem parte de um todo coerente. Ainda em 2009 procedeu-se à delimitação e aprovação da primeira Área de Reabilitação Urbana do país. Isto são apenas exemplos de uma dinâmica que existe actualmente em Vila Real de Santo António no âmbito da requalificação urbanística do núcleo pombalino e para o qual é preciso chamar a atenção, procurar parcerias, envolver os munícipes. Este congresso insere-se, pois, neste processo mais alargado de intervenções, e constituirá um momento marcante de reflexão, de procura de soluções e de envolvimento da comunidade.

J.A. – O que destacaria de entre os temas que estão previstos debater no congresso?
J.C.B. –
É difícil escolher. Mas talvez possa dizer que temos uma grande expectativa relativamente às comunicações de fundo de um conjunto de cidades que especificamente convidámos para o efeito, e com quem tivemos oportunidade de discutir os respectivos temas: planos, projectos, experiências concretas de reabilitação urbana e urbanística, reflexões sobre os desafios e as oportunidades que se colocam a este processo, questões sobre a paisagem urbana e a qualidade de vida nos centros históricos… Assim, e correndo o risco de ser injusto, realçaria as intervenções de Lisboa, Madrid, São Luís do Maranhão, Porto, Barcelona e Havana.

J.A. – O que é que representa para VRSA presidir à AICEI durante este ano e quais as ações levadas a cabo?
J.C.B. –
Desde logo o reconhecimento de toda a contribuição que temos vindo a dar para que a associação se consolide. Mas também procurando alarga-la a novos sócios (como vai suceder agora com a adesão de S. Luís de Maranhão) ou contribuindo para uma melhor adequação dos seus estatutos, cujo projecto vai ser aprovado em reunião de sócios que antecede o congresso. Ou ainda, por exemplo, impulsionando a criação de uma “Rota do Iluminismo” inserida no site da associação. Mas, claro, até pela sua dimensão e importância, realçaria a organização do Congresso Internacional.

J.A. – Que ideia lhe tem sido transmitida lá fora em relação ao património de Vila Real de Santo António? Sente que a sua importância é reconhecida?
J.C.B. –
Foi uma surpresa, ao longo destes anos, perceber o quanto o património iluminista de Vila Real de Santo António é conhecido e reconhecido lá fora. Trata-se, de facto, do reconhecimento da importância e da singularidade do projecto pombalino que representa um caso único no urbanismo do século das luzes. Às vezes falta-nos auto-estima: somos os últimos a valorizar o que nos pertence. Claro que talvez tudo fosse diferente se não tivesse havido uma obra fundadora a partir da qual foi possível olhar com outros olhos para Vila Real de Santo António: a tese de doutoramento do Professor Horta Correia, “Vila Real de Santo António, Urbanismo e Poder na Política Pombalina”.

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