O debate descarrilou

Neste momento, o Algarve e as muitas “sociedades” que o compõem (a sociedade civil, a militar, as quatro religiosas, a alentejana, a do besugo de Olhão, a da tainha de Portimão, a do fado da AMAL, a sociedade dos aproveitam tudo até ao tutano, a dos desconfiados anónimos, tantas, tantas sociedades que o Algarve tem e etc.) já deviam estar, escrevendo e falando a sério, a participar em alguns grandes debates sobre as questões essenciais para a região, desafiantes para a província e pesadelos para o distrito. Sabemos quais são essas tais questões pela importância que assumem por ocasião de eleições, sejam estas legislativas, autárquicas, ou meramente internas nos partidos. Embora os episódicos debates cheguem a ser intensos e ainda bem em liberdade, depois, acabada festa desarmam-se as igrejas e tudo volta à modorra.

Às questões tradicionais da nossa querida apatia, inesperadamente para uns tantos, junta-se agora uma outra – a do plano ferroviário. Ou talvez melhor dizendo, a dos planos ferroviários. E com tais planos, já se prometeu o metro de superfície para a área central do Algarve com as cinco cidades que a esboçam, ou talvez apenas duas porque o dinheiro se esgota depressa. Já se prometeu o TGV até Faro, e para ir mantendo viva a esperança lá vai avançando alguma eletrificação da via única até Vila Real de Santo António, sem se dizer se o invocado TGV inflete para Beja e adeus Algarve.

Assim sendo, o Alfa Pendular que é apenas duas vezes por dia a melhor esmola que o Algarve recebeu, e que além de andar a passo de caracol, tem em Faro o seu termo fronteiriço, porque fronteira é fronteira. O resto fica para os chamados Intercidades que não passam de meros vagões malcheirosos com gente lá dentro devido aquela água amarela a tender para o incolor e que força os passageiros ao uso obrigatório de máscara, enquanto sonham com a epidemia do TGV e desviam os olhos das janelas por onde escorre margarina Vaqueiro. E a partir de Tunes até Lagos, nem se deve falar. O ramal não merece. Não merece? Quem disse isso? Então não é verdade que um outro plano, esse já nacional, promete a criação de um sistema ferroviário ligeiro no Algarve, assente numa nova linha entre Faro e Portimão, junto ao litoral, que servirá o Aeroporto Gago Coutinho e as cidades de Quarteira e Albufeira, utilizando comboios tipo Tram, e com extensões de linha para Vila do Bispo e Loulé, que «tem a sua estação ferroviária bastante afastada», segundo o plano que é omisso sobre como se vai garantir a circulação dos inúmeros vagões para trasfega de combustíveis que abastecem os aviões a partir da estação de Loulé-Quarteira? Linha ligeira ou pensada com ligeireza? E onde fica a estação intermodal? Em Nenhures?

Diz o Governo que quer aproximar o Estado dos Municípios? Independentemente da formal e segundo parece inútil discussão pública, quais os municípios algarvios que foram ouvidos, para que tanto plano ferroviário, o europeu transfronteiriço, o nacional e o ligeiro-nacional sejam dados como adquiridos? Ou o debate descarrilou?

Flagrante verdade histórica: Por vontade própria, o túmulo de D. Paio Peres Correia está na catedral de Sevilha. Nem um ossinho deixou ficar no Algarve. É tarde para se lhe perguntar.

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